São Paulo, sexta, 28 de março de 1997.

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ARTES PLÁSTICAS
O proprietário André Millan, que retorna a antigo espaço, quer discutir a relação marchand-artista
Galeria Millan fecha e questiona mercado

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

A galeria Millan fechou. A má notícia para o mercado de arte provoca, além de desgosto entre artistas e frequentadores do espaço, um questionamento.
Qual o papel do marchand em um mercado que, embora em constante crescimento e reconhecimento internacional como o brasileiro, também se mostra incipiente para a manutenção de artistas, galeristas, funcionários e toda a estrutura que gravita em torno desses espaços de arte?
``Estou repensando a relação marchand-artista. Eu não estava satisfeito com o trabalho desenvolvido na galeria e acho que nem os artistas estavam. A galeria está virando um espaço arcaico'', disse Millan, que agora mantém um escritório para agenciar alguns dos artistas de sua galeria no mesmo bairro de Pinheiros (leia texto e quadro nesta página).
O galerista Marcantonio Vilaça, da Camargo Vilaça, discorda da falência da relação. ``A relação artista-galerista mudou no início dos anos 90, e quem não acompanhou, dançou. O artista contemporâneo não precisa de um `marchand de tableau'. Ele precisa de alguém que concilie as funções de agente e galerista'', disse.
Segundo Vilaça, isso implica em um trabalho muito maior, que compreende desde a introdução do artista em manifestações internacionais até a própria produção da obra (não em sua concepção, obviamente).
Esse acompanhamento do artista também é, segundo o galerista carioca Thomas Cohn, um dos fatores de manutenção de frutífera relação entre galerista e artista.
``Frequento constantemente os ateliês dos artistas para ver o desenvolvimento do trabalho de cada um. Prefiro trabalhar com poucos artistas, mas acompanhá-los todos'', disse.
Ricardo Trevisan, galerista da Casa Triângulo, também acredita na viabilidade da galeria. ``A relação artista-galeria é uma relação de dependência e está mais sadia que nunca. A galeria é viável, mas é preciso também encontrar saídas para a viabilização do artista em momentos de crise'', disse.
Luisa Strina, da galeria homônima, também acredita no vigor da instituição ``galeria''. ``A relação nunca esteve tão forte. O trabalho realizado em feiras e mostras é que viabiliza o artista'', disse.
Segundo André Millan, que atua no mercado há 15 anos, sua preocupação futura será otimizar seu tempo e seus esforços e fortalecer um mercado de arte contemporânea ainda sem liquidez. ``Com uma galeria aberta perde-se muito tempo com coisas desnecessárias.''
A galeria Millan funcionou por três anos no espaço da r. Francisco Leitão, em Pinheiros. No ano passado, organizou mostras de Renata Padovan de Barros, Fernando Zarif, José Zaragoza e Ana Maria Tavares, entre outros.
Agenciamento
``As galerias não vivem das exposições, mas dos acervos. Grande parte dos frequentadores das vernissages são artistas, e não colecionadores'', disse Millan.
Raquel Arnaud concorda. ``A galeria é muito dispendiosa. Embora eu tenha vínculos muito fortes com meus artistas, alguns até mortos, penso que terei que fazer menos exposições. Pouco a pouco, as galerias estão sendo ultrapassadas'', disse. Arnaud tem em seu cast nomes como Waltercio Caldas e Anna Maria Maiolino.
A galerista também acredita na viabilidade de um agente de arte que organize mostras de seus artistas em vários espaços. É o que também quer o carioca Paulo Fernandes. ``Estou pensando em como tirar meus artistas de dentro da galeria'', disse recentemente à Folha.
Já Regina Boni, da galeria São Paulo, afirma que suas mostras cobrem os custos, mas que não vê a comercialização da obra como único papel da galeria. ``A mostra funciona como um evento cultural e promocional para a galeria.''
Em vez de diminuir o número de mostras, Boni preferiu, por exemplo, abrir mão de contratos de exclusividade total com seus artistas. ``Também fazia catálogos de US$ 15 mil. Hoje não posso mais''.
Segundo boa parte dos galeristas brasileiros, a globalização também é a saída para o artista nacional. ``O mundo inteiro está interessado em nossos artistas e não podemos ficar apenas dentro da galeria'', disse Raquel Arnaud.
Segundo Marcantonio Vilaça, esse fluxo internacional fica facilitado quando se é ``galeria-mãe'' (a galeria principal do artista) de artistas importantes. ``Fica mais fácil negociar, pois possibilita um melhor intercâmbio com as instituições internacionais'', disse.

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