São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2010

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Rushdie para menores

Em "Luka", seu novo romance, Salman Rushdie funde videogame e mitologia para contar a vida de um menino que busca salvar o pai

Cate Gillon - 26.ago.08/Getty Images
Salman Rushdie (à dir.) ao lado do filho Milan, para quem dedicou "Luka e o Fogo da Vida", que é lançado hoje no Brasil

MARCOS FLAMÍNIO PERES
DE SÃO PAULO

Só um adulto bobalhão ignora que MCD+PDs são, é óbvio!, Máquinas Complicadas Demais para Descrever. Mas não Super Luka, Grão Mestre dos Jogos e super-herói do novo romance de Salman Rushdie, que é lançado hoje no Brasil.
Dedicado ao filho Milan, 11, "Luka e o Fogo da Vida" recicla mitologias arcaicas -grega, egípcia, persa...- , ao ritmo alucinante dos videogames. Nele, Luka mergulha no Mundo da Magia -versão literária de Wiis e Playstations, com etapas a superar e botões de "save" pairando no ar- para resgatar o Fogo da Vida e salvar o pai moribundo na vida real.
Rushdie -que confessa na entrevista abaixo, por telefone, ser um antigo de fã de games- diz que eles fornecem um novo padrão à ficção.
E, mais que isso, são uma outra forma de entender a existência: nos games, diz, "a vida se torna simplesmente algo que você coleciona".
O escritor anglo-indiano também fala da proibição do véu islâmico em países da Europa, de revolução digital, traça um paralelo entre Brasil e Índia e explica por que Maquiavel -tema de seu debate com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 6/8, durante a Flip- ainda é importante hoje.

Folha - Por que a opção por videogames? Salman Rushdie - Gosto deles porque apresentam um modo muito novo de contar uma história. Há os estágios que você supera e pode, assim, salvar seu progresso.
É uma ideia bastante interessante: pode-se ter milhares de vidas em um videogame e, a cada vez que perde uma, você usa a próxima.
Refleti sobre o que aconteceria se eu aplicasse à literatura esse modo de contar uma história. Muitos videogames usam o formato da busca, e "Luka" também é um romance de busca.

Ele pode então ser considerado um experimento, fundindo o velho e o novo?
De certo modo, todos os meus livros fazem isso. Mesmo em "Os Filhos da Meia-Noite" há elementos mitológicos misturados à linguagem das ruas de Mumbai. São colisões criativas.

Gosta da série Harry Potter?
Sim. Meu filho lia, e eu também acabei lendo para saber do que se tratava. Nós dois éramos especialistas!

O sr. mencionou "Os Filhos da Meia-Noite", sua grande obra. É possível fazer um paralelo entre o narrador daquele, Salim Sinai -que está contando a história de sua vida e de seu país- com a do garoto Luka, que recria sua própria história no contexto de um videogame?
Sim, pois em ambos são crianças que estão no centro da história. As crianças nos permitem ver o mundo todo como uma coisa única. Isso cria uma série de possibilidades divertidas para a ficção.

Em "Os Filhos da Meia-Noite", o sr. falou da independência da Índia como "um novo mito". Hoje, tanto Índia quanto Brasil "renasceram" para o mundo, econômica e geopoliticamente. Que similaridades vê entre os momentos históricos de ambos?



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