São Paulo, sábado, 28 de abril de 2007 |
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Dois vultos, duas torres
Premiado com o Pulitzer, Lawrence Wright usa, no livro "O Vulto das Torres", o terrorista Osama bin Laden e um ex-agente do FBI para humanizar a história que levou ao 11 de Setembro
SÉRGIO DÁVILA DE WASHINGTON Quando as torres do World Trade Center (WTC) foram atingidas, a primeira atitude da mídia norte-americana foi embarcar com os dois pés no barco do patriotismo. Na semana seguinte ao atentado, o apresentador David Letterman questionaria a Dan Rather: "Por que eles nos atacaram?". O então veterano âncora responderia: "Porque nos odeiam, Dave". Essa resposta não satisfez Lawrence Wright. Na manhã do 11 de Setembro e nos dias seguintes, o jornalista da revista "New Yorker" seguia tudo de Austin, Texas, onde mora -ele tentava ir a Manhattan, mas os aviões estavam proibidos de voar. Um obituário de duas linhas no site do jornal "Washington Post" chamou sua atenção. Falava de um dos quase 3.000 mortos naquele dia. Era John O'Neill, ex-membro da divisão de contraterrorismo do FBI, obcecado por Osama bin Laden, que na hora de sua morte trabalhava como chefe de segurança do WTC. Da ironia do policial que passa a vida caçando o terrorista e termina caçado por este, nasceu o livro "O Vulto das Torres" ("The Looming Towers"), que acaba de ganhar o prestigioso prêmio Pulitzer e que a Companhia das Letras lança agora no Brasil. Wright estrutura sua narrativa em duas "torres", o herói não-reconhecido O'Neil e o anti-herói Bin Laden, humanizando-os e os usando para ir às origens do radicalismo islâmico, nos anos 50. O escritor conversou com a Folha por telefone de Nova York e avisou que vem ao Brasil em julho, para participar de debate com o jornalista britânico Robert Fisk na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Veja trechos da entrevista. FOLHA - No livro, o sr. tenta entender os motivos que levaram ao 11 de Setembro. A que resposta chegou? LAWRENCE WRIGHT - Há várias razões, políticas, religiosas, psicológicas. Do ponto de vista político, a meta original da Al Qaeda era derrubar o governo de seus próprios países. Isso se mostrou impossível. Ayman al Zawahiri [um dos principais teóricos do jihadismo islâmico e braço direito de Bin Laden] tentou derrubar o governo do Egito, mas a reação foi violenta. O mesmo aconteceu com o governo saudita; Bin Laden viu que não tinha apoio popular para destronar a família real. Seus conselheiros sugeriram que atacasse os EUA, o que exporia a dependência do governo saudita em relação à Casa Branca. Assim, foi mais uma razão estratégica, quase acaso. FOLHA - Ainda assim, o sr. disse
que eles buscam uma "Madri norte-americana", no sentido de um novo
ataque a uma cidade dos EUA.
FOLHA - O sr. dedicou um bom
tempo a pesquisar Bin laden. Qual o
aspecto que mais o impressionou?
FOLHA - Outro que surge como herói, desempenha a função anti-Bin
Laden, é o ex-agente John O'Neill,
do FBI. Foi consciente estruturar o livro em torno desses dois personagens?
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