São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

TV já vive overdose de Copa do Mundo


É difícil fazer jornalismo com uma espécie de regra não-escrita de excesso nas coberturas

COMEÇOU. O massacre midiático da Copa do Mundo já substituiu os ataques do PCC, a questão com a Bolívia e as CPIs. Agora, a seleção é o centro das atenções nacionais, hasta la vitória.
Razão tem o "Casseta e Planeta", em seu quadro "O País dos Alemão", que tem se dedicado a ironizar o telejornalismo e suas pautas "criativas" sobre o país-sede. Esse jornalismo de variedades, com pitadas de turismo, informações geográficas de almanaque e uma coleção incrível de clichês, invade programas de todos os tipos -inclusive telejornais. É difícil, se não impossível, fazer jornalismo de fato com uma espécie de regra não-escrita de excesso nas coberturas, de superexploração dos grandes assuntos. Se há pauta -e pauta boa-, há que fazê-la render até que se esgarce. Daí o recurso a fazer matérias e mais matérias abordando aspectos extra-laterais, as ditas "curiosidades". Note-se que esse não é um problema exclusivo do jornalismo de TV, mas geral. Essa tem sido uma prática também no impresso. Mas, na televisão, que já tem uma quedinha para apelar às sensações e emoções do espectador, sempre soa um tanto mais apelativo, repetitivo, tedioso. É preciso dominar de maneira integral os sentidos e a atenção do espectador, com quaisquer recursos disponíveis. O diabo é que, quando poderia haver jornalismo, digamos, "de verdade", as características monopolistas da TV e a sua promiscuidade com o comércio atrapalham. Por exemplo, será que a Rede Globo tem direito a ter acesso exclusivo ao hotel onde está concentrada a seleção? A emissora, já detentora dos diretos de transmissão dos jogos, entrou no saguão do hotel para entrevistar os jogadores já na chegada, indo de encontro à proibição explícita de Parreira, o que gerou mal-estar entre comissão técnica e assessoria de imprensa da CBF. Essa exclusividade, que não é fruto da maior agilidade, experiência ou competência jornalística, mas sim de acordos, joga a idéia de notícia meio pelo ralo: afinal, quem pode reportar um acontecimento? Quem compra privilégios? Quem tem mais dinheiro? Com esse ataque midiático constante e invasivo, não deveria se constituir surpresa se fatos como o curto-circuito de Ronaldo na final da Copa de 98 venham a se repetir.


@ - biabramo.tv uol.com.br


Texto Anterior: Nas lojas
Próximo Texto: Resumo das novelas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.