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Críticos vêem muita "porcaria", mas destacam capacidade de fazer dançar
JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Desde o ano passado, a cantora baiana Daniela Mercury
celebra uma efeméride que pode soar um tanto pitoresca.
Trata-se dos 15 anos de lançamento de seu segundo disco, "O
Canto da Cidade", trabalho que
projetou a axé music nacionalmente. No último Carnaval,
Daniela fez apresentações calcadas no repertório do álbum,
chegando a vestir as luvas coloridas que ostenta na capa original. O CD acaba de ser relançado numa edição que inclui um
DVD com o especial ao vivo exibido pela Rede Globo em 1992.
Mais do que julgar se a auto-homenagem é válida, ela serve
para uma reflexão sobre o gênero. Afinal, tantos anos após
"O Canto da Cidade" forjar hits
como "Batuque" e "O Mais Belo
dos Belos", o Ecad divulga que
as três músicas mais executadas em shows em 2007 foram
representantes da axé music:
"Coração" (Rapazolla), "Praieiro" (Jammil) e "100% Você"
(Chiclete com Banana). O estilo
está vivinho e saltitando.
Para o jornalista baiano Hagamenon Brito, que cunhou o
termo "axé music" no final dos
anos 80 -quando as grandes
expressões da música urbana
da Bahia eram Luiz Caldas e
Banda Reflexus-, o gênero
continua fazendo sucesso porque conseguiu exportar um
modelo de show/festa para todo o país. "As micaretas caíram
no gosto da juventude da classe
média", diz. Mas ele acredita
que a fórmula esteja desgastada
e que Claudia Leitte, a bola da
vez, ainda precise soltar um
grande disco, pois com o Babado Novo só fez algo digno de nota em "Ver-te Mar" (2007).
Artista-atleta
O escritor, produtor e colunista da Folha Nelson Motta
também espera que a loira vá
muito além artisticamente.
"Como em quase todos os movimentos musicais, 90% da axé
music é uma porcaria. Só que
nos 10% restantes há gente
com grande valor musical."
Para Motta, o axé serviu para
criar uma nova espécie de cantora: a cantora de trio elétrico.
"É uma mistura de artista com
maratonista. Ao mesmo tempo
em que é artista, é atleta. Porque precisa colocar o povão para dançar, e isso não é mole".
O crítico musical Zuza Homem de Mello aponta qualidades na axé music. "Com todas
as deformações e os ataques sofridos, ela ainda tem a capacidade de fazer a juventude dançar. E de dançar música brasileira", observa. "Na minha adolescência, eu dançava samba-canção, e esse ritmo vivia sendo criticado", compara.
Já o jornalista e colaborador
da Folha Carlos Calado afirma
não ver novidade nenhuma nos
trabalhos de Daniela Mercury,
Ivete Sangalo, Claudia Leitte e
companhia. "O que há de mais
interessante na música brasileira não passa por esses nomes", diz. Mas ele reconhece
que na gênese do axé, na música de blocos afros como Ilê Ayê
e Olodum, existiam idéias curiosíssimas. Idéias que, bem ou
mal, Daniela formatou e transformou em dois milhões de discos vendidos.
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