São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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Música

Pacote de CDs apresenta raridades dos anos 70

Série inclui álbuns de Naná Vasconcelos, Erasmo Carlos e bandas de rock da década

Selo Museu do Disco, que homenageia a loja de discos homônima, recuperará 12 títulos, alguns deles nunca antes lançados em CD


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na década de 70, o então adolescente Valmir Zuzzi vivia tentando convencer seu pai a lhe dar dinheiro para comprar novidades de bandas nacionais e internacionais de rock e pop, que ele encontrava nas lojas especializadas de São Paulo.
"Se fosse para comprar uma camisa do Corinthians, ele dava o dinheiro na hora, mas para disco não. Eu ficava louco só de ver as capas dos LPs. Isso me marcou muito. Quando comecei a trabalhar, já nos anos 80, deixava meu salário inteiro nas lojas de discos", conta o paulista de Porto Ferreira, 46.
Essa obsessão musical acabou virando um pequeno negócio. Na década de 90, Zuzzi fundou o Rock Company, selo alternativo pelo qual lançou, pela primeira vez em CD, algumas preciosidades da MPB e do pop nacional, de Jards Macalé e Jorge Mautner a Raul Seixas e Sérgio Sampaio.
Agora ele finaliza a produção de outro pacote de raridades, que vai lançar por um novo selo, batizado de Museu do Disco, como "sincera homenagem" a uma das lojas que frequentou durante anos. Para isso se associou ao veterano Nazaré Avedissian, que dirige até hoje as duas lojas do Museu do Disco que restam na capital paulista.
"Para quem é comprador de discos das antigas, como eu, o Museu do Disco é uma referência", justifica Zuzzi, que convenceu o lojista a lançar com ele um pacote de 12 CDs que inclui álbuns raros de bandas nacionais de rock dos anos 70, como O Peso e A Bolha, além de preciosidades de Naná Vasconcelos, Jards Macalé, Jorge Mautner, Erasmo Carlos e Gerson King Combo.
"Quando ouviu esses nomes, o Nazaré não entendeu, demorou um pouco para cair a ficha. Agora ele está se divertindo", conta Zuzzi, que almoça há anos, todos os sábados, com ele. Graças a seus contatos nas grandes gravadoras, na década de 80, Avedissian conseguiu prensar com exclusividade para suas lojas LPs de astros do pop internacional.

Rock
Os primeiros lançamentos do selo Museu do Disco, ambos inéditos em CD, estão previstos para a última semana de fevereiro. "Em Busca do Tempo Perdido", único álbum da hoje obscura banda de rock-blues O Peso (formada por cearenses que se radicaram no Rio, em 1972), é o mais raro do pacote. A versão original em vinil era oferecida ontem, no site Mercado Livre, por R$ 250.
Outra raridade é "Nada no Escuro", álbum solo de Cézar de Mercês, guitarrista da lendária banda de rock progressivo O Terço, que exibiu diversas formações entre 1971 e 1982. A letra da faixa-título ("Não há nada no escuro que a gente não possa vencer juntos"), que Mercês assina em parceria com Luis Carlos Sá, é típica de um período em que até os músicos de rock se sentiam obrigados a alfinetar a ditadura que tentava amordaçar os artistas e os meios de comunicação do país.
Curiosamente, Mercês sugere, em texto que escreveu por ocasião do relançamento, que fazer um álbum por uma "major" do disco não era tão difícil naquela época. "No final dos anos 70, as coisas ainda aconteciam assim: um amigo assumia um cargo importante em algum lugar (uma gravadora, por exemplo). Logo o seu telefone tocava e um convite de trabalho surgia espontaneamente."
Em março saem mais dois álbuns inéditos em CD. Para os fãs da música instrumental brasileira, o cultuado "Amazonas" (1973) é uma joia preciosa. Nas oito faixas desse álbum, o percussionista e compositor pernambucano Naná Vasconcelos mistura sons de tambores e berimbau com palmas, gargalhadas e imitações de pássaros, mostrando como se pode criar uma obra-prima musical sem recorrer às palavras.
Além de "É Proibido Fumar", da banda de rock A Bolha, o Museu do Disco promete para os meses seguintes outras raridades dos anos 70, de Jards Macalé, Jorge Mautner e Erasmo Carlos. "Estamos esperando as liberações dos direitos, mas, com certeza, vem mais no segundo semestre", diz Zuzzi.


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