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Sociedade autoritária
JAIME SPITZCOVSKY
Editor de Mundo
""Barril de Pólvora" engrossa a
lista das tentativas de explicar o secular fenômeno da violência balcânica. Explora uma noite em Belgrado, costurando histórias violentas, pródigas em crueldade.
Por meio de episódios do cotidiano, Goran Paskaljevic parece
sugerir que o atual esforço de guerra sérvio em Kosovo conta com
uma retaguarda importante: uma
sociedade marcada por um autoritarismo que permeia seu sistema
político e suas relações humanas.
Em ""Barril de Pólvora", a referência a Kosovo é quase imediata.
Aparece logo no começo do filme,
com um noticiário local mencionando o ditador Slobodan Milosevic e suas iniciativas para manter,
sob controle sérvio (a principal etnia da Iugoslávia), uma Província
na qual a maioria dos habitantes é
de origem albanesa.
Além de evidenciar o autoritarismo balcânico com a fórmula ""violência e noite", o filme mostra ainda outras características típicas em
sociedades eslavas pós-comunismo. Joga luz sobre a religiosidade e
o misticismo que ocuparam o vácuo ideológico provocado pela falência do comunismo.
O filme enfoca ainda o fatalismo
de gerações que atravessaram décadas sob a tutela de regimes modelados pelo autoritarismo de inspiração soviética.
Numa cena de ""Barril de Pólvora", os passageiros esperam, resignados, o motorista de ônibus que
passa mais de 15 minutos no ponto
final tomando café. Ninguém esboça uma reação até que um jovem
assume o volante e ""furta" o carro,
para iniciar um périplo marcado,
naturalmente, por muita violência.
Os Bálcãs, considerado um histórico barril de pólvora da Europa
devido a seus diversos conflitos étnicos, tem outros representantes
no filme do sérvio Paskaljevic. O
roteiro, por exemplo, é de um macedônio. E a produção reuniu ainda gregos, turcos e franceses.
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