Estética do cinema inspira Cia. de Teatro em Quadrinhos a retomar, em "Anônimos", impacto da linguagem visual

REPORTAGEM LOCAL

Em sua trajetória, a Cia. de Teatro em Quadrinhos (1991), de São Paulo, viveu um dos melhores momentos em "O Cobrador", adaptação de conto de Rubem Fonseca. A nova montagem do núcleo, "Anônimos", quer retomar o impacto do trabalho de linguagem visual que imprimiu na década passada.
"A estética é a do cinema noir, uma moldura que passa pelo conteúdo do sonho e da fantasia dos personagens nos filmes", diz a diretora e co-fundadora do grupo Beth Lopes. "Anônimos", que estréia amanhã no Viga Espaço Cênico, tem sua dramaturgia em colaboração assinada por Leonardo Moreira, que também atua.
De certa forma, é um prolongamento da pesquisa para a peça, "Na Pele do Joseph K." (2006), com evidente referência a "O Processo", de Franz Kafka. Se na última montagem K. era um desempregado em busca de um lugar, em "Anônimos" permanece a condição, mas ele se desdobra em dois. Certo dia, o sujeito comum que lê e escreve histórias de mistério recebe um ligação e assume uma outra personalidade, a do detetive K., às voltas com a investigação de um crime cujo principal suspeito se esconde num hotel.
"A gente localiza, no texto e na dramaturgia, o sentimento do não-lugar num hotel. É o espaço que reúne desconhecidos e os isola em seus quartos, com narrativas pessoais de quem está em trânsito", diz Lopes. "Esses seres confundem suas histórias, dramas, buscas de identidade, que não é uma, fixa, mas múltipla, como na realidade."
A concepção se apóia nas figuras do detetive, do viajante e do estrangeiro, que corresponderiam a modos de constituição da subjetividade e do imaginário contemporâneo. No elenco, Aura Cunha, Eduardo Mossri, Laís Marques, Maria Helena Chira e Moreira.