São Paulo, quinta-feira, 28 de junho de 2007

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Morre o poeta carioca Bruno Tolentino, 66

Vencedor de dois prêmios Jabuti, intelectual publicou em inglês e francês e ficou conhecido no país como polemista

Tolentino negava a tradição modernista de concisão e coloquialidade, adotando formas clássicas para tratar de temas contemporâneos


DA REPORTAGEM LOCAL

Vencedor de dois prêmios Jabuti e eleito intelectual do ano de 2003 pela Academia Brasileira de Letras, o poeta carioca Bruno Tolentino morreu ontem, em São Paulo, aos 66 anos. Segundo o boletim emitido pelo Hospital Emílio Ribas, onde ele estava internado havia um mês, a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos.
Nos últimos cinco anos de vida, Tolentino publicou dois livros: "O Mundo como Idéia" e "A Imitação do Amanhecer".
No primeiro, desenvolvido ao longo de 40 anos, Tolentino se debruçou sobre uma filosofia da forma.
Já "A Imitação do Amanhecer" dramatiza, numa história contada em 538 sonetos alexandrinos, as obsessões que permearam sua vida como poeta. Por ele, Tolentino foi indicado neste ano entre os finalistas ao 49º Prêmio Jabuti.
Conservador, Tolentino fazia por meio de poesia uma crítica às pretensões modernas de compreensão total e racional do mundo.
Nascido em 12 de novembro de 1940, Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino Sobrinho conviveu desde de criança com os grandes nomes da intelectualidade brasileira, entre eles Cecília Meirelles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.
Na década de 60, saiu do Brasil e, posteriormente, ensinou literatura em Oxford e Bristol, no Reino Unido. Assumiu a direção da editora de poesia Oxford Poetry Now em 1973. Ainda na Europa, o poeta publicou "Le Vrai le Vain" (Actuels) e "About the Hunt" (OPN).
No Brasil, Tolentino lançou, entre outros livros, "Anulação & Outros Reparos" (Topbooks), "As Horas de Katharina (Companhia das Letras) e "Os Deuses de Hoje" (Record). Foi agraciado com os prêmios Jabuti 1995, Cruz e Souza 1996 e Abgar Renault 1997. "O Mundo como Idéia", lançado pela editora Globo em 2002, recebeu os prêmios Jabuti e Ermírio de Moraes. O poeta foi elogiado por W.H. Auden e Saint-John Perse, entre outros.

Polêmico
Tolentino era um conhecido polemista. Em 1994, o poeta fez, no jornal "O Estado de S. Paulo", críticas à tradução feita pelo concretista Augusto de Campos de um poema de Hart Crane (1899-1932), publicada no suplemento "Mais!", da Folha. Em 1996, depois de morar 30 anos fora do Brasil, manifestou em entrevista à revista "Veja" sua preocupação por ver o filho mais novo estudando em escolas que ensinavam as obras de letristas da MPB -como Caetano Veloso- ao lado de Machado de Assis, Camões e Fernando Pessoa.
"É preciso botar os pingos nos is. Cada macaco no seu galho, e o galho de Caetano é o showbiz. Por mais poético que seja, é entretenimento. E entretenimento não é cultura."
O filósofo Olavo de Carvalho, seu amigo e aliado nas polêmicas, afirma que Tolentino foi "o maior poeta da língua portuguesa desde Camões".
"Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto são apenas aprendizes perto dele. Infelizmente a mídia cultural não lhe deu oportunidade de ser o grande professor de literatura de que o Brasil precisa", declarou.
Para o crítico e colunista da Folha Manuel da Costa Pinto, "Bruno Tolentino conjugava em sua poesia elementos modernos e antimodernos". "Era antimoderno em relação ao modernismo brasileiro, pois recusava suas soluções formais de coloquialidade e concisão", diz. Por outro lado, se aproximava de certo modernismo europeu, inglês, que associava formas clássicas à voz das ruas.


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