|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA BLUES
Buddy Guy e Junior Wells definem o blues
Relançado com CD extra, disco produzido há 40 anos por Eric Clapton permanece como a cartilha do gênero
THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA SÃOPAULO
Em 1965, Eric Clapton era
Deus na Inglaterra, tocando
guitarra no Yardbirds. Naquele ano, assistindo a um
show do guitarrista Buddy
Guy, ele teve a ideia de criar
um trio de blues pesado.
Formou então o Cream,
precursor da cena hard rock e
heavy metal das décadas seguintes. "Buddy Guy foi para
mim o que Elvis foi para os outros", disse certa vez.
Em 1970, Clapton entrou
em um estúdio na Flórida para produzir um disco de seu
ídolo, que acabara uma longa turnê dividindo o palco
com o gaitista Junior Wells, abrindo shows dos Stones.
As gravações conturbadas
(Clapton brigou com os outros produtores, Tom Dowd e
Ahmet Ertegun) geraram um álbum genial, que é lançado agora no Brasil com CD extra.
Quem escuta as poderosas
faixas de "Buddy Guy & Junior Wells Play the Blues",
uma verdadeira cartilha de como se toca o gênero, não imagina o caminho tortuoso até a edição final.
Clapton deixou só oito faixas acabadas. Para o lançamento do disco, em 1972,
duas canções foram incluídas a partir de uma sessão de
gravações de Buddy Guy com a roqueira J. Geils Band.
A nova edição do disco traz um belo encarte e mais 13 faixas extraídas do material gravado com Clapton.
Guy e Wells formam a melhor representação do "blues de Chicago", uma cena que influenciou gerações de bluesmen e, principalmente,
músicos de rock, de Jimmy Page a Jack White.
Junior Wells nasceu em
1934 e morreu em 1998, deixando o som de sua harmônica em mais de 80 álbuns. Ele
despontou aos 19 anos, substituindo Little Walter na banda da lenda Muddy Waters.
No início dos anos 60, começou a parceria com Buddy
Guy. Diz a lenda do blues que
os dois teriam dividido o palco em mais de 300 shows.
Guy nasceu em 1936 e hoje
assiste a shows de rock da garotada sabendo que não existiriam sem sua essencial contribuição na ponte entre rock
branco e blues negro.
A guitarra de Guy, lânguida, sensual até, percorre de
forma hipnótica as faixas de
"Buddy Guy & Junior Wells
Play the Blues". Ela dá corpo
às canções, enquanto a harmônica de Wells incendeia
um clima de celebração.
Eles dividem os vocais. O
tom de Guy é mais grave e se
presta melhor às letras típicas do blues: mulheres que
atiçam os caras para depois
largá-los e muito bourbon para que eles as esqueçam.
Se é possível destacar faixas num disco tão impactante, que sejam então "My Baby
She Left Me (She Left Me a
Mule to Ride)", em que Wells
paga tributo à gravação de
1941 de seu mestre, Sonny
Boy Williamson, ou "Last Night", com o som arrepiante de Clapton na slide guitar.
De vez em quando algum
crítico classifica o álbum como a mais refinada gravação
de blues elétrico. É verdade.
BUDDY GUY & JUNIOR WELLS PLAY THE BLUES
ARTISTA Buddy Guy & Junior Wells
GRAVADORA Warner
QUANTO R$ 49, em média
AVALIAÇÃO ótimo
Texto Anterior: Folha.com Próximo Texto: Crítica Jazz: DVD clássico da "lenda" Ornette Coleman ganha edição nacional Índice
|