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A internet me deixou BURRO DEMAIS!
Mark Bauerlein, que tem sido criticado na imprensa e por internautas, diz que prevalecem na web linguagem pobre e "recreações adolescentes"
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
O ataque começa já no título.
É a "geração mais estúpida",
anuncia "The Dumbest Generation" (Tarcher, 272 págs.),
lançado nos EUA há duas semanas, em referência a quem
nasceu em algum momento das
últimas três décadas.
A razão para tal epíteto, ainda mais controversa, é explicitada no subtítulo: "Como a era
digital embasbaca os jovens
americanos e põe em risco nosso futuro. Ou, nunca confie em
ninguém com menos de 30".
Às já bastante vilanizadas telas de TV e de videogames o autor Mark Bauerlein junta as telas de computadores e de celulares como as responsáveis por
jovens "superficiais", incapazes
de lembrar (e de dar importância a) fatos históricos.
"Eles praticamente não
lêem. Com toda a informação
disponível on-line, como nunca
antes na história, eles preferem
dedicar uma quantidade inacreditável de tempo a vasculhar
vidas alheias e a expor as suas
próprias em redes de relacionamento como o Facebook e o
MySpace", diz Bauerlein, 49, à
Folha, por telefone, de Atlanta,
onde dá aulas de inglês na Universidade de Emory.
Bauerlein, ex-diretor de pesquisa e análise da Fundação para as Artes nos EUA, acredita
que o excesso de informações a
que as crianças e os adolescentes têm acesso na rede faz com
que eles percam a capacidade
de diferenciar "o significativo
do insignificante" e, com isso,
de embasar argumentos.
"Nossa memória cultural está morrendo", diz o autor. É
uma opinião similar à do filósofo italiano Umberto Eco, que,
em entrevista ao jornal espanhol "El País" (reproduzida no
último dia 11 no caderno
Mais!), afirmou que "a abundância de informações sobre o
presente não permite refletir
sobre o passado".
"Recreações adolescentes"
"The Dumbest Generation"
se levanta contra as "vozes pró-tecnologia" que defendem que
a navegação na internet seja benéfica à cognição (leia mais ao
lado). "A realidade das práticas
na web", escreve Bauerlein, "é
só o que poderíamos esperar:
expressões adolescentes e recreações adolescentes".
O que ele enxerga como uma
dificuldade de absorção de informações entre os jovens resultaria também da leitura não-linear que os sites estimulam.
No livro, Bauerlein fundamenta tal opinião com estudos do
instituto de pesquisas Nielsen,
segundo os quais os usuários
mais "escaneiam" com os olhos
do que propriamente lêem as
páginas à sua frente.
"Além disso, sabe-se que, na
internet, quanto mais simples a
linguagem, mais os leitores
acessam as páginas. O que os jovens lêem na rede não lhes
acrescenta nada em termos de
gramática nem de capacidade
de elaborar textos", diz.
Reações
Nos últimos dias, Bauerlein
vem passando mais tempo que
de costume em frente ao computador, para responder, um
por um, aos e-mails "raivosos"
que têm abarrotado a caixa de
entrada do seu Outlook.
"Li recentemente um artigo
no jornal "Boston Globe" sobre
seu último livro e escrevo para
lhe dizer que você é um imbecil.
Você deve saber disso. Ninguém que escreva um livro inteiro baseado na idéia de que
uma geração esteja se tornando
idiota por causa da tecnologia
pode ter noção da realidade."
A experiência de ignorar os
adjetivos e discutir as "questões substantivas" com os alvos
de sua tese não tem surtido
muito efeito. O autor aprova o
debate mesmo assim. "É sinal
de que os jovens se importam,
de que têm valores a defender."
O diálogo que a internet permite rendeu também páginas
de comentários de leitores em
sites como o da revista americana "Newsweek". No último
fim de semana, a publicação esquentou o debate ao lembrar
que os mais velhos têm o costume de lamentar a ignorância
dos mais novos ao menos desde
os tempos em que, na Grécia
Antiga, "os admiradores de Sófocles e Ésquilo questionaram a
popularidade de Aristófanes".
As críticas mais freqüentes
ao livro de Bauerlein citam os
testes de Quociente de Inteligência. Desde o começo século
20, o QI de crianças e adolescentes aumenta a cada geração.
O conceito de "estúpido" de
Bauerlein, afirma a "Newsweek", não faz sentido se forem
levados em conta aspectos como a habilidade de pensar criticamente e de fazer analogias.
"Eles [os críticos] não entenderam o ponto central da discussão", defende-se o autor, renegando o viés anacrônico do
debate. "[A discussão] não é sobre as ferramentas da internet
em si, mas sobre seu uso. Quando um cientista diz que a tecnologia desafia as mentes e torna
as pessoas mais espertas, ele está falando do MySpace? Ele sabe que os adolescentes passam
muito mais horas em redes sociais do que estudando?"
Aos detratores Bauerlein
costuma responder com dados
oficiais, de órgãos como o Departamento de Educação americano e o Census Bureau.
Em sites, em resposta aos críticos, despeja uma porção de
números da realidade norte-americana, às vezes aleatoriamente: uma pesquisa de 2006
contabilizou nove horas semanais de adolescentes conectados a redes sociais; outra constatou que 55% deles dedicam
menos de uma hora semanal
aos estudos em casa; uma terceira dá conta de que apenas
6% dos estudantes são considerados "muito bem preparados
para a escrita"...
Quanto ao "estúpido" do título, esclarece Bauerlein, é pura provocação. "Eu sou professor. Sei que são discussões como essa que fazem os jovens
pensarem..."
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