São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2004

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CINEMA

Escadas do Municipal reúnem cerca de 300 pessoas

Clima democrático abre Festival Internacional de Curtas de SP

DA REPORTAGEM LOCAL

"Democrática" seria a melhor descrição para a atmosfera da praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo, na noite de quinta-feira. Cerca de 300 pessoas -entre elas intelectuais, estudantes, passantes e moradores de rua- dividiam cada centímetro das escadarias do Teatro Municipal para assistir a projeções em uma enorme tela ao ar livre.
Curiosamente, o que chamou a atenção de um público tão grande e eclético para as noites do centro não tinha nada a ver com as Olimpíadas -principal unificador das massas do Brasil atualmente-, mas sim com o cinema.
Era a abertura do 15º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que acontece em 13 salas até 4 de setembro.
O analista financeiro Fábio Ferreira de Almeida, 36, era um dos representantes da "democracia". Almeida, que voltava para casa do trabalho, não conteve a risada ao assistir o curta alemão "Quarta-feira à Noite em Tóquio", sobre o metrô japonês. "Isso aí está um pouco pior que aqui", disse ele sobre a imagem de pessoas sendo empurradas para dentro de um vagão. "Se bem que a linha leste é mais ou menos isso."
Pessoas que faziam parte do material apresentado, orgulhosas, se misturavam ao público. No rosto de Hesh Sarmalkar, 30, ator principal do curta norte-americano "Sangam", era possível notar a felicidade de participar do primeiro festival internacional.
A animação era compartilhada pelo norte-americano Phil Roc, diretor do curta "Cidade X", que participava, pela primeira vez, de uma exibição de filmes ao ar livre, aberta para o grande público. "Esse tipo de apresentação é muito mais interessante. Nos Estados Unidos é difícil existir um espaço desses para curtas-metragens. As pessoas estão voltadas para Hollywood e grandes produções."
Do lado de dentro do Teatro Municipal, o clima amistoso entre os secretários da Cultura municipal e estadual, Celso Frateschi e Claudia Costin, refletia a democracia das escadarias.
Em discurso, no entanto, Frateschi afirmou que os governos fazem "muito pouco pelo cinema em São Paulo".
"Nós vamos sair dessa etapa, criando um sistema nacional de cultura, em que o cinema vai ter formas mais definitivas de financiamento, em que nós vamos poder trabalhar de uma forma mais tranqüila na área de cinema."
Homenageado da noite, o produtor e fotógrafo húngaro naturalizado brasileiro Thomaz Farkas, foi breve e enfático. "Viva o documentário, viva o curta-metragem, viva o festival e viva o cinema. É o que nós temos que fazer."
Abordado pela reportagem para uma entrevista, Farkas, simpático e apressado, desculpou-se: "Sabe o que é? É que eu quero ver meu filme", disse e correu, como se não estivesse completando 80 anos, para assistir à sessão de "Thomaz Farkas, Brasileiro", que inaugurou o festival.


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