São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2010

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Para filósofo, HQ conduz leitor "às portas de um outro mundo"

Cartunista verteu para os quadrinhos obra de Onfray sobre diálogo entre filosofia e cinema

Autor autorizou a adaptação depois de Maximilien Le Roy dizer que formato "é cinema de pobre"

DE SÃO PAULO

Com sua HQ sobre Nietzsche, Michel Onfray explica como pretende levar a filosofia às massas.
Fala também de "Le Crépuscule d’une Idole" (o crepúsculo de um ídolo, ed. Grasset), que está saindo na França, sem previsão de lançamento no Brasil. Nele, Onfray bate de frente com dois ícones: um mundial -Sigmund Freud- e outro francês- a historiadora da psicanálise Elisabeth Roudinesco.
"Ela se cobriu de ridículo" em sua defesa da psicanálise, diz na entrevista abaixo.
(MARCOS FLAMÍNIO PERES)

 


Folha - Por que contar a vida de Nietzsche em quadrinhos?
Michel Onfray - Na verdade, tratava-se de uma obra publicada sob o título "L’Innocence du Devenir" [a inocência do futuro, ed. Galilée], que era o roteiro de um filme que eu publicara, mas sem perspectiva de trabalho com nenhum diretor.
A ideia era mostrar como seria fecundo haver passarelas entre a filosofia e o cinema, para um vivificar o outro.
Então, um jovem quadrinista [Maximilien Le Roy] me enviou um e-mail dizendo que "a HQ era o cinema dos pobres"! Ele queria saber se poderia desenhar a partir daquele roteiro. Claro que concordei, sabendo do excelente trabalho que fazia!

Como foi o trabalho a dois?
Com raríssimas exceções, respeitou inteiramente o texto de meu roteiro. Ele fez um périplo pela Europa para fotografar os locais [por onde Nietzsche passou], enviando-me regularmente seus desenhos, até que o álbum já estava quase nas livrarias!
Só então me encontrei com Maxime, que jamais vira nem sequer escutara ao telefone...

É possível popularizar a filosofia a partir da HQ?
É possível construir pontes para abrir mundos fechados em seus guetos, onde cada um leva sua vidinha tranquila ao abrigo de tudo e todos.
Mas não me iludo: o que o livro de filosofia faz, a HQ não faz -mas o inverso também é verdade. Assim, a HQ pode levar às portas de um outro mundo leitores que, por princípio, teriam recusado se aproximar dele.

Nietzsche é o filósofo mais popular de nosso tempo?
O mais popular é provavelmente Sócrates... Mas os jogadores de futebol e as cantoras são muito mais populares do que os filósofos!
Onde situar Nietzsche na história da filosofia?
Como inventor do pós-cristianismo: ele foi o primeiro a propor um pensamento vivo e concreto para viver e agir em um mundo sem Deus.

Sua crítica à psicanálise provocou forte reação de Roudinesco (em "Mas Por Que Tanto Ódio?"). A psicanálise é uma ideia fracassada?
Fracassou, se levarmos em consideração o ridículo de que se cobriu a senhora Roudinesco. Ela cuida e cura as patologias mais pesadas daqueles que pretendem cuidar dos outros, enquanto eles mesmos não estão curados!
Se me permite uma pirueta: porque tanto ódio?


NIETZSCHE

AUTORES Michel Onfray e Maximilien LeRoy
EDITORA Les Editions du Lombard
QUANTO € 19(126 págs.)
AVALIAÇÃO bom



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