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"Não me cobre atitude, cobre música", diz Gal
Cantora reage a quem ainda busca nela a postura que moveu sua carreira nos 70
Fazendo mais turnês internacionais do que por aqui, Gal prepara show "para matar a saudade", que estreia neste ano
DO ENVIADO A SALVADOR (BA)
Desde o final dos anos 1990, o
fã-clube de Gal Costa se dividiu.
Há os que a amam de maneira incondicional: para esse time, a pureza da voz está acima
de qualquer questionamento,
não importa o que ela grave ou
como se comporte no palco.
E há os que se ressentem pelas mudanças que o tempo
trouxe à cantora. Esses reclamam do fim daquele ímpeto explosivo que a moveu em outros
tempos, sobretudo nos anos
1970. E esperam que ela siga
descobrindo canções inéditas e
revelando compositores, como
fazia no passado.
"As pessoas costumam me
cobrar atitude, postura, irreverência", diz. "Essas coisas aconteceram quando tinham que
acontecer, especialmente no
tropicalismo e na década de 70.
Era um contexto mundial e eu
estava inserida nele."
Gal expõe a questão sem se
exaltar, como quem já se habituou a lidar com ela. "Que barreira eu vou romper agora? O
que ainda posso fazer de irreverente? Gritar?", questiona.
E responde: "Não. Gritei
quando isso era uma expressão
válida, quando representava
arma contra o regime e contra
tudo o que estava acontecendo
a mim e aos meus amigos exilados. Agora, o grito não faz mais
nenhum sentido".
Gal divide bem as duas principais facetas que a colocaram
entre as maiores artistas da história da nossa música. Diz que
"se adequou" ao tropicalismo
"muito mais com o coração e a
alma do que com a cabeça".
Mais do que uma artista experimental, ela diz, sua vocação
é para o canto, em sua essência
mais pura. "Não me cobre atitude, cobre música."
Com o passar do tempo, e especialmente nessa última década, os shows de Gal pelo país tenham ficado cada vez mais raros. Atualmente, sua carreira
está mais baseada em turnês
internacionais, sobretudo nos
Estados Unidos e na Europa.
Ainda assim, ela não considera o afastamento anormal.
Conta que passou por períodos
de reclusão no passado. "Estava
conversando disso com [Gilberto] Gil: hoje, principalmente por causa da internet, tudo é
tão rápido que, se você não estiver presente todo o tempo, parece que você acabou", diz.
Mas Gal quer reverter essa
impressão de ausência ainda
neste ano. Está providenciando
um apartamento em São Paulo,
já que "quando se quer meter a
cara no trabalho, tem que ser
nas grandes capitais". E prepara show novo, "para matar a
saudade das pessoas aqui no
Brasil", em que vai revisitar o
próprio repertório.
"Sou uma mulher que já passou dos 60 anos e meu grande
trunfo é minha voz", diz. "Ela
continua inteira, cristalina, jovem. Acompanha minha alma,
meu coração e meu espírito.
Canto com o mesmo tesão.
Quando eu estrear, você vai dizer se assina embaixo do que
estou dizendo."
(MARCUS PRETO)
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