São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2010 |
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Para filósofo, HQ conduz leitor "às portas de um outro mundo"
Cartunista verteu para os quadrinhos obra de Onfray sobre diálogo entre filosofia e cinema
Com sua HQ sobre Nietzsche,
Michel Onfray explica
como pretende levar a filosofia às massas.
Folha - Por que contar a vida de Nietzsche em quadrinhos? Michel Onfray - Na verdade, tratava-se de uma obra publicada sob o título "L’Innocence du Devenir" [a inocência do futuro, ed. Galilée], que era o roteiro de um filme que eu publicara, mas sem perspectiva de trabalho com nenhum diretor. A ideia era mostrar como seria fecundo haver passarelas entre a filosofia e o cinema, para um vivificar o outro. Então, um jovem quadrinista [Maximilien Le Roy] me enviou um e-mail dizendo que "a HQ era o cinema dos pobres"! Ele queria saber se poderia desenhar a partir daquele roteiro. Claro que concordei, sabendo do excelente trabalho que fazia! Como foi o trabalho a dois? Com raríssimas exceções, respeitou inteiramente o texto de meu roteiro. Ele fez um périplo pela Europa para fotografar os locais [por onde Nietzsche passou], enviando-me regularmente seus desenhos, até que o álbum já estava quase nas livrarias! Só então me encontrei com Maxime, que jamais vira nem sequer escutara ao telefone... É possível popularizar a filosofia a partir da HQ? É possível construir pontes para abrir mundos fechados em seus guetos, onde cada um leva sua vidinha tranquila ao abrigo de tudo e todos. Mas não me iludo: o que o livro de filosofia faz, a HQ não faz -mas o inverso também é verdade. Assim, a HQ pode levar às portas de um outro mundo leitores que, por princípio, teriam recusado se aproximar dele. Nietzsche é o filósofo mais popular de nosso tempo? O mais popular é provavelmente Sócrates... Mas os jogadores de futebol e as cantoras são muito mais populares do que os filósofos! Onde situar Nietzsche na história da filosofia? Como inventor do pós-cristianismo: ele foi o primeiro a propor um pensamento vivo e concreto para viver e agir em um mundo sem Deus. Sua crítica à psicanálise provocou forte reação de Roudinesco (em "Mas Por Que Tanto Ódio?"). A psicanálise é uma ideia fracassada? Fracassou, se levarmos em consideração o ridículo de que se cobriu a senhora Roudinesco. Ela cuida e cura as patologias mais pesadas daqueles que pretendem cuidar dos outros, enquanto eles mesmos não estão curados! Se me permite uma pirueta: porque tanto ódio? NIETZSCHE AUTORES Michel Onfray e Maximilien LeRoy EDITORA Les Editions du Lombard QUANTO € 19(126 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Raio-x: Michel Onfray e Rüdiger Safranksi Próximo Texto: Nietzschianas Índice |
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