São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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MÔNICA BERGAMO

Divulgação
A bebida embalada em cristal Baccarat

DEPOIS DA semana de terror e pânico promovida pelo PCC em São Paulo, e do revide da polícia, os salões paulistanos voltaram a ferver na semana passada. Ou pelo menos os da turma que o governador Cláudio Lembo classificou de "elite branca" da cidade.

São Paulo, aqui me tens de regresso

Festas canceladas na semana anterior foram remarcadas, e as que já estavam previstas foram realizadas em grande estilo. A semana começou com o lançamento de um livro sobre champanhe e terminou com dezenas de degustações de vinhos, conhaques e vodcas.

 

Na terça, o empresário Flávio Rocha abriu sua casa para um "cocktail dînatoire" (coquetel seguido de jantar) em torno do enólogo francês Pierre Lurton, do Château Cheval Blanc e Château d'Yquem, e de Roberto de la Mota, da Terrazas de los Andes. Banqueiros, empresários, jornalistas e publicitários degustaram o vinho Cheval des Andes em copos de cristal Riedel. Criado pelos dois enólogos, o vinho foi apreciado "em harmonização com criações do chef Laurent Suaudeau".
 

Suaudeau, aliás, criou coisas deliciosas: brioche ao foie gras com creme de uva passa, ostra em geléia de limão, ravioli de perdiz ao suco de cenoura, rabada reconstituída com ervilhas e molho de jabuticabas coberto com biscoito de farinha de bacon e gordura de ganso.
 

Nas rodas, conversas amenas. Eduardo Brenner e Fernando Prado, da Hedging-Griffo, discutiam que cidade tem melhores restaurantes: se Petrópolis, no Rio, ou Campos do Jordão, em SP. Davide Marcovitch, presidente para AL, Caribe, África e Oriente Médio da Moët Hennessy, que produz vinhos e champanhes como Krug e Dom Pérignon, contava uma viagem que fez a Dubai: "Eu estava num shopping. Lá fora, um calor de 40º. De repente, uma pista de esqui e pessoas de casaco se divertindo nela!". Marcovitch revelava suas surpresas com o Oriente Médio: "Nos aviões da Emirates Airways são servidas 60 mil garrafas de champanhe Dom Pérignon por ano. Só na primeira classe! O Brasil, em um ano, consome dez mil!". Ainda assim, surpreende os estrangeiros. "Me dá a impressão de que aqui tem mais milionários que na França", diz Pierre Lurton. "E não é só o dinheiro; os brasileiros gostam mesmo de vinho."
 

As sobremesas de Suaudeau foram saboreadas com Château d'Yquem, safra 2001, que não é vendida no Brasil: Pierre Lurton trouxe quatro da França, na mão, só para serem servidas no jantar de Rocha. Um d'Yquem pode custar R$ 2.500.
 

Na noite de quarta, o apogeu da semana: o lançamento do Parque Cidade Jardim, um empreendimento de R$ 1,5 bilhão que reunirá um shopping de luxo, quatro prédios comerciais e nove residenciais, com apartamentos de até R$ 18 milhões. A idéia é que o morador trabalhe, passeie e consuma sem sair de seus portões.
 

Olavo Setubal Jr. opinava: "É um projeto interessante". "Ainda mais do jeito que a violência anda!", concordava sua mulher, Nadia. "Dá para trabalhar e morar no mesmo lugar. Nem precisa sair de casa", dizia Olavo.
 

Na festa, com show de Caetano Veloso, são servidos canapés com foie gras, vinho Château de Parenchère, champanhe Moët & Chandon, Red Label e risoto de perdiz com trufas negras. Um protesto de moradores da favela vizinha atrapalha um pouco o clima, mas é contornado pela ex-mulher de Caetano, Paula Lavigne, que chama os moradores ao palco para que leiam um manifesto. E combina uma possível apresentação de Caetano na favela.
 

"Eles não conseguem ver a quantidade de empregos que este empreendimento vai gerar", diz a empresária Tânia Piva de Albuquerque, referindo-se ao protesto. "Eles têm que dar graças a Deus por ter gente que investe neste país." Rosângela Lyra, diretora da Dior no Brasil, concorda. "Tânia, eles reclamam que a maquete [do empreendimento] custou R$ 800 mil. Mas o dinheiro não foi roubado, nem sonegado. Nem todo mundo que ganha dinheiro no país é trambiqueiro!" Rosângela, que acabara de chegar de NY, não gostou de o governador Lembo ter responsabilizado a "elite branca" na crise do PCC. "Ele é um vice, né? A gente tem um governador que não "lemba" e um prefeito que "nunca sabe'".
 

Otávio Piva de Albuquerque opina: "Eu coloco a coisa em outro horizonte. Aqueles que têm mais têm de ajudar quem tem menos. Primeiro tem de abrir o coração. Depois a bolsa".
 

Convidados visitam o apartamento de R$ 3 milhões que o empreendimento decorou para a visitação de interessados. A mobília dele custou R$ 500 mil. A sala tem castiçais e copos de prata, a despensa tem água San Pellegrino, o "quarto da menina" tem uma latinha de Coca-Cola light. O quarto da empregada tem revistas de fofoca e horóscopo, leite de rosas e esmalte vermelho.

HEBE CAMARGO

"A elite é a mais prejudicada"

Ao lado de convidadas como Luana Piovani e Costanza Pascolato, e entre baldes de champanhe e edredons de penas de gogó de ganso que custam mais de R$ 7 mil, a apresentadora Hebe Camargo prestigiou o lançamento de um livro na loja de enxovais de luxo Trousseau, no shopping Iguatemi. Hebe falou à coluna sobre os ataques do PCC:  

FOLHA - Como os ataques do PCC, que paralisaram a cidade na semana retrasada, afetaram a sua rotina? HEBE - No dia daquela pane toda, foi suspensa a minha gravação porque eu não podia pôr em risco meus convidados.

FOLHA - O que a senhora achou da declaração do governador de São Paulo, Cláudio Lembo, sobre a "elite branca"? HEBE - Achei aquilo de uma infelicidade! Ele devia estar muito nervoso, porque ele é uma pessoa de bem, de muito caráter. Estranhei. Quero crer que foi fruto do nervosismo que todo mundo estava vivendo.

FOLHA - A senhora acha que existe uma "elite branca" responsável... HEBE - Não, absolutamente! Que culpa tem a elite? O que que é isso? A elite é a mais prejudicada, é a mais intimidada, a mais cobrada! A elite não tem culpa, absolutamente. Gracinha!! [aperta o nariz da repórter, encerrando a entrevista].

GARRAFA DE CRISTAL

O conhaque de R$ 900 -a dose

Os conhaques deram sabor especial à volta de parcela da cidade ao ritmo de festa habitual. No jantar do empresário Flávio Rocha foi servido um dos tops da Hennessy, o Paradis, cuja garrafa pode custar R$ 2.000. O top do top no Brasil, no entanto, ainda é privilégio de poucos. O Richard Hennessy, cuja garrafa, de cristal Baccarat, custa R$ 8 mil, é servido em apenas três restaurantes: Fasano, D.O.M e Fogo de Chão, de acordo com a Hennessy. Uma única dose -isso mesmo, uma única dose! -é vendida por R$ 900 no Fasano.

 

"O Fernando Henrique Cardoso adora, adora, adora", revela Gabriela Moreno Sanches, embaixadora dos conhaques Hennessy no Brasil. Ela colheu a informação no Fasano. A coluna também ouviu, no mesmo restaurante, que o ex-presidente já saboreou a bebida. Questionado pela Folha, na semana retrasada, sobre pessoas que bebem conhaque de R$ 900 no Fasano, FHC respondeu: "Só fui ao Fasano duas vezes, a convite. Eu não tomo conhaque, bebo vinho."
A Hennessy produz um conhaque ainda mais caro, o Timeless. A garrafa custa R$ 30 mil. Só sete foram vendidas no Brasil até agora.
 

Na quarta passada a Martell, concorrente da Hennessy, promoveu uma degustação de conhaques no Baretto. Bertrand Guinoiseau, embaixador da Martell no mundo, conduziu a degustação dos conhaques VSOP, Cordon Bleu e o XO, que chega ao Brasil em agosto. O primeiro, disse, "é intenso, floral... pimenta. Permanece na boca o gosto de canela". O segundo é "exuberante, expansivo". Se fosse um perfume, seria o Poison, da Dior. O XO seria um Giorgio, mais suave.
 

O top do top da Martell é o L'Art, que não é vendido no Brasil. A dose dele, num restaurante da Europa, pode custar U$ 500 (ou R$ 1.200). Guinoiseau não recomenda a qualquer um: "Só vai desfrutar de um conhaque assim quem está muito acostumado. De que adianta a pessoa ter uma Ferrari ou um Porsche se não sabe dirigir?"


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