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Historiadores negam que tela restaurada seja de Caravaggio
Pesquisa tenta identificar autor de "O Martírio de São Lourenço"
DE SÃO PAULO
Especialistas em Roma
descartaram ontem a possibilidade de o quadro "O Martírio de São Lourenço" ser de
Caravaggio (1571-1610).
Um artigo no jornal do Vaticano, "L'Osservatore Romano", havia anunciado a
obra que pertence aos jesuítas como um trabalho desconhecido do mestre barroco
no dia em que se completaram 400 anos de sua morte.
Nesse texto, comparava-se
a tela restaurada às obras
mais célebres de Caravaggio
e exaltava-se a luminosidade
como um marco do artista.
Voltando atrás, o mesmo
jornal depois questionou a
autoria da obra, desmentindo a hipótese de que seja um
Caravaggio e chamando de
"modestas" suas qualidades.
Historiadores que analisaram o quadro ontem em sua
primeira exibição pública
concordaram que a luminosidade da tela, um chiaroscuro típico, lembra a técnica de
Caravaggio, mas criticaram
os traços grosseiros da tela.
No quadro, São Lourenço
aparece visto de baixo, sobre
uma grelha, o braço estendido e seus algozes ao fundo.
Enquanto alguns pontos
foram bem executados, como o ângulo inusitado da
composição e o braço de um
dos executores, há problemas no corpo dos capatazes,
no pano cobrindo o santo e
uma perna do personagem.
"Essa perna parece de um
sapo", disse ontem o historiador Marco Bona Castellotti. "Caravaggio jamais teria
cometido um erro desses."
Também esteve na exibição do quadro ontem em Roma a alemã Sybille Ebert-Schifferer, uma das maiores
especialistas no autor, que
lançou um grande estudo sobre sua obra neste ano.
"Entre estudiosos de Caravaggio, há expansionistas
que atribuem muito mais
quadros a ele", disse Ebert-Schifferer à Folha numa entrevista em abril deste ano.
"É preciso restringir o foco
para entender como ele era
como artista e não dar 20
quadros a mais a ele."
(SILAS MARTÍ)
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