São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Alegoria política resulta em obra maniqueísta e nostálgica

CRÍTICO DA FOLHA

"Olhos Azuis", de José Joffily, intercala duas linhas de ação separadas pelo espaço e pelo tempo. Na primeira, Marshall (David Rasche), do departamento de imigração em Nova York, decide, em seu último dia de trabalho, atrapalhar a entrada nos EUA de vários latinos -entre eles, o brasileiro Nonato (Irandhir Santos).
Na outra, o mesmo Mar- shall vai a Pernambuco bastante doente, dois anos depois, e busca a filha de Nonato com a ajuda da prostituta Bia (Cristina Lago). Cada linha tem um tratamento diferente. A nova-iorquina emula os filmes policiais americanos (como mostrou em "A Maldição do Sanpaku" e "Achados e Perdidos", Joffily é um cultor do filme de gênero), com sua luz seca, sua câmera estática.
Já a pernambucana se alinha a uma tradição que vai de "Vidas Secas" a "Cinema, Aspirinas e Urubus", na qual o sertão é filmado com câmera na mão e luz contrastada.
Também há duas maneiras de interpretar "Olhos Azuis". Como um drama policial em que um personagem humilha e agride outros por preconceito e desespero, para depois sair em uma jornada de redenção.
Ou como uma alegoria política sobre as relações de (abuso de) poder dos EUA com a América Latina (o fato de o único policial branco ser o "vilão" não é fortuito, assim como não deve ser a origem de Nonato, vindo do sertão pernambucano).
Se visto como um drama policial, "Olhos Azuis" será insuficiente: o filme tenta reproduzir o naturalismo e acaba soando teatral. Já como alegoria política, o filme demonstra uma nostalgia do maniqueísmo sessentista, de um tempo em que era mais simples, ou mais confortável, separar os bons dos maus. (RICARDO CALIL)


OLHOS AZUIS

DIREÇÃO José Joffily
PRODUÇÃO Brasil, 2009
COM David Rasche, Irandhir Santos
ONDE nos cines Belas Artes, Jardim Sul UCI e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ruim




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