|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
O proprietário André Millan, que retorna a antigo espaço, quer discutir a relação marchand-artista
Galeria Millan fecha e questiona mercado
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
A galeria Millan fechou. A má
notícia para o mercado de arte
provoca, além de desgosto entre
artistas e frequentadores do espaço, um questionamento.
Qual o papel do marchand em
um mercado que, embora em
constante crescimento e reconhecimento internacional como o
brasileiro, também se mostra incipiente para a manutenção de artistas, galeristas, funcionários e toda
a estrutura que gravita em torno
desses espaços de arte?
``Estou repensando a relação
marchand-artista. Eu não estava
satisfeito com o trabalho desenvolvido na galeria e acho que nem
os artistas estavam. A galeria está
virando um espaço arcaico'', disse
Millan, que agora mantém um escritório para agenciar alguns dos
artistas de sua galeria no mesmo
bairro de Pinheiros (leia texto e
quadro nesta página).
O galerista Marcantonio Vilaça,
da Camargo Vilaça, discorda da falência da relação. ``A relação artista-galerista mudou no início dos
anos 90, e quem não acompanhou,
dançou. O artista contemporâneo
não precisa de um `marchand de
tableau'. Ele precisa de alguém que
concilie as funções de agente e galerista'', disse.
Segundo Vilaça, isso implica em
um trabalho muito maior, que
compreende desde a introdução
do artista em manifestações internacionais até a própria produção
da obra (não em sua concepção,
obviamente).
Esse acompanhamento do artista também é, segundo o galerista
carioca Thomas Cohn, um dos fatores de manutenção de frutífera
relação entre galerista e artista.
``Frequento constantemente os
ateliês dos artistas para ver o desenvolvimento do trabalho de cada um. Prefiro trabalhar com poucos artistas, mas acompanhá-los
todos'', disse.
Ricardo Trevisan, galerista da
Casa Triângulo, também acredita
na viabilidade da galeria. ``A relação artista-galeria é uma relação
de dependência e está mais sadia
que nunca. A galeria é viável, mas é
preciso também encontrar saídas
para a viabilização do artista em
momentos de crise'', disse.
Luisa Strina, da galeria homônima, também acredita no vigor da
instituição ``galeria''. ``A relação
nunca esteve tão forte. O trabalho
realizado em feiras e mostras é que
viabiliza o artista'', disse.
Segundo André Millan, que atua
no mercado há 15 anos, sua preocupação futura será otimizar seu
tempo e seus esforços e fortalecer
um mercado de arte contemporânea ainda sem liquidez. ``Com
uma galeria aberta perde-se muito
tempo com coisas desnecessárias.''
A galeria Millan funcionou por
três anos no espaço da r. Francisco
Leitão, em Pinheiros. No ano passado, organizou mostras de Renata Padovan de Barros, Fernando
Zarif, José Zaragoza e Ana Maria
Tavares, entre outros.
Agenciamento
``As galerias não vivem das exposições, mas dos acervos. Grande
parte dos frequentadores das vernissages são artistas, e não colecionadores'', disse Millan.
Raquel Arnaud concorda. ``A
galeria é muito dispendiosa. Embora eu tenha vínculos muito fortes com meus artistas, alguns até
mortos, penso que terei que fazer
menos exposições. Pouco a pouco,
as galerias estão sendo ultrapassadas'', disse. Arnaud tem em seu
cast nomes como Waltercio Caldas e Anna Maria Maiolino.
A galerista também acredita na
viabilidade de um agente de arte
que organize mostras de seus artistas em vários espaços. É o que também quer o carioca Paulo Fernandes. ``Estou pensando em como tirar meus artistas de dentro da galeria'', disse recentemente à Folha.
Já Regina Boni, da galeria São
Paulo, afirma que suas mostras cobrem os custos, mas que não vê a
comercialização da obra como
único papel da galeria. ``A mostra
funciona como um evento cultural
e promocional para a galeria.''
Em vez de diminuir o número de
mostras, Boni preferiu, por exemplo, abrir mão de contratos de exclusividade total com seus artistas.
``Também fazia catálogos de US$
15 mil. Hoje não posso mais''.
Segundo boa parte dos galeristas
brasileiros, a globalização também
é a saída para o artista nacional.
``O mundo inteiro está interessado em nossos artistas e não podemos ficar apenas dentro da galeria'', disse Raquel Arnaud.
Segundo Marcantonio Vilaça,
esse fluxo internacional fica facilitado quando se é ``galeria-mãe'' (a
galeria principal do artista) de artistas importantes. ``Fica mais fácil negociar, pois possibilita um
melhor intercâmbio com as instituições internacionais'', disse.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|