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CINEMA
Escadas do Municipal reúnem cerca de 300 pessoas
Clima democrático abre Festival Internacional de Curtas de SP
DA REPORTAGEM LOCAL
"Democrática" seria a melhor
descrição para a atmosfera da
praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo, na noite de quinta-feira. Cerca de 300 pessoas
-entre elas intelectuais, estudantes, passantes e moradores de
rua- dividiam cada centímetro
das escadarias do Teatro Municipal para assistir a projeções em
uma enorme tela ao ar livre.
Curiosamente, o que chamou a
atenção de um público tão grande
e eclético para as noites do centro
não tinha nada a ver com as Olimpíadas -principal unificador das
massas do Brasil atualmente-,
mas sim com o cinema.
Era a abertura do 15º Festival Internacional de Curtas-Metragens
de São Paulo, que acontece em 13
salas até 4 de setembro.
O analista financeiro Fábio Ferreira de Almeida, 36, era um dos
representantes da "democracia".
Almeida, que voltava para casa do
trabalho, não conteve a risada ao
assistir o curta alemão "Quarta-feira à Noite em Tóquio", sobre o
metrô japonês. "Isso aí está um
pouco pior que aqui", disse ele sobre a imagem de pessoas sendo
empurradas para dentro de um
vagão. "Se bem que a linha leste é
mais ou menos isso."
Pessoas que faziam parte do
material apresentado, orgulhosas,
se misturavam ao público. No
rosto de Hesh Sarmalkar, 30, ator
principal do curta norte-americano "Sangam", era possível notar a
felicidade de participar do primeiro festival internacional.
A animação era compartilhada
pelo norte-americano Phil Roc,
diretor do curta "Cidade X", que
participava, pela primeira vez, de
uma exibição de filmes ao ar livre,
aberta para o grande público. "Esse tipo de apresentação é muito
mais interessante. Nos Estados
Unidos é difícil existir um espaço
desses para curtas-metragens. As
pessoas estão voltadas para Hollywood e grandes produções."
Do lado de dentro do Teatro
Municipal, o clima amistoso entre
os secretários da Cultura municipal e estadual, Celso Frateschi e
Claudia Costin, refletia a democracia das escadarias.
Em discurso, no entanto, Frateschi afirmou que os governos
fazem "muito pouco pelo cinema
em São Paulo".
"Nós vamos sair dessa etapa,
criando um sistema nacional de
cultura, em que o cinema vai ter
formas mais definitivas de financiamento, em que nós vamos poder trabalhar de uma forma mais
tranqüila na área de cinema."
Homenageado da noite, o produtor e fotógrafo húngaro naturalizado brasileiro Thomaz Farkas,
foi breve e enfático. "Viva o documentário, viva o curta-metragem,
viva o festival e viva o cinema. É o
que nós temos que fazer."
Abordado pela reportagem para uma entrevista, Farkas, simpático e apressado, desculpou-se:
"Sabe o que é? É que eu quero ver
meu filme", disse e correu, como
se não estivesse completando 80
anos, para assistir à sessão de
"Thomaz Farkas, Brasileiro", que
inaugurou o festival.
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