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Crítica/"O Vulto das Torres"
Wright faz ótimo thriller envolvendo CIA, FBI e Al Qaeda
Obra revela como Bin Laden uniu fanáticos e mostra que americanos poderiam ter evitado o 11 de Setembro
CLAUDIA ANTUNES
EDITORA DE MUNDO
Dezenas de livros foram publicados sobre o 11 de Setembro. Poucos são tão valiosos
quanto o esforço de reportagem de cinco anos que Lawrence Wright condensou em "O
Vulto das Torres". Econômico
em opiniões, Wright as torna
dispensáveis ao compor um
thriller sobre a gênese da guerra santa global de Bin Laden -e
a forma desastrada com que o
governo americano lidou com
ela- que é mais revelador do
que mil tratados sobre os momentos finais do século 20.
Se "O Vulto das Torres" cultiva uma idéia, esta é a de que
"guerra ao terror", "guerra de
civilizações" ou "guerra ao fascismo islâmico", os slogans que
nos últimos anos deram forma
ao combate aos jihadistas, só
podiam fazer sentido na cabeça
de ideólogos e estrategistas que
nunca puderam ou quiseram
escapar à lógica da Guerra Fria
-baseada na dicotomia amigos/ inimigos e que implica retaliação maciça.
Pois Wright demonstra que
os grupos que viriam a constituir a Al Qaeda nunca formaram um movimento de massas,
apesar de terem torrado a fortuna do saudita Osama bin Laden e os milhões de dólares entregues a "combatentes da liberdade" no Afeganistão pelos
Estados Unidos, o Paquistão e a
Arábia Saudita. Antes do 11 de
Setembro e do Iraque, esses
grupos não reuniam mais do
que poucos milhares de combatentes. Agora, viraram uma rede de franquias difícil de ser
quantificada.
O herói americano
Não pode constituir surpresa
o fato de que um punhado de
homens fanatizados e determinados tenha sido capaz de provocar choque imenso com um
ataque ao coração da nação
mais poderosa do mundo
-sempre foi esta a natureza do
terrorismo. O que choca, ao
acompanharmos o relato de
Wright, é a demonstração de
que os atentados às torres gêmeas e ao Pentágono poderiam
de fato ter sido evitados.
A CIA sabia, pelo menos um
ano e meio antes do 11 de Setembro, que enviados da Al
Qaeda, ligados aos atentados
contra as embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia,
em 1998, estavam em território
americano. Nunca passou esses
dados ao FBI, a polícia federal.
Que as várias agências de espionagem americanas não conseguissem compartilhar informações é exasperante para o
leitor, que a esta altura do livro
torce por John O'Neill -o trágico agente do FBI que percebeu cedo a aproximação da Al
Qaeda- como por um herói de
romance de espionagem.
O"Neill é o personagem-chave
do lado americano.
Exército em delírio
Do outro lado, Wright começa a história pelo egípcio Sayyid
Qutb, líder da Irmandade Muçulmana condenado à morte
em 1966. Os escritos de Qutb
inspiraram o médico Ayman
Al-Zawahiri, que se tornaria o
braço direito de Bin Laden.
A crença desses homens tinha três pilares: o salafismo (o
único islã verdadeiro era o praticado nos tempos de Maomé),
o globalismo (só a restauração
do califado pode livrar a comunidade islâmica do mal) e a
idéia de que o muçulmano que
negocia com os cruzados é
apóstata, o que justifica sua
morte. Juntos, esses pilares seduziam uma minoria mesmo
entre grupos islamitas -a
maioria com objetivos circunscritos a fronteiras nacionais.
Mas o grupo que os advogava
foi potencializado pela experiência afegã. Quando o invasor
soviético foi expulso, a vitória
levou ao delírio o exército trôpego de Bin Laden, que mirou o
mundo e teve a resposta que
procurava.
O VULTO DAS TORRES
Autor: Lawrence Wright
Tradução: Ivo Korytowski
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 56 (504 págs.)
Avaliação: ótimo
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