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DVD
"Rebecca", "Agonia de Amor", "Interlúdio", "Correspondente Estrangeiro" e "Quando Fala o Coração" chegam às lojas
Filmes delineiam primeiros passos de Hitchcock
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA
É só o começo: a caixa com
"Rebecca", "The Paradine
Case", "Notorious", "Spellbound" e "Foreign Correspondent" abre uma grande ofensiva
Alfred Hitchcock no DVD.
Os filmes recém-lançados pela
Continental são todos dos anos
40, da primeira fase americana de
Hitchcock, quando o mestre inglês estava vinculado por contrato
a David Selznick, embora nem todos sejam produzidos por ele.
Já há filmes da fase posterior
(sobretudo da grande fase dos
anos 50) em circulação, e a própria Continental promete, ainda
para este ano, novos lançamentos, agora da fase inglesa.
Como Hitchcock é ao mesmo
tempo um clássico indiscutível e o
mais popular dos cineastas de todos os tempos, é justo que seja o
primeiro a ter sua obra amplamente divulgada em DVD, agora
que o novo formato começa a se
popularizar.
Sabe-se que a independência de
Hitchcock não agradava imensamente a David Selznick, embora
fosse, a rigor, a única coisa que o
desagradava. O fato é que Hitch
teve seu contrato emprestado a
vários outros produtores.
E, pode-se, dizer: felizmente. É
verdade que "Rebecca" ("Rebecca, a Mulher Inesquecível"), Oscar de melhor filme de 1940, se
aguenta magnificamente até hoje,
ao menos em parte.
O início, em Monte Carlo, é retumbante, já que Edith van Hopper, a velha assanhada de quem a
futura Mrs. De Winter (Joan Fontaine) é dama de companhia,
compõe um personagem de humor bem hitchcockiano.
A segunda parte, quando o casal
vai para a mansão, é dominada
pela figura da governanta, Mrs.
Danvers, mas tem momentos melodramáticos pelos quais Hitchcock pouco parece se interessar.
"The Paradine Case" ("Agonia
de Amor") gira em torno do possível assassinato do sr. Paradine
pela própria mulher. O centro é a
paixão do advogado Gregory
Peck por sua cliente, a suspeitíssima Alida Valli.
O filme ressente-se do roteiro,
escrito pelo próprio Selznick, e
Hitchcock parece não ter especial
interesse em dirigir esse drama de
tribunal, embora não o deixe tornar-se desinteressante. Mas talvez
lhe falte o cinismo que levaram
Otto Preminger ("Anatomia de
um Crime") ou Billy Wilder
("Testemunha de Acusação") a
criar obras-primas do filme de tribunal. Foi a última colaboração
entre Hitchcock e Selznick. Depois disso, o mestre inglês estaria
livre da tirania do produtor.
Os demais filmes da caixa são
por vários títulos notáveis. "Notorious" ("Interlúdio") é a indiscutível obra-prima do lote. Trata-se
de uma história de espionagem
ambientada no pós-guerra, com
remanescentes nazistas tentando
reconstruir o movimento. No
Brasil.
A trama é perfeita, pois não apenas existe o entrecho romântico,
entre o agente aliado Cary Grant e
Ingrid Bergman. Esta é filha do
chefe dos nazistas, Sebastian
(Claude Rains), o que cria uma
cadeia de relações entre eles, onde
a noção de lealdade (ao pai, ou à
pátria, ou ao homem amado) é
desenvolvida com brilho raras vezes igualado pelo próprio Hitchcock. Não por acaso, foi produzido por ele para a RKO.
Também de espionagem é "Foreign Correspondent" ("Correspondente Estrangeiro"), em que
Joel McCrea interpreta o intrépido jornalista às voltas com o desaparecimento de um ministro pacifista holandês. Trata-se também
de um filme irregular, onde uma
cena do desastre aéreo e a passagem dos moinhos de ventos se sobressaem do conjunto.
"Spellbound" ("Quando Fala o
Coração") é um thriller psicanalítico inusitado. Gregory Peck é um
amnésico que se passa pelo dr.
Edwardes, mas que o teria matado. Ingrid Bergman, a analista
que se apaixona por ele, investiga
o caso em duas frentes: tenta encontrar os motivos que o levaram
à amnésia e demonstrar sua inocência. Seu exercício detetivesco
(no mais, algo inscrito em sua atividade) a levará, por fim, à busca
do real assassino.
O filme tem como momento
mais célebre (mas não o mais entusiasmante) o sonho criado por
Salvador Dalí. Mais marcante é a
cena de empalamento que leva a
analista a deduzir onde começaram os problemas de seu amado.
Num todo muitíssimo interessante, deve-se relevar o encontro
de Hitchcock com Ingrid Bergman -foi a primeira parceria entre ambos- e um Gregory Peck
bem deslocado no papel. Por fim,
a cena de suicídio do criminoso
está P&B e não com a cor vermelha que alguns garantem ter existido em algumas cópias.
A série, com seus altos e baixos
(mais altos), dá um retrato fiel das
flutuações de Hitchcock em seus
primeiros anos de Hollywood: ali
se insinuam já os elementos de
sua fase madura dos anos 50 e
também se deixam ver as vicissitudes por que passou, num momento em que ainda não controlava inteiramente seus projetos.
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