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CINEMA/ESTRÉIA
"SOLARIS"
Executivos do cinema estranharam adaptação de Steven Soderbergh
Estilo "europeu" da ficção científica assustou público
PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
Uma ficção científica sem roupas espalhafatosas ou seres alienígenas monstruosos não faz o gosto dos executivos do cinema. Depois da primeira semana de filmagens de "Solaris", seu diretor, Steven Soderbergh, sentiu isso na pele frente aos burocratas da Fox.
"Irados, eles me perguntaram
como um filme de ficção científica
pode ter cenas com o ator principal andando pelas ruas com roupas convencionais, rodeado por prédios de arquitetura atual e sob
tempo chuvoso", conta o diretor.
"Pior foi quando o filme ficou
pronto, e o público deu nota F nas
sessões-testes."
"Solaris", que estréia hoje nos
cinemas brasileiros, é a segunda
versão para as telas da ficção do
escritor polonês Stanislaw Lem e a
produção mais cara da carreira de
Soderbergh, um dos responsáveis
pela redefinição do cinema independente americano nos anos 80,
com "sexo, mentiras e videotape",
de 1989. Porém, com um investimento de US$ 47 milhões (sem os
gastos com publicidade) e uma
história com pinceladas metafísicas, "Solaris" poderia soar indigesto demais para o público.
"Sabendo que seria um filme difícil de vender, procurei não assustar. Ao promover o filme nos
EUA, evitei referências à estética
européia que procurava emular."
No livro de Lem, Chris Kelvin
(George Clooney) é um psicólogo
viúvo enviado a uma estação espacial que orbita o planeta Solaris
para investigar o suicídio do diretor daquela missão. Mas, ao chegar à estação Prometheus, o médico passa a ser "visitado" por
uma réplica de sua mulher (Natasha McElhone). ""Solaris" é uma
metáfora do desconhecido", diz
Soderbergh. "O filme funciona
como um espelho, um abstração
opaca, que se recusa a interagir do
jeito que estamos acostumados."
Foi aos 13 anos que Soderbergh
entrou em contato com a primeira adaptação de "Solaris" para o
cinema pelo russo Andrei Tarkovsky em 1972. As imagens do
filme chegaram ao futuro cineasta
através de um livro.
Ao ser convidado para dirigir o
filme 30 anos mais tarde (e cujos
direitos pertenciam a James Cameron), Soderbergh quis distanciar-se do caráter metafísico do
original escrito em 1961. "Minha
proposta era centrar a história na
solidão, no remorso e no desespero, sentimentos que permeiam a
vida do protagonista."
Embora Daniel Day-Lewis tenha sido consultado, foi Clooney
quem acabou assumindo o papel
do psicólogo. "Nunca fui fã do filme de Tarkovsky, porém a versão
de Soderbergh me atraiu, pois é a
história de um homem que sabe
que a imagem de sua mulher não
é real, mas, mesmo assim, seu
amor por ela é tão grande e sua
ausência tão dolorida, que ele não
se importa em deixar a racionalidade de lado", comenta o ator.
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