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Crítica/romance
Contos moldam livro certeiro e desconcertante de Palahniuk
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
É chegada a hora de você
encarar Chucky 7 -ou
melhor, "Assombro", o
sétimo e mais desconcertante
livro de Chuck Palahniuk-, e,
como de hábito na ficção desse
seguidor macabro de Edgar
Allan Poe, as surpresas não param na segunda página e seguem apavorando o leitor
até o fim.
Quanto sofrimento, porém,
será necessário para se atingir a
revelação final? Bem, essa pergunta só poderá ser respondida
pelo seu estômago.
Adianto que não se trata de
figura de linguagem. "Assombro", um romance de configuração pouco usual e certeira
que intercala poemas e contos
"escritos" pelos personagens, é
um livro difícil de roer e, principalmente, de digerir.
A história do grupo de pessoas que atende a um anúncio
de jornal dizendo "Retiro de escritores. Abandone sua vida por
três meses" começa pelo já célebre conto "Tripas". Palahniuk
promoveu leituras do texto na
turnê promocional do livro
"Diário", em 2004, e pessoas
desmaiavam à sua audição.
Reality show
Se não é para tanto, a história
do masturbador compulsivo
que tem as tripas sugadas pelo
ralo da piscina também não é
algo que abra o apetite de ninguém. Exímio em seu trabalho
de descrição, mesmo que em
pequeníssima escala, Palahniuk deve ter contribuído para
a diminuição das vendas de
fast-food nos países em que o livro foi publicado.
A dieta segue rigorosa ao longo da fábula, com amputações,
cenas de canibalismo, coprofagia e outras aviltações mais. E,
desta vez, sem humor nenhum,
ao contrário de seus livros
anteriores.
Conduzidos de ônibus a um
castelo pelo senhor Whittier e
sua assistente, senhora Clark,
os escritores internam-se numa espécie de reality show inspirado pela lendária passagem
de John Polidori, Lord Byron e
Percy e Mary Shelley pela Villa
Diodati, às margens no lago Genebra, em temporada que gerou dois entre os maiores clássicos do horror, "Frankenstein" (Shelley) e "The Vampyre" (Polidori).
Denominados como personagens temáticos de um parque -miss América, santo Estripado, madame Mendiga e
conde da Calúnia, por exemplo-, eles têm de criar baseados em suas biografias pessoais. Às histórias reveladoras
que contam são intercaladas
passagens episódicas da sua estada no castelo, onde logo na
chegada se descobrem prisioneiros de um maníaco que os
manterá sem alimentos
ou higiene.
Os contos autobiográficos
aos poucos revelarão o grau de
"culpa" de cada um dos personagens, deixando na boca o travo moral característico de Palahniuk, autor que tem o hábito
de revestir suas competentes
fábulas com moralismos quase
sempre superficiais e desnecessários.
Outro de seus maneirismos
estilísticos é a repetição de determinada frase dita pelos narradores, recurso que acaba retirando credibilidade de seus
personagens, fazendo com
que soem todos parecidos entre si. Tal problema, entretanto, não retira do romance sua
eficácia narrativa.
Somente tal explicação pode
justificar o fato de se chegar
ao final de um livro tão repugnante. Além, claro, do masoquismo fundamental para
qualquer leitor desavisado
que abra um livro de Chuck
Palahniuk.
JOCA REINERS TERRON é escritor, autor de
"Sonho Interrompido por Guilhotina" (Casa da
Palavra)
ASSOMBRO
Autor: Chuck Palahniuk
Tradução: Paulo Reis
Editora: Rocco
Quanto: R$ 49,50 (338 págs.)
Avaliação: bom
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