São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2010

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Nietzsche para as massas

Michel Onfray, que lança na França HQ da vida do pensador alemão, defende o cartum para popularizar a filosofia; biógrafos Rüdiger Safranski e Domenico Losurdo, que publicam livros no Brasil, explicam o apelo do filósofo e a relação como nazismo

MARCOS FLAMÍNIO PERES
DE SÃO PAULO

Michel Onfray é a ovelha negra da filosofia francesa.
Sempre fez questão de bater de frente com a elite acadêmica. Em 2002, criou a Universidade Popular de Caën, com aulas grátis, abertas a todo tipo de público.
Sua "Contra-História da Filosofia" vira de pernas para o ar o cânon do pensamento ocidental, ao valorizar nomes marginalizados pela tradição, como o grego Epicuro (341a.C.- 271a.C.).
Nos últimos meses, alvejou a psicanálise, em dura polêmica com a historiadora Elisabeth Roudinesco.
Agora, acaba de lançar uma biografia em quadrinhos de Friedrich Nietzsche (1844-1900), com a intenção de "construir pontes" entre a filosofia e mídia de massa.
"Quero abrir mundos que vivem felizes em suas próprias tribos", afirma o coautor, com o cartunista Maximilien Le Roy, da história em quadrinhos "Nietzsche" (que ainda não tem data de lançamento prevista no Brasil).
Best-seller na França, onde o gênero tem estatura de obra de arte, o livro não estimulou os dois a explorarem o novo filão comercial.
"Que outros filósofos e outros quadrinistas mergulhem nesse negócio...Nós, não!"

NIETZSCHE E HITLER
Onfray também aborda a pergunta que não quer calar. O pensador que "matou Deus" e libertou o homem da metafísica foi o mesmo que forneceu o substrato ideológico do nazismo?
Muito popular na Europa até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Nietzsche caiu em desgraça após a ascensão de Hitler, quando passou a ser considerado um ideólogo "avant la lettre" do nazismo. Segundo Onfray, isso foi fruto de uma indecorosa manobra familiar.
"Sua irmã [Elisabeth] era fascista e quis fazer de seu irmão o ideólogo de suas ideias políticas", diz.
É da mesma opinião o biógrafo alemão Rüdiger Safranski, que está publicando no Brasil "Romantismo - Uma Questão Alemã".
"A irmã dele falsificou sua biografia", afirma. Mas ressalva que Nietzsche também tinha culpa no cartório. "Ele não era inocente", pois de fato tratou da "eliminação de formas de vida inferiores", lembra Safranski.

AFORISMOS E INSIGHT
Mas então por que ele era tão popular?
Para o professor de filosofia italiano Domenico Losurdo a razão principal reside no uso do aforismo.
Essa formulação curta e direta "atinge o leitor com uma imediatez fulminante", explica o autor da biografia "Nietzsche - O Rebelde Aristocrata", que também está sendo lançada no Brasil.
Safranski partilha dessa opinião e acrescenta que seus insights "anteciparam a psicanálise".
Já Onfray arrisca outra hipótese. No fundo, "Nietzsche propõe ao leitor a questão sobre como cada um, homem ou mulher, pode se tornar um super-homem".
Mas avisa que isso, para o autor da "Genealogia da Moral", deveria ser uma decisão individual -e não um programa partidário.


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