São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 2002

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FOTOGRAFIA

"HIROSHI SUGIMOTO"

Fotógrafo e filósofo japonês discute o tempo no CCBB com imagens de corpos celestes e paisagens

Excessos conduzem artista ao branco puro

EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA

Quer enxergar a Lua? Então olhe para o mar. Criando deslocamentos desse tipo e vivificando o inanimado, o fotógrafo e filósofo japonês Hiroshi Sugimoto, 54, apresenta no Centro Cultural Banco do Brasil, em SP, uma retrospectiva de seis séries fotográficas criadas por ele desde 1975. É uma das melhores exposições no "circuito off-Bienal".
"Para estudar o mundo, você tem de pará-lo". Partindo dessa premissa, Sugimoto apresenta paisagens marítimas nas quais a linha do horizonte corta o quadro ao meio. Acima dessa linha, registra -graças ao longo tempo de exposição- a resultante dos movimentos celestiais. Abaixo, a revolta silenciosa da superfície do mar.
Os personagens principais dessa série não aparecem no quadro, apenas de forma subliminar. O tempo, o protagonista e a Lua, sua coadjuvante, manifestam-se com delicadeza e precisão minimalistas. Ele, pela sensação de movimento que causa em quem se detêm diante das fotografias, ela, pelos resquícios prateados com que inflama os sais (de prata) desse improvável mar em branco e preto. Como podem algumas fotografias tão simples na forma abarcar tamanha complexidade de sentidos? Segredos do Oriente.
A lamentar, apenas o tipo de vidro utilizado nas molduras e a luz inadequada da galeria, que prejudicam um olhar mais acurado sobre as imagens mais escuras. A série de palcos e telas de cinema possui a mesma envergadura conceitual.
Nela, Sugimoto fotografou salas vazias com períodos de exposição de até três horas. O resultado é intrigante. As telas surgem como retângulos de luz branca livre de imagens. Tal como o branco é resultante de todas as cores, o branco da tela de cinema surge como metáfora do vazio. A resultante de todas as histórias. O ponto zero do roteiro, das histórias vividas. O espaço cênico (a vida) a espera de novos personagens e roteiros.
Esses retângulos imaculados podem ser vistos ainda como uma analogia ao obturador da câmara fotográfica (espaço onde o filme é exposto à luz). Aí a relação torna-se mais complexa. No mesmo espaço de tempo, Sugimoto justapõe as aflições da fotografia e do cinema. Ambos sequiosos por imagens que findam por não acontecer. Ou que, na verdade, alcançam a abstração do branco absoluto pelo excesso de exposição de imagens, pelo excesso dos excessos.
Ainda há as famosas séries das fotografias das estátuas de cera e dos bichos do museu de história natural, na qual seres inanimados parecem adquirir vida por causa da técnica empregada pelo artista. São trabalhos de maior apelo para público e mídia, mas de relevância menor se comparado às paisagens marítimas e às telas de cinema.
A série com volumes arquitetônicos desfocados fica bem perto da saída. Não perca tempo e saia logo para que a grandiosidade do que você viu continue te iluminando rua São Bento afora.


Hiroshi Sugimoto    
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, região central de São Paulo, tel. 0/ xx/11/3113-3651)
Quando: de ter. a dom., das 12h às 18h30; até 7 de abril
Quanto: entrada gratuita




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