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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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CRÍTICA

CD vai do pop sublime à melancolia sublime

DA REPORTAGEM LOCAL

Assim que você colocar as mãos em "Turn on the Bright Lights", reserve, para começar, uns 20 minutos do seu tempo. Quando o disco iniciar seu giro, entrará a sequência de cinco músicas mais inspiradas do pop nos últimos anos que um álbum só pode conter.
O que o tão sensacional quanto novo Interpol oferece nas cinco primeiras faixas é um resgate da sonoridade melancólica que o pop inglês produziu no começo dos anos 80, depois que percebeu que a anarquia punk tinha acabado. E o que tinha restado era um sentimento de futuro incerto.
Isso tudo embalado a cheiro de novo, moderno, combinação que faz do Interpol uma das principais bandas surgidas recentemente no Brooklyn (não é pouca coisa). Em Nova York (não é pouca coisa). No planeta pop.
Um diálogo de guitarras faz o prelúdio da faixa um, "Untitled" (Sem título). O clima é de solidão. O baixo e a bateria demoram a vir, mas vêm, e o que gelava a espinha era só uma canção pop esperando um vocal que trouxesse um alento. E Paul Banks vem e logo canta, como se estivesse em um túnel ecoando "I will surprise you sometimes" (vou te surpreender algumas vezes) repetidamente. As guitarras sobrepostas ganham um tom acima. A canção desacelera e acaba.
Ian McCulloch, ou melhor, Paul Banks, volta em "Obstacle 1" (Obstáculo 1). O clima soturno remete mesmo à sombria e feia Manchester de 1981, mas as canções foram feitas na NYC pré-atentado. As letras, no metrô, no caminho para a faculdade. No máximo a desolação era causada pelo inverno. "NYC" é ainda mais lenta e mais linda. Até chegar "PDA", o hit da banda, uma das melhores músicas do rock deste breve século, seja na letra, na melodia, no baixo pulsante à la New Order, na bateria repetida e rápida. "Você é tão linda quando você está triste, querida", canta Banks. É o máximo de tristeza a que uma canção pop pode chegar.
Diz a lenda que um dos donos da Matador Records estava em uma festa em Nova York e ouviu "PDA" pela primeira vez, que já circulava em cópia demo.
Foi perguntar de quem era a música e descobriu que a banda autora não tinha nem contrato assinado. Saiu da festa e foi à casa do guitarrista Daniel Kessler, convidá-lo para entrar para a Matador. (LÚCIO RIBEIRO)


Turn on the Bright Lights    
Artista: Interpol
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 25, em média



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