São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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Levaram o público

Em nove anos, as grandes redes de TV perderam para DVDs e games o equivalente ao público de um canal

LAURA MATTOS
RODRIGO RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Globo, Record, SBT, Band e Rede TV!, que se digladiam por ibope, enfrentam um inimigo comum que explodiu em audiência de 2005 para cá.
Dados do Ibope obtidos pela Folha revelam que o número de domicílios no país com televisores sintonizados em DVDs, videogames e outros aparelhos cresceu 125% no período. A explosão se refere à faixa noturna (das 18h à 0h), a mais importante para os anunciantes.
Em 2005, a audiência dos DVDs, games etc. foi de 1,6 ponto. Em 2009, saltou para 3,6, o equivalente a 1,92 milhão de domicílios. É mais do que obtiveram Band (3,4) e Rede TV! (2,1) e mais da metade do SBT (6,3), a terceira maior em 2009.
De 2001 a 2009, o número de telespectadores de canais fechados e emissoras menores (como públicas, MTV e Record News) também cresceu e passou de 4,9 para 5,6 pontos.
Nesse período, as cinco grandes redes juntas perderam 4,3 pontos de audiência. É importante ressaltar que o número de televisores ligados no país sofreu pouca alteração -de 58,8 pontos em 2001 para 57,7 em 2009. A oscilação entre cada ano mostra que os brasileiros não estão desligando os televisores no horário nobre -em 2005 e 2006 houve até aumento do número de ligados. Estão, sim, mudando a forma de uso.
Questionado sobre o levantamento realizado pela Folha, Antonio Ricardo Ferreira, diretor executivo do Ibope, comentou que as mudanças são "características de uma sociedade que busca novidades".
A economia do país (especialmente o crescimento da classe C e seu aumento de renda) está diretamente relacionada ao novo cenário. "Hoje mais brasileiros têm acesso a bens de consumo que, até pouco tempo atrás, eram acessíveis só às classes mais altas", analisa o publicitário Adrian Ferguson, vice-presidente de mídia da agência Fischer+Fala!.
O hábito de se sentar no sofá e trocar de canais à mercê da programação das emissoras caminha para a extinção, na opinião de Alexandre Annenberg, presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura.
"O telespectador deixa de ser passivo. Na TV aberta, apesar da TV digital, não houve aumento da interação com o público. A nova geração nasceu com o mouse na mão e quer escolher o quê e quando ver."
É o paraíso para o mercado de DVDs, legal e pirata. "O público prefere o conforto de ver filmes quando e quantas vezes quiser", diz Tânia Lima, diretora-executiva da União Brasileira de Vídeo, segundo a qual foram vendidas 25,4 milhões de unidades de DVD e Blu-ray em 2009, contra 5,9 milhões de DVDs e VHSs em 2001.
Renata Gomes, professora e pesquisadora de novas mídias do Senac, cujo doutorado na PUC-SP é sobre videogames, diz que o levantamento da Folha confirma sua percepção. "Os games são a matriz principal do que essa geração entende como imagem e narrativa."
Ela ressalta, contudo, que por mais que "a hegemonia da TV aberta esteja em xeque", seu alcance ainda impressiona. "Pelas mensagens que recebi na internet e no celular na última terça, parecia ser a única no país que não estava vendo a votação do "Big Brother'", ilustra.
Na mesma linha, Eugênio Bucci, professor de jornalismo da USP, destaca que os jovens, apesar de utilizarem cada vez mais o computador, consomem na internet principalmente o conteúdo produzido pelas redes de TV. "Essa resistência dos canais abertos no Brasil é o dado mais chamativo", avalia.

O que as redes dizem
Sobre o levantamento da Folha, a Globo afirmou que "não se pode dizer que os telespectadores estão deixando a emissora para migrar para outros aparelhos ou TV paga e canais menores". A Record disse que está atenta à tendência e por isso exibe programas da TV paga, como "House" e "Aprendiz".
A Rede TV! declarou querer "crescer entendendo a mudança e não a reprimindo", a Band, que está "atenta, mas é preciso esperar para observar melhor" e o SBT não comentou.


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