São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Críticos vêem muita "porcaria", mas destacam capacidade de fazer dançar

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Desde o ano passado, a cantora baiana Daniela Mercury celebra uma efeméride que pode soar um tanto pitoresca. Trata-se dos 15 anos de lançamento de seu segundo disco, "O Canto da Cidade", trabalho que projetou a axé music nacionalmente. No último Carnaval, Daniela fez apresentações calcadas no repertório do álbum, chegando a vestir as luvas coloridas que ostenta na capa original. O CD acaba de ser relançado numa edição que inclui um DVD com o especial ao vivo exibido pela Rede Globo em 1992.
Mais do que julgar se a auto-homenagem é válida, ela serve para uma reflexão sobre o gênero. Afinal, tantos anos após "O Canto da Cidade" forjar hits como "Batuque" e "O Mais Belo dos Belos", o Ecad divulga que as três músicas mais executadas em shows em 2007 foram representantes da axé music: "Coração" (Rapazolla), "Praieiro" (Jammil) e "100% Você" (Chiclete com Banana). O estilo está vivinho e saltitando.
Para o jornalista baiano Hagamenon Brito, que cunhou o termo "axé music" no final dos anos 80 -quando as grandes expressões da música urbana da Bahia eram Luiz Caldas e Banda Reflexus-, o gênero continua fazendo sucesso porque conseguiu exportar um modelo de show/festa para todo o país. "As micaretas caíram no gosto da juventude da classe média", diz. Mas ele acredita que a fórmula esteja desgastada e que Claudia Leitte, a bola da vez, ainda precise soltar um grande disco, pois com o Babado Novo só fez algo digno de nota em "Ver-te Mar" (2007).

Artista-atleta
O escritor, produtor e colunista da Folha Nelson Motta também espera que a loira vá muito além artisticamente. "Como em quase todos os movimentos musicais, 90% da axé music é uma porcaria. Só que nos 10% restantes há gente com grande valor musical."
Para Motta, o axé serviu para criar uma nova espécie de cantora: a cantora de trio elétrico. "É uma mistura de artista com maratonista. Ao mesmo tempo em que é artista, é atleta. Porque precisa colocar o povão para dançar, e isso não é mole".
O crítico musical Zuza Homem de Mello aponta qualidades na axé music. "Com todas as deformações e os ataques sofridos, ela ainda tem a capacidade de fazer a juventude dançar. E de dançar música brasileira", observa. "Na minha adolescência, eu dançava samba-canção, e esse ritmo vivia sendo criticado", compara.
Já o jornalista e colaborador da Folha Carlos Calado afirma não ver novidade nenhuma nos trabalhos de Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Claudia Leitte e companhia. "O que há de mais interessante na música brasileira não passa por esses nomes", diz. Mas ele reconhece que na gênese do axé, na música de blocos afros como Ilê Ayê e Olodum, existiam idéias curiosíssimas. Idéias que, bem ou mal, Daniela formatou e transformou em dois milhões de discos vendidos.


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