Lançado no Brasil, "Vida Louca", de Jaime Martín, mostra jovem às voltas com escolhas da vida adulta

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Vida Louca" é o nome da história em quadrinhos do espanhol Jaime Martín que está sendo lançada no Brasil em formato de livro. Mas poderia ser algo como "escolhas duras" ou "a difícil vida de um jovem pobre na periferia de Barcelona nos anos 80".
Quadrinhos europeus ainda são minoria no Brasil, onde mangás (HQs japonesas), "comics" de super-heróis e nacionais voltados para o público infantil ainda dominam as prateleiras. Por isso, o estilo algo seco de Jaime Martín pode intimidar um pouco na sua narrativa da vida de Vicen, um jovem de família humilde que se muda para um bairro barra-pesada e tem que se adaptar aos seus novos lar e escola.
O protagonista da história não é um pobre coitado. Vicen tem a vida sofrida, sim, mas não quer abaixar a cabeça diante dos problemas. Tem pouco dinheiro e vive em um meio violento, mas isso não deve impedir que ele se divirta.
O conceito de entretenimento disponível para ele não é amplo. Sexo e drogas, quando possível. Ouvir rock. E sair com os amigos barra-pesada que conhece ao se mudar para a periferia. Com eles, passa a se envolver com pequenos furtos e a conhecer pessoas com um tipo de vida parecido com o seu -ou pior. Diante da opressão, da pobreza e da impotência, sua raiva apenas cresce.
O estilo do espanhol Jaime Martín é narrativo e direto, sem espaço para poesias e metáforas. Como se ele concordasse com a revolta de seu protagonista: a vida de Vicen é uma droga mesmo, e não há muito o que fazer.
Como quebra no ritmo, há citações de rock espanhol, com canções e bandas que, assim como as histórias de Jaime Martín, refletiam a situação angustiante dos jovens pobres da Espanha daquele tempo. Talvez não só daquele tempo: afinal, que jovem não se sente perdido quando começa a amadurecer?
O título "Vida Louca" pode dar a impressão de ser uma HQ irreverente e divertida. Mas não é desse tipo de loucura que se trata.
Jaime Martín aborda a opressão do ponto de vista do oprimido. Um mundo em que as escolhas possíveis são poucas e se resumem a duas alternativas: a "muito ruim" e a "menos pior". Optar entre elas não é uma tarefa fácil, e sempre há um preço a pagar.
Tomar uma surra, ir para a cadeia, morrer... São conseqüências possíveis para as decisões que Vicen tem que tomar. No mundo em que ele vive, louco é quem acha que a vida pode ser fácil.