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Palcos vivem "febre" de Jorge Amado
Buenos Aires, Nova York e São Paulo têm montagens de obras do escritor em cartaz ou prestes a estrear
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
A literatura de Jorge Amado
(1912-2001) já serviu de matéria-prima a novelas de sucesso
(vide "Gabriela", em 75, e "Tieta", em 89/90) e ao filme recordista de público do cinema nacional ("Dona Flor e Seus Dois
Maridos", de 76).
O teatro tampouco demorou
a descobrir os préstimos da
prosa do baiano, como atestam
as inúmeras montagens de
"Capitães da Areia" pelo país e
a adaptação para a Broadway, já
em 79, de "Dona Flor" (apresentada por lá como "Saravá").
Agora, entretanto, parece haver nos palcos uma febre amadiana. "Tieta do Agreste" é relido em chave musical na capital
paulista. Dona Flor, que conhecemos saindo pelas ruas de Salvador de braços dados com o
malandro Vadinho e o sistemático Teodoro, agora desfila sua
união heterodoxa por Buenos
Aires, Nova York e, em breve,
São Paulo: há montagens em
cartaz (ou prestes a entrar) nas
três cidades.
Com 19 atores em cena, "Tieta do Agreste - O Musical" narra a volta da personagem-título
(Tania Alves) à sua cidade natal, na Bahia, depois de ser expulsa de casa pelo pai e fazer
fortuna em São Paulo:
"Jorge Amado é musical. A
prosa dele já tem ritmo, métrica e, em muitos casos, rima",
diz a diretora Christina Trevisan, 53, também responsável
pela adaptação, justificando a
escolha do gênero.
No teatro Brigadeiro, famílias e excursões de idosos vindas do interior misturam-se na
plateia. Daí a preocupação de
Trevisan em "manter a elegância" -Tieta, é bom lembrar, envolve-se com o sobrinho. "Mesmo sendo descarado, Jorge é
elegante: jamais leva a sensualidade ao vulgar. Ela vem ligada
às forças da natureza. Tudo é
mais sensorial do que sexual."
O que não dispensa cenas de
nudez, nas palavras da diretora,
"muito bonitas, com luz linda,
que não agridem".
Pedro Vasconcellos, 35, diretor da montagem carioca de
"Dona Flor e Seus Dois Maridos" que estreia em São Paulo
em março, pensa diferente.
"Não dá para ficar tendo pudor,
senão a leitura fica equivocada." A preparação do espetáculo envolveu conversas com Zélia Gattai (1916-2008): "Ela falou: "Olha, nunca vi o Vadinho
de pinto para fora, como tem de
ser. Pela recomendação dela,
deveria ser muito mais; a gente
segurou um pouco para não ficar tão escancarado", conta ele.
Vasconcellos diz que se interessou em levar à cena a história por ser aquela "em que o
Jorge menos carrega na viagem
pela Bahia": "O passeio pela alma dos personagens aqui é bem
mais forte. Ele se torna mais
universal por conta disso".
Entretanto, ele pediu ao
elenco que frequentasse aulas
de prosódia (sotaque). Mas insiste: "A trama podia se passar
na Bahia, no Rio ou em São
Paulo. O Vadinho podia morrer
no meio de uma parada gay".
Flor portenha
A obra de Jorge Amado também ganhou uma adaptação na
Argentina, na avenida Corrientes, a "Broadway" portenha.
Transposta ao universo da
comédia musical, a montagem
incorpora ao original figuras
que agem como consciência
dos personagens, como a "Vida", a "Morte" e um "autor" que
intervém nas cenas.
Quem encarna Flor é Emme,
26, que começou a carreira como cantora pop e se notabilizou após posar para a "Playboy" local em 2006. A Bahia retratada se atém aos clichês dos
turbantes afro-brasileiros e dos
vestidos florais.
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