São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Melo expõe processo de nova peça

Recolhido com diretor e elenco em sítio perto de Curitiba, ator se dedica a criar "Deserto", que será exibida inacabada no festival

"Queremos explorar a dramaturgia para além das palavras", diz Luis Melo, sobre texto calcado nas trajetórias dos próprios intérpretes

MARIA EUGÊNIA DE MENEZES
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA

Depois de um longo trecho de rodovia, chega-se a uma estrada de terra. O caminho é cercado por casas esparsas, e também por pastos, pinheiros e araucárias, que despontam na paisagem. Um portão de madeira guarda um imenso descampado, onde está erguida a casa do ator Luis Melo, 50.
Recolhido neste sítio, a cerca de 40 km de Curitiba, sua cidade natal, Melo dedica-se ao processo de criação de "Deserto", trabalho em parceria com o diretor Marcio Abreu e com os atores Marcio Vito e Bianca Ramoneda, da Companhia Brasileira de Teatro. Uma primeira versão do espetáculo, ainda inacabado, será apresentada hoje, amanhã e domingo na mostra oficial do Festival de Curitiba. A montagem está prevista para entrar em cartaz, no Rio, apenas em junho.
Na peça "Daqui a Duzentos Anos" (2005), Abreu já havia dirigido Melo, com o Ateliê de Criação Teatral -o Act, grupo curitibano que o ator comanda desde 2000-, em uma encenação que se debruçava sobre contos e cartas do dramaturgo russo Anton Tchecov (1860-1904). No atual espetáculo, no entanto, a proposta é criar um texto calcado somente nas trajetórias dos próprios intérpretes, uma reflexão sobre as suas memórias, sobre a possibilidade de construção de novos discursos no teatro.
"No trabalho anterior, estivemos detidos sobre uma obra, um autor. Agora, queremos nos arriscar, explorar a dramaturgia para além das palavras, trabalhar os seus outros signos: gestos, inflexões, deslocamentos", diz Abreu, 36.

Recortes
Criado em um processo colaborativo entre diretor e atores, "Deserto" ainda não tem um enredo acabado nem personagens completamente delineados. No Festival de Curitiba, o que os espectadores devem ver são apenas alguns recortes, uma amostra dos embates e inquietações do grupo diante da temática escolhida.
"Ainda estamos numa fase de criar histórias e identificar personagens", conta Melo. Os três atores devem levar ao palco situações nas quais a fragilidade será vista como uma força transformadora, um motor que impulsiona a procura por outros caminhos. A imagem de um deserto, um espaço vazio em que o novo pode surgir, norteia a peça.
Enquanto elabora o novo trabalho, Luis Melo também está às voltas com outro projeto. Em breve, o sítio em que o ator e a Companhia Brasileira de Teatro estão recolhidos também deve abrigar um centro de criação multidisciplinar -uma versão mais radical do Act, espaço de teatro experimental instalado desde 2000 em uma antiga estufa de bananas em um bairro de Curitiba.
"Pensamos em criar a peça nesse espaço, também em construção. Unir esses dois processos, ter esse mergulho artístico", afirma Melo. O complexo, que está sendo projetado pelo arquiteto e cenógrafo J.C. Serroni, deve envolver um total de cinco galpões.


A jornalista MARIA EUGÊNIA DE MENEZES viajou a convite da organização do Festival de Curitiba.


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