São Paulo, sábado, 28 de julho de 2007

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Mercado de livro cresce e pressiona por profissionalização das editoras

Aumento de vendas e faturamento reflete incremento da competição; Ediouro, que pretende abrir capital, lidera aquisições

Marcelo Nogare/Folha Imagem
Paulo Rocco, que dirige o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL)


MARCOS STRECKER
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Depois de uma década de incertezas, o mercado editorial dá sinais de ter voltado a crescer de maneira mais firme. É o que vai revelar a mais recente pesquisa conjunta do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) e da CBL (Câmara Brasileira do Livro), a ser divulgada nos próximos dias. Alguns números do levantamento foram adiantados à Folha por Paulo Rocco, presidente do sindicato que reúne editoras do país.
A pesquisa aponta um aumento do faturamento total das empresas de R$ 2,572 bilhões para um número próximo de R$ 3 bilhões, que reflete também um aumento das aquisições por programas governamentais. Mas o aumento foi de fato "puxado" pelo mercado. Em obras gerais (excluindo didáticos, religiosos e técnicos), houve um acréscimo de 9,51% no faturamento e um aumento no número de exemplares vendidos de 4,68%.
Os números refletem a intensa movimentação da área. Depois da onda "das espanholas" (a entrada dos grupos Planeta e Santillana/Prisa), no começo dos anos 2000, agora o mercado vem sendo sacudido pela compra e fusões de editoras, movimento que é impulsionado pela Ediouro.
Esse grupo brasileiro, fundado em 1939, tem liderado um processo agressivo de aquisições, preparando-se para entrar na bolsa de valores. Só neste ano, fechou a aquisição da Nova Fronteira, fez uma associação com a Nova Aguilar e negocia agora a compra dos selos Arx, Futura e Caramelo, da Siciliano. O último lance desse processo teria sido a entrada na Ediouro da Governança & Gestão Investimentos, administradora de fundos de "private equity" de Antonio Kandir. Luiz Fernando Pedroso, diretor-superintendente da Ediouro, confirma a participação de Kandir no conselho editorial do grupo, mas nega que tenha havido mudança na sociedade.
O acirramento da competição no mercado de livros força a profissionalização das editoras. Ainda marcado pela tradição de empresas familiares e pela falta de transparência, o setor amadureceu a ponto de comportar empresas em bolsa?
Pedroso diz que para isso "as editoras têm de aumentar de tamanho [escala], profissionalizar-se e implementar um ambiente de "melhores práticas" e inovação". Paulo Rocco acha que a opção da Ediouro é um caso isolado e não enxerga concentração, considerando que a compra e fusão nesse segmento "sempre existiu".
Roberto Feith, da Objetiva, que representa o grupo Santillana/Prisa, lembra que países mais ricos passaram pela concentração. "Não digo que isso vai ocorrer aqui, mas é uma tendência". A Objetiva tem evitado os leilões cada vez mais caros das "promessas de best-sellers" e aposta no crescimento de longo prazo.
Investiu no selo Alfaguara, para literatura de qualidade, e prepara o lançamento de dois selos, um de auto-ajuda e outro de livros de bolso -outra tendência no mercado, já seguida pela L&PM e pela Companhia das Letras, e que também terá a entrada agressiva da Record em setembro.
"Concentração do mercado ou abertura de capital em bolsa não têm a ver com profissionalização", diz Luciana Villas-Boas, diretora editorial da Record. "O que tem a ver com a profissionalização é a concorrência, que obriga o proprietário ou os sócios do empreendimento a contratar executivos que conheçam o livro como produto e como bem simbólico, que conheçam o negócio. Nem residualmente sobrevive hoje aquele editor que só publica suas próprias preferências e acha que o marketing conspurca o livro", diz.
Para Villas-Boas, "a economia está em um bom momento, e setores da classe média acabam o mês com um pouco mais de dinheiro no bolso". Além disso, "o dólar baixo diminui agradavelmente o custo de insumos fundamentais, como o papel e o direito autoral do livro traduzido".


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