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ERIKA PALOMINO
O MELHOR E O PIOR DA SPFW DE INVERNO 2005
A 18ª edição da São Paulo Fashion Week, referente aos desfiles
de inverno de 2005, vai entrar para a história como a São Paulo
Fashion Week das massas. É que
pela primeira vez o evento realizou um antigo sonho do público:
colocou ingressos à venda. Não
para os desfiles, mas para uma
mostra de filmes sobre cultura
brasileira, cuja entrada dava direito a circular pelos corredores da
Bienal. Ainda que a organização
tenha divulgado o número oficial
de apenas 1.750 convites vendidos
ao longo de sete dias (média de
250 por dia), o número de pessoas
no evento era de 15 mil diariamente. É o equivalente a toda a cidade de Búzios presente num lugar só. A sensação é que o evento
pareceu mais cheio, em algumas
horas, lotado mesmo. O que dificultou em alguns momentos e tumultuou em outros.
Originalmente criado para ser
um evento voltado para o mercado (ou seja: mostrar para jornalistas e compradores as novas coleções), aos poucos a São Paulo Fa-
shion Week foi se tornando evento cultural, ação de marketing,
programa de fim de semana, lugar para paquera e até pista de
dança. Brasileiro transforma tudo
em festa e parece que com a moda
não poderia ser diferente.
Para os jornalistas, foi mais difícil trabalhar. Para o público também, já que muitos desses outsiders tentavam entrar nas salas de
desfile, conseguindo em algumas
vezes. O resultado disso é bagunça. Nas entradas dos desfiles havia
sempre gente demais e, lá dentro,
os mesmos bicões se aboletavam
nos lugares da imprensa, deixando quem tinha que estar sentado
com cara de tacho no meio da
passarela.
Outra mudança que não deu
certo neste ano: os convites tinham apenas a seção e a fila, não
eram mais numerados. Com isso,
os assessores perdiam o controle
dos assentos. Desse jeito, o evento
que é de fato relevante no planeta
perde em qualidade, sensação que
os apagões de energia do primeiro
dia contribuíram para reforçar.
Talvez seja o caso de os patrocinadores e lounges terem menos
convites para o público da próxima vez. E, se a idéia é fomentar a
cultura de moda no país, que tal
fazer com que as marcas ofereçam cotas para estudantes e faculdades de moda?
Com menos gente, será possível
focar melhor na essência da
SPFW: as roupas. Megacelebridades como Gisele e Daniella Cicarelli (mais do que Ricky Martin)
também distraíram a mídia, e a
histeria de público e fotos sobre as
duas complicaram os dias em que
estiveram presentes, tirando a
atenção e o espaço dado às coleções em si.
Essa foi uma longa e arrastada
SPFW. Foram 47 desfiles, medianos em sua maioria, com um line-up ingrato, em alguns dias. No
mercado internacional também é
assim: há marcas boas, mas há
bastante bobagem também. A
questão é a mídia já aprender a separar. Desfiles ruins derrubam a
energia dos fashionistas; marcas
comerciais, sem personalidade,
burocratizam o evento. Os estreantes desta edição trouxeram
pouca inovação e, em alguns casos, como já se previa, deixaram a
incômoda pergunta: o que essa
marca está fazendo aqui? É preciso acrescentar, não dispersar.
A SPFW de inverno 2005, entretanto, fortalece a cultura fashion
no Brasil e prova mais uma vez a
força desse mercado. O varejo retoma um certo otimismo e as coleções apresentadas deverão contribuir para fomentar o desejo e a
paixão pelo chamado império do
efêmero.
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