São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2008

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Livro faz painel sobre músico pioneiro

Precursor do choro no século 19, Joaquim Callado é tema de novo trabalho do historiador André Diniz

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

O historiador André Diniz, 37, reconhece: seria "quase impossível" fazer uma biografia de Joaquim Callado (1848-1880), tão poucas são as referências disponíveis a seu respeito. O que ele buscou em "Joaquim Callado - O Pai do Choro" foi montar um painel sobre esse músico que influenciou Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e muitos outros, mas não alcançou o tempo das gravações.
"O livro tem muito do sonho do pesquisador, de ficar três meses num arquivo para conseguir uma linha, e do desejo de ser um escritor com sensibilidade para construir um personagem, dar musculatura a ele com o contexto social e cultural da época", explica o autor.
Esse tipo de costura ele já tinha feito em "O Rio Musical de Anacleto de Medeiros", lançado no ano passado. E Diniz também é autor de "Almanaque do Choro" (2003), "Almanaque do Samba" (2006) e "Almanaque do Carnaval" (2008).
Mas a pesquisa sobre Callado antecede a criação do filão, pois foi feita para uma tese de mestrado concluída em 2002.
"O texto do livro é completamente diferente. Busquei uma linguagem mais clara, um modo mais agradável de essa história chegar ao leitor", avisa.
Flautista excepcional, autor de pelo menos 66 melodias (catalogadas pelo violonista Mauricio Carrilho), Callado conseguiu conciliar sólida formação musical e grande poder de improvisação, ingredientes dos que, a partir dele, começariam a ser chamado de chorões.
Em sua época, o choro ainda não existia como gênero -o que só veio a se firmar no início do século 20-, mas como uma forma à brasileira de se tocar polcas, valsas e outras músicas européias. Por criar o pioneiro conjunto Choro Carioca, Callado se tornou conhecido como "o pai do choro".
"O choro não tem só um pai, mas, como diz o [historiador José Ramos] Tinhorão, Callado é o primeiro localizável no tempo", explica Diniz.
Ele faz um panorama do que já foi escrito sobre o flautista, procurando relativizar certas referências. A folclorista Mariza Lira, por exemplo, escreveu nos anos 40 um ensaio importante marcado pelas idéias de Gilberto Freyre ("Casa-grande & Senzala"), no qual o mestiço Callado aparece como exemplo das qualidades derivadas da mistura de etnias no Brasil.
"Procuro atualizar o debate, mostrando que a musicalidade não está ligada a uma questão de raça", diz o autor.

JOAQUIM CALLADO - O PAI DO CHORO
Autor: André Diniz
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 38 (148 págs.)



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