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CRÍTICA
São 25 minutos radicais de imenso cinema
AMIR LABAKI
de Nova York
Não mais que 25 minutos do
drama de guerra "O Resgate do
Soldado Ryan" foram o bastante
para Steven Spielberg ultrapassar
Peter Weir ("O Show da Vida")
na corrida pelo Oscar-98 e liderar
as bilheterias neste fim de semana
nos EUA (US$ 30 milhões)."
Como os espectadores brasileiros poderão conferir em setembro, "Ryan" começa recriando
com uma violência arrepiante o
sangrento desembarque americano em praias da França no Dia D
(6 de junho de 1944), iniciando a
ofensiva que venceria a Segunda
Guerra Mundial.
O objetivo de Spielberg parece
ser apresentar o desespero e a
crueldade da experiência no front
para uma geração de espectadores
crescidos diante da frieza e esterilidade da guerra vista ao vivo pela
TV. O combate contra o nazi-fascismo é filmado como antes o cinema só propiciara reconstituir a
Guerra do Vietnã, a partir dos 80.
A incrível mobilidade conquistada
para a câmera garante um realismo antes apenas sonhado.
A câmera cai no mar e levanta-se, imitando a queda dos soldados. A lente não é limpa do contato com água, areia e "sangue".
Da velocidade das imagens à cor
pouco saturada, tudo remete ao
cine-documentarismo da época
-mais precisamente, às sequências
censuradas, em nome da manutenção de uma elevada moral.
O tratamento sonoro segue a
mesma linha de radical realismo.
Os sons de tiros compõem uma
macabra sinfonia, abafados pelo
impacto na carne ou metálicos
quando atingem armas e capacetes. Por vezes instala-se um quase
silêncio, num efeito que mimetiza
a surdez posterior a uma explosão.
A postura da tropa que chega à
Normandia rompe com o tratamento heróico típico das versões
cinematográficas anteriores. Ainda em alto-mar, a mão do comandante treme, recrutas vomitam, a
máscara de terror iguala todos.
Essa quase meia hora de desespero e carnificina é a resposta de
Spielberg a meio século de glamourização hollywoodiana da Segunda Guerra. É curioso que o diretor de "A Lista de Schindler", e
inúmeros outros filmes direta ou
indiretamente relacionados com o
conflito ("1941", "Caçadores da
Arca Perdida", "Império do
Sol"), tenha evitado citar em entrevistas o filme paradigmático da
tendência a que agora responde.
Em 1962, dezessete anos após o
fim do guerra, Darryl F. Zanuck
(1902-1979) deu sua épica e internacionalista versão em "O Mais
Longo dos Dias". Escalou todos
os ícones disponíveis, de John
Wayne e Henry Fonda a Richard
Burton e Sean Connery. A pretensão era produzir o filme definitivo
sobre o início do fim da guerra.
Das três horas de "O Mais Longo dos Dias" o mesmo desembarque, preparado por acordes da
"Quinta" de Beethoven, ocupava
sete minutos. Um destemido Robert Mitchum comandava sua tropa praia adentro. O som dos tiros
era abafado pelos gritos eufóricos
dos recrutas.
Mas "O Resgate do Soldado
Ryan" revisita "O Mais Longo
dos Dias" apenas em sua primeira
e antológica metade. Depois da
tragédia, a missão. Um grupo de
oito homens é enviado para resgatar o único sobrevivente dos quatro irmãos Ryan (Matt Damon),
perdido em algum lugar da França
ocupada. O roteiro de Robert Rodat não economiza em clichês na
composição e atuação do time.
Os principais são o capitão cético (Tom Hanks), o sargento violento (Tom Sizemore), o atirador
neurótico (Barry Pepper), o recruta sofisticado (Ed Burns) e o medroso soldado-tradutor (Jeremy
Davies, um misto de Audie
Murphy e Charlie Sheen).
Entre batalhas localizadas e querelas entre si, todos têm oportunidade de solar. Diálogos pouco sutis reafirmam o inferno da guerra
e o absurdo da tarefa. O encontro
de Ryan é um anticlímax, mal
compensado pelo desafio final imposto pela resistência dele em partir: a defesa de uma ponte contra
um ataque alemão.
Não é apenas a inconsistência
dramática que arrefece o impacto
do final do filme. Os ecos da sequência de abertura ainda empalidecem qualquer nova encenação.
Parece pouco a volta de Spielberg
à eficiência costumeira.
O epílogo retoma o prólogo. A
bandeira americana encerra o filme da mesma forma que o abriu,
em outra concessão ao patriotismo melodramático. Por sorte, nada disso agarra-se à memória,
congestionada por 25 minutos de
imenso cinema.
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