|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA "A LENDA DO PIANISTA DO MAR"
Tornatore faz grande filme visionário
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
O cineasta siciliano Giuseppe
Tornatore, 44, tornou-se uma espécie de padroeiro das causas
perdidas do cinema, das salas fechadas nos vilarejos do interior e
de suas platéias órfãs.
"Cinema Paradiso", seu primeiro longa de ficção, com Philippe
Noiret no comovente papel de
projecionista de um cinema decadente, ganhou o Oscar de melhor
filme estrangeiro e virou símbolo
de resistência. O próprio filme
chegou a circular pelo país com
projeções em praças públicas.
Essa triste obstinação acabou
transferida para seus filmes seguintes, como uma marca registrada. Tornatore continua padroeiro de causas perdidas em
seu último longa "A Lenda do
Pianista do Mar", em versão remontada para distribuição no
mercado americano, esta que
agora nos chega.
Longe de ser americano, apesar
de todo falado em inglês, o novo
filme traz a melancolia das massas anônimas de imigrantes que
trocaram as misérias da Europa,
na última virada do século, pela
incerta América que o próprio cinema ajudou a glamourizar.
Ansiedade de imigrantes em ver
primeiro a estátua da Liberdade, a
divisão de classes do navio de passageiros Virginian, a timidez em
sonhar, fazem este belo filme vagar no limbo de Fellini ("E La Nave Va") e Leone ("Era uma Vez na
América").
Legítimo produto italiano, portanto, e ainda embalado pela música dominadora de Ennio Morricone.
Os requintes impressionantes
da produção, apesar do desgaste
do atraso com a remontagem do
filme, provam que Tornatore é
hoje o cineasta italiano mais prestigiado pelo capital americano.
Parte do filme foi rodado nos
ainda míticos estúdios de Cinecittà e outra nos estaleiros de Odessa, com milhares de figurantes. O
inglês Tim Roth e o americano
Pruitt Taylor Vince fazem a dupla
de músicos, no piano e no trompete, e dão os toques precisos de
atores refinados sob a batuta de
diretores europeus ou europeizados como Mike Leigh, Stephen
Frears, Wim Wenders, Robert
Altman e Woody Allen.
É fácil ver a que se destina tanto
capricho europeu num filme
americano: a superprodução em
recursos é totalmente revertida
para uma epopéia de sentimentos, extraída de um monólogo de
teatro de Alessandro Baricco, a
fantasia absurda de uma criança
abandonada no transatlântico
que nunca pisará a terra e que
crescerá para ser o mais virtuoso
pianista jamais imaginado.
O pianista sem raízes refreia
com sua obstinada presença no
mar o mítico sonho de "fazer a
América", que continua com o
mesmo fervor, um século depois.
Personagem e cinema visionários, padroeiros de causas perdidas, sem dúvida alguma. E mais
um grande filme de Tornatore.
Avaliação:
Filme: A Lenda do Pianista do Mar (The Legend of 1900)
Diretor: Giuseppe Tornatore
Produção: EUA, 1998
Com: Tim Roth, Pruitt Taylor Vince
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas Artes, Jardim Sul 7 e circuito
Texto Anterior: Cinema: Quinzena sem estrelas escolhe quinto brasileiro Próximo Texto: No exterior: "Bossa Nova" estréia hoje em Nova York Índice
|