UOL


São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"BANDA DE IPANEMA"

Produção hesita entre história e folia

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

A Banda de Ipanema, criada em 1965, teve grande importância na história cultural do Rio. Foi uma das primeiras iniciativas da classe média da zona sul de organizar um Carnaval democrático de rua, numa ponte entre a elite e a cultura popular dos morros.
Surgida sob o regime militar, a banda se tornou foco e símbolo de resistência, não apenas no plano político (era "o braço armado da esquerda festiva", segundo Ruy Castro), mas também no dos costumes e da sexualidade.
O documentário "Banda de Ipanema" hesita entre o registro dessa história e a homenagem algo redundante ao principal líder da banda, Albino Pinheiro.
Paulo Cezar Saraceni, autor de clássicos do Cinema Novo como "Porto das Caixas" e "O Desafio", filmou o desfile da banda no Carnaval de 2000, o primeiro depois da morte de Pinheiro, e colheu depoimentos sobre ele. Dominam a primeira meia hora discursos laudatórios e nostálgicos, dados por famosos e anônimos sessentões, todos devidamente bêbados.
Depois desse início tedioso como um filme doméstico de aniversário, o documentário cresce, com as imagens do desfile em si -milhares de foliões se esparramando pelas ruas de Ipanema- e algum material de arquivo.
Há entrevistas do próprio Pinheiro, que se revela um homem inteligente e encantador, participações de figuras como Leila Diniz, Pixinguinha e Tom Jobim em desfiles passados, uma entrevista de Zé Keti ao próprio Pinheiro e até um gol antológico de Rivellino para o Fluminense.
Tudo isso, se bem editado, poderia configurar uma celebração da vocação dionisíaca do Rio (ou pelo menos da imagem do Rio que vingou pelo mundo afora).
Do modo autocomplacente como o material foi organizado, o que sobressai é outro traço típico de um certo carioquismo: a cultura paroquial de patota de botequim, voltada para o próprio umbigo, como se o mundo começasse e acabasse em Ipanema.
Saraceni criou a definição do Cinema Novo: "Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça". "Banda" é uma câmera na mão e um copo de chope na outra.


Banda de Ipanema  
Produção: Brasil, 2002
Direção: Paulo Cezar Saraceni
Onde: a partir de hoje no Espaço Unibanco 4



Texto Anterior: Crítica: Longa de boas intenções perde o caminho
Próximo Texto: Panorâmica - Música: Membro do Massive Attack é suspeito de pedofilia
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.