|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Filme traz à luz o lado mais negro da ditadura
CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DA ILUSTRADA
Sabe-se que documentários se
distinguem de ficções porque neles predomina uma fidelidade a
fatos, um poder revelador de verdades, em suma, uma certa objetividade. Em alguns casos, porém,
o formato do documentário consegue apreender algo além do factual, ultrapassar a almejada objetividade e revelar subjetividades.
É o que se vê em "Tempos de
Resistência", dirigido por André
Ristum, que será exibido na próxima quarta, aniversário do golpe
de 64, no festival É Tudo Verdade.
O filme é construído a partir de
depoimentos de "sobreviventes"
dos anos de chumbo, militantes
de esquerda que participaram da
luta armada contra a ditadura militar. Suas falas se encarregam de
testemunhar primeiro os ideais (o
combate ao regime, a luta por
uma sociedade igualitária ou "comunista"); depois, a crise de suas
utopias (com o recrudescimento
da repressão -a partir do AI-5-
e o desmantelamento das guerrilhas urbana e rural); por fim, os
fantasmas da luta armada (com a
tortura, a morte e o exílio).
É com essa "evocação" que o
documentário ultrapassa os limites do factual e traz à tona o que de
fato assombra. Das vozes dos ex-guerrilheiros emana não apenas a
memória e a saudade dos companheiros mortos. Por meio delas,
"Tempo de Resistência" consegue
registrar aquilo que suas imagens
jamais mostram -o torturador,
fantasma onipresente que move a
máquina da dor ou a "manivela
que dispara o choque elétrico",
como relata em detalhes uma de
suas tantas vítimas.
Em vez de opor "bons" e
"maus" ou de isentar os convertidos à luta armada de toda responsabilidade (como se não tivessem
feito, eles mesmos, escolhas, inclusive por atos terroristas),
"Tempo de Resistência" acerta ao
exibir o que mais se esforça para
não se mostrar aos olhos da história celebratória: o horror.
TEMPO DE RESISTÊNCIA. Quando:
quarta (31/3), às 21h. Onde: Cinesesc (r.
Augusta, 2.075, tel. 0/xx/11/3082-0213).
Quanto: entrada franca.
Texto Anterior: Televisão: Programas relembram os anos de chumbo Próximo Texto: "Deus tem de ser brasileiro" Índice
|