São Paulo, sábado, 28 de maio de 2011

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Montagem de "A Tempestade" estreia com música ao vivo

Dirigida por Marcelo Lazzaratto, encenação de obra de Shakespeare em SP tem trilha de André Abujamra

Em busca de fidelidade, texto traduzido por Barbara Heliodora manteve os versos decassílabos do autor

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

Se para Shakespeare o mundo é um palco, em "A Tempestade", obra do bardo inglês, o universo já tem diretor: Próspero.
"Próspero dirige Ariel, que por sua vez é o encenador que manipula os espíritos da ilha que em sequência dirigem os homens", explica Marcelo Lazzaratto.
Em sua terceira montagem consecutiva de textos de Shakespeare, Lazzaratto mantém-se fiel ao autor inglês. "A Tempestade", que acaba de estrear, privilegia a simplicidade, sem abrir mão dos recursos necessários para fazer a cena pulsar, como música ao vivo, composta por André Abujamra, e figurinos que externalizam o caráter dos personagens.
O diretor centra o foco na atuação e no texto, que mantém inalterados os versos decassílabos do autor."Não fiz qualquer adaptação, muito pelo contrário", diz a tradutora Barbara Heliodora, uma das maiores conhecedoras de Shakespeare do país.

ESPELHAMENTO
Como acontece com qualquer grande diretor, ao arquitetar sua arte, Próspero espera mais do que triunfo. Ele, que foi duque de Milão e acabou destronado por seu irmão, Antônio, busca a transformação do homem.
Próspero desencadeia uma tempestade para vingar seus usurpadores. Faz naufragar o barco dos inimigos, os quais ficam à mercê de seus poderes sobrenaturais, na ilha onde encontra-se exilado com a filha Miranda.
Apesar de descrente da humanidade, ele próprio acaba modificado. Abandona poderes e planos de vingança, trocando intolerância por compaixão.
Atônito com o renascimento do irmão, Antônio desestrutura-se de tal modo que perde a fala. "Esperando os piores castigos, recebe perdão, para ele o maior dos golpes", diz André Guerreiro Lopes, que vive o vilão.
Lazaratto compara "A Tempestade"" com "aquela aula que te abriu o mundo".
Para ele, a última obra de Shakespeare é a somatória de todas as outras. "Contém todas as suas pinceladas, em traços menos marcados".
"A Tempestade" pode ser considerado o testamento artístico de um autor que soube traduzir a complexidade humana com maestria.
Para o diretor, o final conciliatório sugere redenção, mas o amargor do epílogo faz respingar ambiguidade. "Shakespeare sabe que a ambição é parte do homem e que jamais estaremos livres de nós mesmos", diz.

A TEMPESTADE

QUANDO quin. e sex. às 21h30, sáb., às 21h, e dom., às 20h; até 26/6
ONDE Teatro Raul Cortez (r. Dr. Plínio Barreto, 285; tel. 0/xx/11/3254-1631)
QUANTO de R$ 20 a R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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