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FOTOGRAFIA
"HIROSHI SUGIMOTO"
Fotógrafo e filósofo japonês discute o tempo no CCBB com imagens de corpos celestes e paisagens
Excessos conduzem artista ao branco puro
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
Quer enxergar a Lua? Então olhe para o mar. Criando
deslocamentos desse tipo e vivificando o inanimado, o fotógrafo e
filósofo japonês Hiroshi Sugimoto, 54, apresenta no Centro Cultural Banco do Brasil, em SP, uma
retrospectiva de seis séries fotográficas criadas por ele desde
1975. É uma das melhores exposições no "circuito off-Bienal".
"Para estudar o mundo, você
tem de pará-lo". Partindo dessa
premissa, Sugimoto apresenta
paisagens marítimas nas quais a
linha do horizonte corta o quadro
ao meio. Acima dessa linha, registra -graças ao longo tempo de
exposição- a resultante dos movimentos celestiais. Abaixo, a revolta silenciosa da superfície do
mar.
Os personagens principais dessa série não aparecem no quadro,
apenas de forma subliminar. O
tempo, o protagonista e a Lua, sua
coadjuvante, manifestam-se com
delicadeza e precisão minimalistas. Ele, pela sensação de movimento que causa em quem se detêm diante das fotografias, ela, pelos resquícios prateados com que
inflama os sais (de prata) desse
improvável mar em branco e preto. Como podem algumas fotografias tão simples na forma abarcar tamanha complexidade de
sentidos? Segredos do Oriente.
A lamentar, apenas o tipo de vidro utilizado nas molduras e a luz
inadequada da galeria, que prejudicam um olhar mais acurado sobre as imagens mais escuras. A série de palcos e telas de cinema
possui a mesma envergadura
conceitual.
Nela, Sugimoto fotografou salas
vazias com períodos de exposição
de até três horas. O resultado é intrigante. As telas surgem como retângulos de luz branca livre de
imagens. Tal como o branco é resultante de todas as cores, o branco da tela de cinema surge como
metáfora do vazio. A resultante de
todas as histórias. O ponto zero
do roteiro, das histórias vividas. O
espaço cênico (a vida) a espera de
novos personagens e roteiros.
Esses retângulos imaculados
podem ser vistos ainda como
uma analogia ao obturador da câmara fotográfica (espaço onde o
filme é exposto à luz). Aí a relação
torna-se mais complexa. No mesmo espaço de tempo, Sugimoto
justapõe as aflições da fotografia e
do cinema. Ambos sequiosos por
imagens que findam por não
acontecer. Ou que, na verdade, alcançam a abstração do branco absoluto pelo excesso de exposição
de imagens, pelo excesso dos excessos.
Ainda há as famosas séries das
fotografias das estátuas de cera e
dos bichos do museu de história
natural, na qual seres inanimados
parecem adquirir vida por causa
da técnica empregada pelo artista.
São trabalhos de maior apelo para
público e mídia, mas de relevância menor se comparado às paisagens marítimas e às telas de cinema.
A série com volumes arquitetônicos desfocados fica bem perto
da saída. Não perca tempo e saia
logo para que a grandiosidade do
que você viu continue te iluminando rua São Bento afora.
Hiroshi Sugimoto
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r.
Álvares Penteado, 112, região central de
São Paulo, tel. 0/ xx/11/3113-3651)
Quando: de ter. a dom., das 12h às
18h30; até 7 de abril
Quanto: entrada gratuita
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