São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009

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Palcos vivem "febre" de Jorge Amado

Buenos Aires, Nova York e São Paulo têm montagens de obras do escritor em cartaz ou prestes a estrear

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

A literatura de Jorge Amado (1912-2001) já serviu de matéria-prima a novelas de sucesso (vide "Gabriela", em 75, e "Tieta", em 89/90) e ao filme recordista de público do cinema nacional ("Dona Flor e Seus Dois Maridos", de 76).
O teatro tampouco demorou a descobrir os préstimos da prosa do baiano, como atestam as inúmeras montagens de "Capitães da Areia" pelo país e a adaptação para a Broadway, já em 79, de "Dona Flor" (apresentada por lá como "Saravá").
Agora, entretanto, parece haver nos palcos uma febre amadiana. "Tieta do Agreste" é relido em chave musical na capital paulista. Dona Flor, que conhecemos saindo pelas ruas de Salvador de braços dados com o malandro Vadinho e o sistemático Teodoro, agora desfila sua união heterodoxa por Buenos Aires, Nova York e, em breve, São Paulo: há montagens em cartaz (ou prestes a entrar) nas três cidades.
Com 19 atores em cena, "Tieta do Agreste - O Musical" narra a volta da personagem-título (Tania Alves) à sua cidade natal, na Bahia, depois de ser expulsa de casa pelo pai e fazer fortuna em São Paulo:
"Jorge Amado é musical. A prosa dele já tem ritmo, métrica e, em muitos casos, rima", diz a diretora Christina Trevisan, 53, também responsável pela adaptação, justificando a escolha do gênero.
No teatro Brigadeiro, famílias e excursões de idosos vindas do interior misturam-se na plateia. Daí a preocupação de Trevisan em "manter a elegância" -Tieta, é bom lembrar, envolve-se com o sobrinho. "Mesmo sendo descarado, Jorge é elegante: jamais leva a sensualidade ao vulgar. Ela vem ligada às forças da natureza. Tudo é mais sensorial do que sexual."
O que não dispensa cenas de nudez, nas palavras da diretora, "muito bonitas, com luz linda, que não agridem".
Pedro Vasconcellos, 35, diretor da montagem carioca de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" que estreia em São Paulo em março, pensa diferente. "Não dá para ficar tendo pudor, senão a leitura fica equivocada." A preparação do espetáculo envolveu conversas com Zélia Gattai (1916-2008): "Ela falou: "Olha, nunca vi o Vadinho de pinto para fora, como tem de ser. Pela recomendação dela, deveria ser muito mais; a gente segurou um pouco para não ficar tão escancarado", conta ele.
Vasconcellos diz que se interessou em levar à cena a história por ser aquela "em que o Jorge menos carrega na viagem pela Bahia": "O passeio pela alma dos personagens aqui é bem mais forte. Ele se torna mais universal por conta disso".
Entretanto, ele pediu ao elenco que frequentasse aulas de prosódia (sotaque). Mas insiste: "A trama podia se passar na Bahia, no Rio ou em São Paulo. O Vadinho podia morrer no meio de uma parada gay".

Flor portenha
A obra de Jorge Amado também ganhou uma adaptação na Argentina, na avenida Corrientes, a "Broadway" portenha.
Transposta ao universo da comédia musical, a montagem incorpora ao original figuras que agem como consciência dos personagens, como a "Vida", a "Morte" e um "autor" que intervém nas cenas.
Quem encarna Flor é Emme, 26, que começou a carreira como cantora pop e se notabilizou após posar para a "Playboy" local em 2006. A Bahia retratada se atém aos clichês dos turbantes afro-brasileiros e dos vestidos florais.


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