São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2011

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Panorama busca arte fora do eixo Rio-SP

Para curadoria, descentralização de recursos da cultura impulsionou a produção em outras regiões do país

Mostra no MAM-SP pretende expor painel das artes visuais brasileiras na primeira década do século 21

DE SÃO PAULO

A maioria dos artistas selecionados para o Panorama da Arte Brasileira 2011 (19 dos 33 nomes) não tem origem no eixo Rio-São Paulo.
Essa proporção, que contraria parte das mostras com caráter nacional até então realizadas, é resultado, em parte, de políticas públicas adotadas pelo governo Lula (2003-2010) que favoreceram a produção das artes visuais em outras regiões do país.
"Eu sinto na pele a mudança desse paradigma, da descentralização de recursos na cultura, que transformou a precariedade e o anacronismo em certas regiões. Claro que, como a questão das cotas, pode também ter um lado ruim. Mas não posso ser contra já que essa política favoreceu em muito o meu lugar", afirma a curadora Cristiana Tejo, do Recife.
Com a seleção da mostra, ela e Cauê Alves, responsáveis pelo Panorama 2011, pretendem realizar também um balanço do sistema da arte brasileira na primeira década do século 21.
"A redistribuição de verbas na cultura teve o mesmo efeito que o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio, que vale para o ingresso em universidades públicas de todo o país] na educação. Ou seja, aumentou a circulação", diz Alves.

PARA EXPORTAÇÃO
Se, por um lado, o Panorama indicará como as políticas públicas refletiram positivamente nas artes visuais, por outro, ele também irá assinalar a voracidade do circuito comercial.
"O mercado de arte é predador. Ele só quer colher a fruta bonita para exportação. Mas, hoje, os artistas podem sair desse problema por editais e, por isso, há locais como Recife, Belém ou Florianópolis, que vivem sem mercado de arte", diz Tejo.
Outra transformação que a mostra deve exibir é a mutação do discurso político. Há dez anos, na edição de 2001, o Panorama apresentou uma série de obras bastante engajadas com o contexto do país.
"Nós percebemos que ser político hoje é o modo como o artista responde ao mercado, como ele lida com esse sistema", complementa Tejo.
(FABIO CYPRIANO)


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