São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Rindo da velhice, Iglesias vem ao Brasil

Artista estrangeiro que mais álbuns vendeu no país, cantor espanhol fará apresentações em nove cidades a partir de sábado

Shows têm hits do cantor, como "Hey" e "Canto à Galícia", misturados com clássicos da música romântica internacional

Stephane de Sakutin - 28.jun.07/France Presse
O cantor espanhol Julio Iglesias posa para fotos durante entrevista realizada em Paris para lançar o CD "Romantic Classics"

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A PUNTA DEL ESTE

Pergunte a Julio Iglesias, ídolo-mor da música romântica, o que significa para ele "o amor" hoje, 40 anos depois de ter começado a cantá-lo. "Para mim está tudo igual. Da cintura para cima, eu sou o mesmo."
Respostas como esta certamente fariam corar suas fãs mais tradicionais -algumas que até devem ter passado décadas esperando um príncipe encantado ao som de sua voz. Mas é só em sexo -e na dificuldade de fazê-lo com o passar dos anos- que pensa o cantor.
Nas entrevistas, nos bastidores dos shows e mesmo durante os espetáculos, inevitavelmente, Iglesias acaba voltando ao assunto, sempre com piadinhas ou comentários "safados".
Aos 64, o cantor espanhol, um dos artistas mais famosos do mundo e que já vendeu mais de 250 milhões de álbuns até hoje, chega ao Brasil para uma série de shows em nove cidades. As apresentações fazem parte da turnê internacional que o cantor iniciou em 2007, mas que só agora chega à América Latina.
No último fim de semana, a Folha acompanhou o concerto realizado em Punta del Este, no Uruguai, e falou com o artista.
Entre uma música e outra, ele brincou: "Não tomo Viagra, mas estou experimentando um aparelho chinês que está aqui [abre o terno e aponta para a cintura] que me disseram que funciona". Depois, ao ver as dançarinas em ação: "Que inveja tenho dos meus filhos. O que eu poderia fazer com essas moças com a energia deles".
Tasca um beijo na boca de uma delas, e o público de quase 5.000 pessoas que lota o auditório ao ar livre do badalado hotel-cassino Conrad vem abaixo.
O repertório do show reúne suas canções mais famosas -como "Hey", "La Carretera", "Abrázame" e "Um Canto à Galícia"-, além de hits românticos "de todos os tempos". O cantor mostra-se cansado.
Não se movimenta muito pelo palco e se apóia sempre ou num banquinho ou num dos praticáveis onde ficam os músicos. Logo atrás dele, o tradicional trio de belas backing vocals canta e faz coreografias.
No geral, o show é bastante "low profile", e não se assemelha em nada, por exemplo, aos superbem produzidos concertos de Roberto Carlos.

A voz
A voz de Iglesias, porém, segue imponente e vigorosa, não desapontando em nada a platéia composta de casais de idosos e de mulheres de todas as idades que gritam seu nome e agitam cartazes.
Antes de introduzir o tango "A Media Luz", Iglesias diz: "Muitas mulheres que estão aqui nesta noite vão ficar grávidas se dançarem com seus parceiros assim [e aponta para o casal de bailarinos de tango que sobe ao palco] e depois fizerem amor loucamente. Vejam só esses dois, é como se estivessem fazendo sexo verticalmente".
O cantor manda um recado a uruguaios, brasileiros e argentinos -que predominam entre os espectadores. "Esses países foram formados por imigrantes. Gente que deixou seu país para construir com dificuldade algo novo aqui. Gente que deixou as mulheres e os filhos por causa de um sonho. Agora eu digo: vocês não têm o direito de voltar atrás. Vocês têm que continuar o que eles fizeram."
O espetáculo acaba com "Can't Help Falling in Love", de Elvis Presley. Iglesias canta pausadamente e faz mímicas de acordo com a letra: "Take my hand [aperta as próprias mãos]", e assim por diante.
Antes de sair de cena, sem fazer bis, conta que vai pegar um avião naquela mesma noite e voar para a República Dominicana. Ali, na costa paradisíaca de Punta Cana, Iglesias construiu a mansão onde vive quando não está nos EUA trabalhando. Desculpa-se com o público local: "Eu conheço Punta del Leste muito bem. Se minha vida sexual não tivesse diminuído tanto, eu ficaria aqui esta noite. Mas, como as coisas já não são como antes, vou pegar um avião e voltar para casa, ficar com meus filhos".

Campeão de vendas
Julio Iglesias é o artista estrangeiro que mais vendeu discos no Brasil, cerca de 23 milhões de cópias. Para os shows aqui, vai escolher algumas das muitas versões de suas músicas para o português. O espetáculo deve ter 30% ou 40% do repertório nesse idioma.
"Eu tinha medo de já não ser mais tão famoso na América Latina porque faz tempo que não canto aqui. Mas as platéias têm sido fantásticas, é como se uma nova chama tivesse acendido. E o Brasil é muito especial para mim, saber que os shows estão já praticamente lotados é uma imensa alegria."
Iglesias diz que sua afinidade com o país e a língua portuguesa vem de suas raízes, por causa de seu pai, que era galego.
"O que eu mais gosto do Brasil é a harmonia que transmite sua música e o modo como a expressam as pessoas. Trata-se de um país privilegiado. É maravilhoso ver como o Nordeste, por exemplo, empobrecido por séculos, pode despertar com uma música apaixonante, que faz com que as pessoas esqueçam seus problemas."
Para Iglesias, no Brasil a arte popular tem status diferente do que em outros lugares pelo mundo. "Normalmente se diz por aí que a música popular é uma arte menor. No Brasil, isso está invertido. A música popular é a arte que consegue fazer com que as pessoas possam lidar com a nostalgia, com as recordações de momentos bonitos e enfrentarem o medo ou a falta de esperanças."

Roberto Carlos
Parceiro do cantor Roberto Carlos no passado, Iglesias diz que conversa com o amigo brasileiro com freqüência e que deve encontrá-lo aqui.
"Nós temos várias coisas em comum, não só artisticamente.
Quando ele perdeu a mulher, conversamos muito sobre o sofrimento, sobre a saudade. Estou feliz por saber que ele está bem novamente e quero muito revê-lo", afirma o músico.
Outra ligação com o Brasil Iglesias mantém ao acompanhar seu time de coração, o Real Madrid. O cantor jogou no clube como goleiro até sofrer um grave acidente automobilístico, em 1963. Hoje segue torcendo pelo time e admira os jogadores brasileiros que por ele têm passado.
"O Real sempre foi o melhor anfitrião do futebol brasileiro na Europa", diz o fã de Robinho nos dias de hoje e de Didi, que no final dos anos 50 foi jogar no time madrileno ao lado dos ícones Di Stefano e Puskas.
"Robinho é excelente. Está sem jogar há duas semanas e o time já sente. Tenho carinho pelo Ronaldo, fiquei muito chateado ao saber que ele pode parar de jogar por causa da contusão."

Novos tempos
Apesar de representar um estilo datado de romantismo, Iglesias acha que este segue presente com a mesma intensidade nos gêneros contemporâneos. "Hoje há uma maneira diferente de dizer as coisas, há outros verbos e uma forma mais direta de falar dos sentimentos. Mas o amor segue existindo da mesma forma."


A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da Hit's Produtora.


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