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Onde está Coppola
Diretor de"O Poderoso Chefão" prepara primeiro filme em uma década em busca da "reinvenção"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
"O que está faltando? Qual
pode ser a razão para a mesma
pessoa, mais tarde na vida, ser
incapaz de competir consigo
mesma quando era um jovem
artista? Há algo mesmo faltando, ou a resposta é simples: que
a cada pessoa é dada apenas
uma ou duas idéias que realmente valem a pena, como duas
flechas num coldre?"
O autor das inquietações acima, colocadas na forma de três
entradas de texto num blog, é
Francis Ford Coppola. O mesmo que dirigiu a trilogia "O Poderoso Chefão" (1972-1990),
que definiria no imaginário coletivo o conceito de "família
real" do crime. O mesmo que
criou o drama-de-guerra-para-acabar-com-todos-os-dramas-de-guerra, o épico "Apocalypse
Now" (1979). O mesmo que ganhou cinco Oscars.
Depois de 1997, após dirigir
dois filmes medíocres ("Jack" e
"O Homem que Fazia Chover"), o cineasta guardou a câmera no bolso e se recolheu.
Desde então, se dedica mais à
sua vinícola no Vale do Napa,
no norte da Califórnia, uma das
cinco maiores dos EUA, e aos
seus dois hotéis-butique em
Belize, na América Central,
embora sua produtora, a American Zoetrope, continue envolvida em diversos projetos.
Mas, por onde anda Coppola,
o diretor? Principalmente, por
onde anda Coppola, o grande
diretor?
"Tenho pensado no que parece ser um padrão: artistas que
se destacam quando são jovens
e então nunca mais conseguem
atingir aqueles níveis de novo.
Há muitos exemplos, especialmente na literatura, no teatro e,
é claro, no cinema", escreve ele,
em outra entrada. O cineasta,
que tinha 32 anos ao fazer o primeiro "Chefão", cita Tennessee
Williams, Norman Mailer e J.
D. Salinger como exemplos.
"Muitos artistas alcançam o
que parece ser o auge de suas
carreiras quando são muito novos e, embora tentem com esforço, percebem que, aos olhos
dos críticos, de seus leitores ou
espectadores e talvez até mesmo aos próprios olhos, nunca
alcançam ou superam o trabalho de sua juventude", continua. Há uma saída?
"Tenho pensado que o único
jeito lógico de lidar com esse dilema é se tornar jovem de novo,
esquecer tudo o que eu sei e
tentar ter a cabeça de um estudante", escreve. "Reinventar-me esquecendo completamente que eu tive uma carreira no
cinema; em vez disso, sonhar
em ter uma." Pois é o que ele
pretende fazer com "Youth without Youth" (juventude sem
juventude), seu primeiro longa
em uma década.
Na semana passada, o diretor
se encontrou com 600 estudantes da Universidade da Califórnia, fãs e alguns jornalistas
em Los Angeles. A ocasião era o
lançamento do pacote de DVDs
"Apocalypse Now - The Complete Dossier". Aproveitou para
dizer em que pé anda o novo
longa. Baseado no conto homônimo do escritor romeno Mircea Eliade (1907-1986), avança
pela 2ª Guerra ao contar a história de um professor (Bruno
Ganz), que, eletrocutado por
um raio, volta à juventude.
Coppola contou que ficou
anos se debatendo com um
projeto de orçamento altíssimo
-a refilmagem de "Metrópolis", o clássico de Fritz Lang de
1927- mas que finalmente desistiu ao ver sua filha, Sofia, 35,
fazendo filmes como "Encontros e Desencontros" (2003),
criativos e baratos. Resolveu
então ele mesmo se reinventar
e pensar "com a cabeça de um
estudante", como escreve nos
três textos nos diários de produção do filme.
Daí a idéia do longa de baixo
orçamento (US$ 5 milhões), todo feito na Romênia em tecnologia digital. "Em quatro anos,
ninguém mais vai estar filmando em celulóide", previu no encontro de Los Angeles. Agora,
ele volta a Bucareste para terminar a montagem de "Youth",
fazer mais dois ou três planos e
diminuir a duração (atualmente, 2h46). De lá, só volta com o
filme pronto, o que deve acontecer até dezembro.
O que ele fará a seguir? Já escreveu 40 páginas de um roteiro original, mas acha que não
tem talento para a profissão
(roteirista). Odiou o videogame
baseado na trilogia "O Poderoso Chefão" e odiou ainda mais o
fato de só ter sido avisado quando o jogo já estava pronto.
"Nunca mais ouvi falar, acho
que foi um fracasso e espero
mesmo que tenha sido."
Por fim, deu seu conselho... à
juventude. "Construam algo a
partir do que fizeram as pessoas que vieram antes de vocês.
Eles viveram para que vocês
possam fazer uso da experiência, e os que virão depois de vocês farão uso da sua experiência." Isso, disse Coppola, 67, "é
imortalidade".
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