São Paulo, quinta-feira, 28 de abril de 2011

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Mestre oculto

Vem ao Brasil Albert Maysles, pioneiro da câmera na mão que mudou o documentário e registrou a intimidade de Lennon, Jagger, Hendrix e Godard

Seth Wenig - 6.mar.06/Reuters
Albert Maysles, em Nova York

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

"Você está no Brasil?", pergunta, ao atender o telefone em sua produtora, em Nova York, Albert Maysles. "Deve estar um dia lindo aí!"
Aos 84 anos, Maysles, que, revolucionou o documentário na década de 1960 ao usar uma câmera leve, com som acoplado, transmite um entusiasmo juvenil. Desde jovem tem, porém, a calma dos homens maduros, que sabem ouvir e sabem esperar.
São fruto desse olhar a um só tempo entusiasmado e paciente os filmes que o In-Edit, Festival Internacional do Documentário Musical, traz ao Brasil a partir de amanhã (mais informações no site in-edit-brasil.com).
Serão exibidos, entre outros, "Gimme Shelter" (1970), registro do show dos Rolling Stones em Altamont que terminou com um espectador assassinado, "Baroque Duet" (1992), encontro entre a soprano Kathleen Battle e o trompetista Wynton Marsalis e "What's Happening! The Beatles in the USA" (1964), em versão do diretor.
"Nós os vemos de perto. É mais um filme sobre eles e sobre aquelas pessoas que pararam suas vidas para vê-los do que sobre a música", diz Maysles, que não desgrudou da câmera durante as duas semanas da primeira turnê americana da banda.
"Mais do que pelas performances, sempre me interessei pelos rostos, pelos sentimentos dos músicos", explica o diretor. "O olhar do documentarista tem que ser um olhar de aceitação, de amor."
Basta nos voltarmos para a trajetória de Maysles para entendermos sua ética.
Nascido em Boston, o cineasta começou trabalhando como vendedor, daqueles que vão de porta em porta com cosméticos, vassouras ou bíblias.
Os vendedores de bíblias ilustradas foram tema de um de seus mais marcante filmes, "Salesman" (1968), documento e parábola da América profunda.
Mas foi o curso de psicologia, e não a vida de vendedor, que o jogou no cinema. Já como estudante de psicologia, ele foi passar férias na União Soviética, em 1955, e decidiu visitar hospitais psiquiátricos. Saiu do país com um filme, feito com uma câmera emprestada pela CBS.
O reconhecimento mundial viria em 1960 quando, com Robert Drew e Pennemaker, fez "Primárias", retrato da disputa entre o senador Humphrey e o futuro presidente Kennedy.
Era a primeira vez que os documentaristas colavam a câmera aos personagens e deixavam-na voar. Nascia uma nova linguagem.
"Acho que o cinema entendia, ali, o que Tolstói tinha entendido bem antes: o poder da realidade", diz. "Hoje os documentários já são totalmente aceitos."
Maysles ainda não experimentou o 3D. Mas está curiosíssimo. "A tecnologia ajuda o cinema a captar emoções." E qual tem sido sua função nessas seis décadas de investigações -às vezes divertidas, às vezes duras- sobre os indivíduos e a sociedade? "Ouvir as pessoas, tentar compreendê-las e, depois, conectar o espectador com a vida dos outros, fazê-lo vivenciar outras experiências."


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