São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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Crise compromete qualidade, diz diretor

DE BUENOS AIRES

"Não é possível separar o Colón da estrutura social da Argentina. Os problemas que temos no país também vivemos aqui", diz o músico Pedro Pablo García Caffi, diretor-geral e artístico do teatro.
No comando da instituição há dois anos, Caffi reconhece a defasagem salarial, diz que os problemas se arrastam há vários anos e que a crise derrubou até a qualidade de suas peças.
O Teatro Colón é um dos poucos no mundo que produz os próprios espetáculos. Há músicos para duas orquestras, coral, técnicos de cenografia e palco.
Os salários estão defasados, conforme admite o teatro, desde pelo menos 1996. A situação tornou-se insustentável no ano passado, quando o Teatro Argentino de La Plata, o segundo do país, anunciou aumento que deixou o rendimento médio do Colón (cerca de R$ 2.550) duas vezes menor.
A crise aberta pela reivindicação salarial levou à suspensão de 25 dos 186 espetáculos previstos para 2010.
"Como não pagamos um bom salário, trabalha-se menos. A consequência é que o teatro produz a metade do que deveria", afirma Caffi. Quase todos artistas, que são maioria (500 dos 925 funcionários) na casa, têm outra ocupação além do Colón.
Em férias desde dezembro, o teatro funcionou parcialmente em janeiro e fevereiro, com os setores de cenografia e administração abertos.
A principal queixa de Pedro Pablo Caffi é a atuação política da ATE contra o prefeito da capital, Mauricio Macri. "Essa luta não tem nada a ver com a questão cultural e artística, são só brigas políticas", afirma ele.
A relação dos sindicatos é complexa. A ATE é filiada à CTA (Central dos Trabalhadores Argentinos), não reconhecida oficialmente pelo governo Cristina Kirchner, que é fechado e atua -com o repasse de verbas federais- junto à CGT (Confederação Geral do Trabalho), responsável pelo Sutecba.
Como aliado do governo federal, o Sutecba, em tese, seria o maior interessado na briga política para desgastar o opositor Mauricio Macri.
Carlos Flores, 63, cantor do coral do Colón há 30 anos e membro da ATE, diz que o maior entrave para a negociação é a ação judicial. "Essa é uma medida improcedente na história sindical de nosso país". A prefeitura de Buenos Aires garante que não vai suspendê-la.
A ação cobra 11 milhões de pesos dos prejuízos do ano passado (R$ 4,7 mi) e 44 milhões de pesos (R$ 18,9 mi) de eventuais danos que possam haver nesta temporada.
Na última sexta, por causa da crise, o teatro cancelou a apresentação que haveria na quarta para divulgar a programação de 2011. Se houver acordo com os sindicatos, o teatro será aberto no dia 29 de março com a ópera "Le Grand Macabre", do grupo catalão La Fura dels Baus. (LF)


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