São Paulo, sábado, 28 de junho de 2008

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6ª Flip

"Uso a intuição para achar a história"

O americano Richard Price fala sobre a aproximação entre cinema e literatura

"Lush Life", seu livro mais recente, vai ser lançado no ano que vem no Brasil; escritor vai participar de debate com Neil Gaiman

DA REPORTAGEM LOCAL

Diz a lenda que poucos roteiristas conseguem escapar da maldição de Hollywood: reencontrar o caminho para uma carreira literária depois de ter vendido a alma para os estúdios. Mas há exceções, como Richard Price.
Para o escritor e jornalista nascido no Bronx, o clique aconteceu com "Fogueira das Vaidades". O romance de Tom Wolfe mostrou o caminho para uma prosa que incorporasse seus temas preferidos: crimes, drogas, conflitos inter-raciais e intersociais, os dilemas dos imigrantes e daqueles que não viveram o sonho americano. Sem contar, é claro, Nova York.
Em entrevista à Folha, enquanto se preparava para viajar a Paraty, onde será um dos principais convidados da 6ª edição da Flip, Price disse que a influência de Wolfe começou antes que o próprio papa do "new journalism" o elegesse como uma das promessas da prosa americana contemporânea. Depois do lançamento do seu oitavo romance, "Lush Life" (vida exuberante, em tradução livre), é um elogio que hoje encontra eco em várias publicações. O livro será lançado no Brasil em 2009, pela Companhia das Letras.
Price já teve lançados aqui "Clockers" (esgotado), seu livro mais conhecido, e "Freedomland: Uma História Americana", ambos pela Rocco. Para ele, a diferença dos primeiros livros para "Lush Life" é que "uma parte específica da cidade de Nova York é como um personagem do filme. Não tenho idéia por que fez mais sucesso do que os outros".
A parte da cidade é o Lower East Side, região em transformação e pobre, "melting pot" que embaralha a língua de diferentes tribos, de onde ele garimpou os diálogos, expressões e gírias que são uma das grandes qualidades do seu texto. A pesquisa não foi pequena. Para reproduzir as expressões da polícia, precisou de uma autorização para acompanhar o trabalho dos policiais.
Mas ele nega que suas peregrinações pelo bairro sejam a fonte das suas histórias ou diálogos. "Eu uso mais a intuição para achar uma história", disse. "O impacto causado pelas mudanças do mercado imobiliário é que determina as histórias."
Em "Lush Life", a trama envolve um gerente de restaurante que vira suspeito do assassinato de seu amigo e funcionário. Os suspeitos iniciais, dois negros ou hispânicos, são personagens misteriosos ou inventados que ajudam a compor o quebra-cabeça.
Mas a trama, chave dos romances policiais, é o que menos importa para ele, um admirador de Elmore Leonard, entre outros. "Não acho que a trama tenha que suplantar os personagens". O gênero, aliás, parece ser um problema.
Price tenta eliminar a distinção entre literatura popular e alta literatura, além de desmistificar o rótulo policial. "Eu não gosto que me chamem de autor de policiais, mas entendo porque dizem isso. Não há livros policiais ou não-policiais. Há livros bons ou ruins", afirma.

Scorsese
Como roteirista, seu trabalho certamente é mais conhecido. Inclui "Shaft" (2000), "O Beijo da Morte" (95) e "Contos de Nova York" (89), este último no episódio de seu diretor preferido: Martin Scorsese.
"Scorsese foi o melhor diretor com quem já trabalhei, ele sabe exatamente o que quer. Se o diretor não sabe exatamente o que quer, é difícil fazer o roteiro". A parceria lhe rendeu uma indicação ao Oscar, com "A Cor do Dinheiro" (86).
Price teve as melhores referências da Flip, mas ainda não sabe o que vai discutir. Ele não conhece o quadrinista britânico Neil Gaiman, com quem vai debater em Paraty, no sábado (5/7). Ou melhor, nem conhece a obra de Gaiman. (MS)


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