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Polêmico "Anticristo" estreia hoje sem cortes
Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe são casal em crise após morte do filho
Conteúdo polêmico fez diretor criar nova versão do filme para distribuição em alguns mercados; no Brasil, será exibida cópia original
Divulgação
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Charlotte Gainsbourg e o diretor Lars von Trier preparam cena do longa, que rendeu à atriz prêmio no Festival de Cannes 2009
GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
Obra-prima ou disparate; retrato da natureza humana ou
exibição gratuita de sofrimento. Inundado de polêmica, "Anticristo" estreia hoje no Brasil.
Exibido pela primeira vez em
maio, no Festival de Cannes, o
longa de horror de Lars von
Trier foi o divisor de águas do
evento por suas cenas de sexo
explícito, tortura e mutilação.
O filme foi a oitava indicação
do dinamarquês a Palma de
Ouro, e a terceira após a vitória
por "Dançando no Escuro"
(2000). O diretor de 53 anos
também dirigiu "Dogville" (03)
e ajudou a criar o hoje extinto
manifesto Dogma, por um cinema sem artifícios, com o qual
fez "Os Idiotas" (98).
O novo trabalho não foi o escolhido do júri de Cannes, mas
Charlotte Gainsbourg ficou
com o prêmio de melhor atriz.
Entre os agradecimentos, ela
fez questão de mencionar o pai,
o compositor francês Charles:
"Espero que ele esteja orgulhoso de mim. Orgulhoso e muito
chocado", disse, cheia de ironia.
O filme acompanha a história
de um casal (Willem Dafoe,
Charlotte Gainsbourg) em recuperação após a morte trágica
do único filho. Como uma espécie de terapia, se retiram da cidade em direção a uma isolada
cabana na floresta, um local
chamado Éden, onde religião,
desejo, poder e culpa são costurados aos poucos.
Bastante antirrealista -um
animal fala- e sobrecarregado
de símbolos medievais de feitiçaria, o filme faz da força da natureza um de seus temas emblemáticos. "Nature is satan's
church" [a natureza é a igreja
de Satã], diz um dos bordões
emblemáticos do roteiro.
À medida que a natureza vai
se mostrando selvagem, a
crueldade humana também se
revela. A violência das cenas é
tamanha que obrigou Von
Trier a preparar uma versão
"católica" do filme para distribuição nos EUA e em algumas
regiões do Leste Europeu e
Ásia. No Brasil, será exibido
sem cortes.
Vaias e risos
Os trechos realmente fortes
estão entre o meio e o final do
filme. Num momento de terror,
o personagem de Gainsbourg
fura a perna de seu companheiro com uma broca. Impedido
de andar, ele terá de se arrastar
para tentar fugir da cabana. No
Festival de Cannes, a plateia assistiu ao martírio entre vaias,
risos e aplausos.
Tão ou mais controverso é o
momento em que a câmera enquadra a atriz cortando seu
próprio clitóris com uma tesoura. "C'est affreux!" [é horrível], gritou uma mulher na sala
de cinema. Boa parte da audiência abaixou a cabeça sem
força para olhar. Mas, apesar
das manifestações, poucos foram os que saíram no meio.
No evento de divulgação de
"Anticristo", na cidade francesa, do qual a Folha participou,
Gainsbourg e Von Trier receberam os jornalistas estrangeiros. Ali, falaram sobre as dificuldades da produção.
O diretor, que chega a tremer
na hora de falar ou passa longos minutos em silêncio, declarou que fez "Anticristo" tentando se livrar da depressão
que há meses lhe prendia à cama e advertiu: se recusa a "explicar" seu filme [leia abaixo].
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