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CRÍTICA
CD vai do pop sublime à melancolia sublime
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim que você colocar as
mãos em "Turn on the
Bright Lights", reserve, para começar, uns 20 minutos do seu
tempo. Quando o disco iniciar seu
giro, entrará a sequência de cinco
músicas mais inspiradas do pop
nos últimos anos que um álbum
só pode conter.
O que o tão sensacional quanto
novo Interpol oferece nas cinco
primeiras faixas é um resgate da
sonoridade melancólica que o
pop inglês produziu no começo
dos anos 80, depois que percebeu
que a anarquia punk tinha acabado. E o que tinha restado era um
sentimento de futuro incerto.
Isso tudo embalado a cheiro de
novo, moderno, combinação que
faz do Interpol uma das principais bandas surgidas recentemente no Brooklyn (não é pouca coisa). Em Nova York (não é pouca
coisa). No planeta pop.
Um diálogo de guitarras faz o
prelúdio da faixa um, "Untitled"
(Sem título). O clima é de solidão.
O baixo e a bateria demoram a vir,
mas vêm, e o que gelava a espinha
era só uma canção pop esperando
um vocal que trouxesse um alento. E Paul Banks vem e logo canta,
como se estivesse em um túnel
ecoando "I will surprise you sometimes" (vou te surpreender algumas vezes) repetidamente. As
guitarras sobrepostas ganham
um tom acima. A canção desacelera e acaba.
Ian McCulloch, ou melhor, Paul
Banks, volta em "Obstacle 1"
(Obstáculo 1). O clima soturno remete mesmo à sombria e feia
Manchester de 1981, mas as canções foram feitas na NYC pré-atentado. As letras, no metrô, no
caminho para a faculdade. No
máximo a desolação era causada
pelo inverno. "NYC" é ainda mais
lenta e mais linda. Até chegar
"PDA", o hit da banda, uma das
melhores músicas do rock deste
breve século, seja na letra, na melodia, no baixo pulsante à la New
Order, na bateria repetida e rápida. "Você é tão linda quando você
está triste, querida", canta Banks.
É o máximo de tristeza a que uma
canção pop pode chegar.
Diz a lenda que um dos donos
da Matador Records estava em
uma festa em Nova York e ouviu
"PDA" pela primeira vez, que já
circulava em cópia demo.
Foi perguntar de quem era a
música e descobriu que a banda
autora não tinha nem contrato assinado. Saiu da festa e foi à casa do
guitarrista Daniel Kessler, convidá-lo para entrar para a Matador.
(LÚCIO RIBEIRO)
Turn on the Bright Lights
Artista: Interpol
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 25, em média
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