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Melo expõe processo de nova peça
Recolhido com diretor e elenco em sítio perto de Curitiba, ator se dedica a criar "Deserto", que será exibida inacabada no festival
"Queremos explorar a dramaturgia para além das palavras", diz Luis Melo, sobre texto calcado nas trajetórias dos próprios intérpretes
MARIA EUGÊNIA DE MENEZES
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
Depois de um longo trecho
de rodovia, chega-se a uma estrada de terra. O caminho é cercado por casas esparsas, e também por pastos, pinheiros e
araucárias, que despontam na
paisagem. Um portão de madeira guarda um imenso descampado, onde está erguida a
casa do ator Luis Melo, 50.
Recolhido neste sítio, a cerca
de 40 km de Curitiba, sua cidade natal, Melo dedica-se ao processo de criação de "Deserto",
trabalho em parceria com o diretor Marcio Abreu e com os
atores Marcio Vito e Bianca Ramoneda, da Companhia Brasileira de Teatro. Uma primeira
versão do espetáculo, ainda
inacabado, será apresentada
hoje, amanhã e domingo na
mostra oficial do Festival de
Curitiba. A montagem está prevista para entrar em cartaz, no
Rio, apenas em junho.
Na peça "Daqui a Duzentos
Anos" (2005), Abreu já havia
dirigido Melo, com o Ateliê de
Criação Teatral -o Act, grupo
curitibano que o ator comanda
desde 2000-, em uma encenação que se debruçava sobre
contos e cartas do dramaturgo
russo Anton Tchecov (1860-1904). No atual espetáculo, no
entanto, a proposta é criar um
texto calcado somente nas trajetórias dos próprios intérpretes, uma reflexão sobre as suas
memórias, sobre a possibilidade de construção de novos discursos no teatro.
"No trabalho anterior, estivemos detidos sobre uma obra,
um autor. Agora, queremos nos
arriscar, explorar a dramaturgia para além das palavras, trabalhar os seus outros signos:
gestos, inflexões, deslocamentos", diz Abreu, 36.
Recortes
Criado em um processo colaborativo entre diretor e atores,
"Deserto" ainda não tem um
enredo acabado nem personagens completamente delineados. No Festival de Curitiba, o
que os espectadores devem ver
são apenas alguns recortes,
uma amostra dos embates e inquietações do grupo diante da
temática escolhida.
"Ainda estamos numa fase de
criar histórias e identificar personagens", conta Melo. Os três
atores devem levar ao palco situações nas quais a fragilidade
será vista como uma força
transformadora, um motor que
impulsiona a procura por outros caminhos. A imagem de
um deserto, um espaço vazio
em que o novo pode surgir, norteia a peça.
Enquanto elabora o novo trabalho, Luis Melo também está
às voltas com outro projeto. Em
breve, o sítio em que o ator e a
Companhia Brasileira de Teatro estão recolhidos também
deve abrigar um centro de criação multidisciplinar -uma versão mais radical do Act, espaço
de teatro experimental instalado desde 2000 em uma antiga
estufa de bananas em um bairro de Curitiba.
"Pensamos em criar a peça
nesse espaço, também em
construção. Unir esses dois
processos, ter esse mergulho
artístico", afirma Melo. O complexo, que está sendo projetado
pelo arquiteto e cenógrafo J.C.
Serroni, deve envolver um total
de cinco galpões.
A jornalista MARIA EUGÊNIA DE MENEZES
viajou a convite da organização do Festival de
Curitiba.
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