São Paulo, sábado, 28 de maio de 2005 |
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Em "Nas Tuas Mãos", portuguesa Inês Pedrosa explora natureza feminina em diferentes gerações A dor e a delícia da mulher
JULIÁN FUKS DA REDAÇÃO Encerrada numa incansável Redação por longas horas de longos dias, entre 1993 e 1996, a portuguesa Inês Pedrosa empenhou-se em conhecer tudo o que não sabia sobre a alma feminina. Interrompida a edição da revista "Marie Claire" de Lisboa, da qual era diretora editorial, dedicou-se então a transmutar toda aquela experiência em um romance. |
Folha - A personagem Jenny, em
"Nas Tuas Mãos", declara: "... Às
pessoas aborrecem as histórias felizes e têm razão, a felicidade convoca o que em nós há de mais melancólico e solitário". Seriam as
personagens que você cria felizes,
mas suas narrativas melancólicas?
Inês Pedrosa - Sim, até porque a
melancolia e a solidão parecem-me indissociáveis da idéia de felicidade. As juras de amor eterno
estão limitadas pela mortalidade
humana, mesmo para os que
acreditam em paraísos extraterrenos, porque ninguém até hoje pôde contar como é esse outro mundo. Sabemos que a alegria, o riso,
a partilha são tão provisórios
quanto nós mesmos (o sofrimento e a dor também, esse é o nosso
consolo). No romance, a páginas
tantas, uma das personagens define a felicidade como uma coleção
de instantes suspensos sobre o
tempo que só depois de amarelecidos pela ausência se revelam.
Folha - No livro, é impossível não
perceber recorrências entre as gerações de mulheres, sobretudo "na
impossibilidade de captarem o
mundo masculino". O amor não
mudou para essas gerações?
Pedrosa - A vivência do amor se
tem alterado, de geração para geração. Ao longo do século 20, o
chamado "mundo masculino" foi
se tornando progressivamente
mais poroso e aberto ao chamado
"mundo feminino". Mas o amor,
em si mesmo, enquanto sentimento, continua tão velho e infantil como sempre foi. Não vejo
como mude.
Folha - Suas personagens narram
de um lugar em que revêem suas
vidas e a compreendem de forma
diferente. Você consegue reinterpretar a sua vida dessa forma?
Pedrosa - Creio que sim. Sem essa disponibilidade para a reflexão
não se chega a entender nada. Um
escritor tem de aprender a olhar
para si mesmo a partir de um exterior imaginário, como personagem. Se bem que o pensamento,
só por si, seja também pouco -a
capacidade de compaixão, entendida como partilha da paixão
alheia, é a grande pedra de toque
da literatura. De resto, a arte
(qualquer arte, não apenas a literatura) é um grande anestésico do
sofrimento -tanto para o criador como para o fruidor, que é
também um criador-adjunto.
Quando alguma coisa de terrível
me acontece, a minha reação imediata é a de me olhar de fora e de
aprender com a minha dor. Coexistem em mim a sofredora e a
narradora que toma notas sobre
as modalidades e vertigens do sofrimento, o que torna qualquer
dor bastante mais suportável.
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