THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles vieram, viram e venceram. Em fevereiro, os escoceses Franz Ferdinand realizaram seus primeiros shows no Brasil -dois deles gigantescos, abrindo para o U2 no estádio do Morumbi, em São Paulo, e outro bem menor, apenas para seus próprios fãs, no Circo Voador, no Rio. O quarteto aparece ao vivo novamente no país, por meio de um DVD duplo.
Para o bem e para o mal, o produto representa fielmente o que acontece na indústria fonográfica atualmente. Os CDs não estão mais vendendo como as gravadoras gostariam, então aposta-se no mercado de DVDs.
A estratégia pode ser boa -muitas vezes encontra-se nas lojas belo material adicional das bandas, como vídeos, shows, documentários e brincadeiras que saciam os fãs. "Enjoyment", dos Kaiser Chiefs, e "A Collection", do New Order, são bons exemplos.
Mas a sede de faturar rápido em cima de vários artistas faz com que alguns lançamentos sejam claramente feitos às pressas, sem os cuidados devidos, sem a preocupação em oferecer algo a mais. O recente "Live MCMXCIII", com a reunião do Velvet Underground, se encaixa aqui.
Este disco duplo do Franz Ferdinand fica no meio do caminho.
O produto traz, basicamente, a banda em cima do palco. O primeiro disco é preenchido com diversas apresentações do grupo: na Brixton Academy (Londres), no festival T in the Park (Escócia), no Barrowlands (Glasgow). Em cada local, aparece uma canção -e como o DVD foi lançado em novembro do ano passado, na Europa, vem apenas com as canções do primeiro álbum do FF.
O segundo disco traz mais shows, mas, desta vez, inteiros: um na Brixton Academy e outro em San Francisco, nos EUA.
Banda relativamente nova, com, até então, apenas um álbum, os shows do FF tinham "set lists" parecidos, com pouca variação de músicas. Assim, só sendo muito fã da banda para evitar a sensação de déjà vu após as quase duas horas de apresentações ao vivo.
O tempero que dá gosto ao DVD está nos extras. É o minidocumentário "Tour de Franz", que segue os bastidores de turnês da banda pela Europa, EUA e Ásia.
Nas entrevistas, os quatro escoceses falam sobre o dia-a-dia da vida na estrada e vemos como, apesar de ainda estarem começando, já têm perfeita noção do que é ser ídolos pop.
Nos shows, mostram toda a charmosa mise-en-scène, como brincam com a platéia -o baterista Paul Thompson conta que passou a voltar ao palco, após o bis, sozinho, para estimular gritos do público. Sabem o que fazem.

Entrevista
O Brasil aparece em "Tour de Franz" com a presença de um casal -ele, de João Pessoa, ela, de Vitória- que foi à Europa atrás da banda. Como não falam inglês, são entrevistados em português.
"Não sei, às vezes parece que chegamos a um lugar que jamais esperávamos chegar. Quando começamos, tocávamos na frente de 15 ou 20 amigos. Mas aí você olha para uma banda como o U2 e pensa que isso é apenas o começo... Esses caras estão nessa há tanto tempo e ainda conseguem excursionar juntos e se divertir", disse à Folha o vocalista do FF, Alex Kapranos, durante a passagem do grupo por São Paulo.
Na conversa, Kapranos falou bastante sobre como suas canções, apesar de roqueiras, têm estruturas parecidas com a dance music.
"Algumas bandas funcionam bem ao serem remixadas. Conosco é assim, porque de um jeito ou de outro tocamos música para dançar. As músicas têm certo ritmo, as linhas de baixo são bem definidas. A eletrônica sempre teve uma influência grande em nossa banda. Muito da dinâmica existente em nossas canções, o jeito que a melodia vai crescendo e dá lugar a um break... Acontece isso na dance music."
A turnê mundial do disco "You Could Have It So Much Better...", o segundo do Franz Ferdinand, culminará com uma apresentação no enorme Reading Festival, na Inglaterra. O FF fechará uma das noites do palco principal.