São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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Polêmico "Anticristo" estreia hoje sem cortes

Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe são casal em crise após morte do filho

Conteúdo polêmico fez diretor criar nova versão do filme para distribuição em alguns mercados; no Brasil, será exibida cópia original

Divulgação
Charlotte Gainsbourg e o diretor Lars von Trier preparam cena do longa, que rendeu à atriz prêmio no Festival de Cannes 2009

GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Obra-prima ou disparate; retrato da natureza humana ou exibição gratuita de sofrimento. Inundado de polêmica, "Anticristo" estreia hoje no Brasil. Exibido pela primeira vez em maio, no Festival de Cannes, o longa de horror de Lars von Trier foi o divisor de águas do evento por suas cenas de sexo explícito, tortura e mutilação.
O filme foi a oitava indicação do dinamarquês a Palma de Ouro, e a terceira após a vitória por "Dançando no Escuro" (2000). O diretor de 53 anos também dirigiu "Dogville" (03) e ajudou a criar o hoje extinto manifesto Dogma, por um cinema sem artifícios, com o qual fez "Os Idiotas" (98).
O novo trabalho não foi o escolhido do júri de Cannes, mas Charlotte Gainsbourg ficou com o prêmio de melhor atriz. Entre os agradecimentos, ela fez questão de mencionar o pai, o compositor francês Charles: "Espero que ele esteja orgulhoso de mim. Orgulhoso e muito chocado", disse, cheia de ironia.
O filme acompanha a história de um casal (Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg) em recuperação após a morte trágica do único filho. Como uma espécie de terapia, se retiram da cidade em direção a uma isolada cabana na floresta, um local chamado Éden, onde religião, desejo, poder e culpa são costurados aos poucos.
Bastante antirrealista -um animal fala- e sobrecarregado de símbolos medievais de feitiçaria, o filme faz da força da natureza um de seus temas emblemáticos. "Nature is satan's church" [a natureza é a igreja de Satã], diz um dos bordões emblemáticos do roteiro.
À medida que a natureza vai se mostrando selvagem, a crueldade humana também se revela. A violência das cenas é tamanha que obrigou Von Trier a preparar uma versão "católica" do filme para distribuição nos EUA e em algumas regiões do Leste Europeu e Ásia. No Brasil, será exibido sem cortes.

Vaias e risos
Os trechos realmente fortes estão entre o meio e o final do filme. Num momento de terror, o personagem de Gainsbourg fura a perna de seu companheiro com uma broca. Impedido de andar, ele terá de se arrastar para tentar fugir da cabana. No Festival de Cannes, a plateia assistiu ao martírio entre vaias, risos e aplausos.
Tão ou mais controverso é o momento em que a câmera enquadra a atriz cortando seu próprio clitóris com uma tesoura. "C'est affreux!" [é horrível], gritou uma mulher na sala de cinema. Boa parte da audiência abaixou a cabeça sem força para olhar. Mas, apesar das manifestações, poucos foram os que saíram no meio.
No evento de divulgação de "Anticristo", na cidade francesa, do qual a Folha participou, Gainsbourg e Von Trier receberam os jornalistas estrangeiros. Ali, falaram sobre as dificuldades da produção.
O diretor, que chega a tremer na hora de falar ou passa longos minutos em silêncio, declarou que fez "Anticristo" tentando se livrar da depressão que há meses lhe prendia à cama e advertiu: se recusa a "explicar" seu filme [leia abaixo].


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