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BIA ABRAMO
TV já vive overdose de Copa do Mundo
É difícil fazer jornalismo com uma espécie de regra não-escrita de excesso nas coberturas
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COMEÇOU. O massacre midiático da Copa do Mundo já
substituiu os ataques do
PCC, a questão com a Bolívia e as
CPIs. Agora, a seleção é o centro das
atenções nacionais, hasta la vitória.
Razão tem o "Casseta e Planeta",
em seu quadro "O País dos Alemão", que tem se dedicado a ironizar o telejornalismo e suas pautas
"criativas" sobre o país-sede. Esse
jornalismo de variedades, com pitadas de turismo, informações geográficas de almanaque e uma coleção incrível de clichês, invade programas de todos os tipos -inclusive
telejornais.
É difícil, se não impossível, fazer
jornalismo de fato com uma espécie
de regra não-escrita de excesso nas
coberturas, de superexploração dos
grandes assuntos. Se há pauta -e
pauta boa-, há que fazê-la render
até que se esgarce. Daí o recurso a
fazer matérias e mais matérias
abordando aspectos extra-laterais,
as ditas "curiosidades".
Note-se que esse não é um problema exclusivo do jornalismo de
TV, mas geral. Essa tem sido uma
prática também no impresso.
Mas, na televisão, que já tem uma
quedinha para apelar às sensações e
emoções do espectador, sempre soa
um tanto mais apelativo, repetitivo,
tedioso. É preciso dominar de maneira integral os sentidos e a atenção do espectador, com quaisquer
recursos disponíveis.
O diabo é que, quando poderia haver jornalismo, digamos, "de verdade", as características monopolistas
da TV e a sua promiscuidade com o
comércio atrapalham. Por exemplo,
será que a Rede Globo tem direito a
ter acesso exclusivo ao hotel onde
está concentrada a seleção?
A emissora, já detentora dos diretos de transmissão dos jogos, entrou no saguão do hotel para entrevistar os jogadores já na chegada,
indo de encontro à proibição explícita de Parreira, o que gerou mal-estar entre comissão técnica e assessoria de imprensa da CBF.
Essa exclusividade, que não é fruto da maior agilidade, experiência
ou competência jornalística, mas
sim de acordos, joga a idéia de notícia meio pelo ralo: afinal, quem pode reportar um acontecimento?
Quem compra privilégios? Quem
tem mais dinheiro?
Com esse ataque midiático constante e invasivo, não deveria se
constituir surpresa se fatos como o
curto-circuito de Ronaldo na final
da Copa de 98 venham a se repetir.
@ - biabramo.tv uol.com.br
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