São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

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ERIKA PALOMINO

O MELHOR E O PIOR DA SPFW DE INVERNO 2005

A 18ª edição da São Paulo Fashion Week, referente aos desfiles de inverno de 2005, vai entrar para a história como a São Paulo Fashion Week das massas. É que pela primeira vez o evento realizou um antigo sonho do público: colocou ingressos à venda. Não para os desfiles, mas para uma mostra de filmes sobre cultura brasileira, cuja entrada dava direito a circular pelos corredores da Bienal. Ainda que a organização tenha divulgado o número oficial de apenas 1.750 convites vendidos ao longo de sete dias (média de 250 por dia), o número de pessoas no evento era de 15 mil diariamente. É o equivalente a toda a cidade de Búzios presente num lugar só. A sensação é que o evento pareceu mais cheio, em algumas horas, lotado mesmo. O que dificultou em alguns momentos e tumultuou em outros.
Originalmente criado para ser um evento voltado para o mercado (ou seja: mostrar para jornalistas e compradores as novas coleções), aos poucos a São Paulo Fa- shion Week foi se tornando evento cultural, ação de marketing, programa de fim de semana, lugar para paquera e até pista de dança. Brasileiro transforma tudo em festa e parece que com a moda não poderia ser diferente.
Para os jornalistas, foi mais difícil trabalhar. Para o público também, já que muitos desses outsiders tentavam entrar nas salas de desfile, conseguindo em algumas vezes. O resultado disso é bagunça. Nas entradas dos desfiles havia sempre gente demais e, lá dentro, os mesmos bicões se aboletavam nos lugares da imprensa, deixando quem tinha que estar sentado com cara de tacho no meio da passarela.
Outra mudança que não deu certo neste ano: os convites tinham apenas a seção e a fila, não eram mais numerados. Com isso, os assessores perdiam o controle dos assentos. Desse jeito, o evento que é de fato relevante no planeta perde em qualidade, sensação que os apagões de energia do primeiro dia contribuíram para reforçar.
Talvez seja o caso de os patrocinadores e lounges terem menos convites para o público da próxima vez. E, se a idéia é fomentar a cultura de moda no país, que tal fazer com que as marcas ofereçam cotas para estudantes e faculdades de moda?
Com menos gente, será possível focar melhor na essência da SPFW: as roupas. Megacelebridades como Gisele e Daniella Cicarelli (mais do que Ricky Martin) também distraíram a mídia, e a histeria de público e fotos sobre as duas complicaram os dias em que estiveram presentes, tirando a atenção e o espaço dado às coleções em si.
Essa foi uma longa e arrastada SPFW. Foram 47 desfiles, medianos em sua maioria, com um line-up ingrato, em alguns dias. No mercado internacional também é assim: há marcas boas, mas há bastante bobagem também. A questão é a mídia já aprender a separar. Desfiles ruins derrubam a energia dos fashionistas; marcas comerciais, sem personalidade, burocratizam o evento. Os estreantes desta edição trouxeram pouca inovação e, em alguns casos, como já se previa, deixaram a incômoda pergunta: o que essa marca está fazendo aqui? É preciso acrescentar, não dispersar.
A SPFW de inverno 2005, entretanto, fortalece a cultura fashion no Brasil e prova mais uma vez a força desse mercado. O varejo retoma um certo otimismo e as coleções apresentadas deverão contribuir para fomentar o desejo e a paixão pelo chamado império do efêmero.

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