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NÃO GOSTEI
Crítica/ "Anticristo'/ Péssimo
Sensação é de constrangimento palpável
EDUARDO VALENTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No prólogo que abre
"Anticristo", o tom solene e hiperestilizado
criado pela fotografia em preto
e branco, o uso da câmera lenta
e da música de Handel fazem o
espectador se perguntar sinceramente se há ou não um desejo latente de fazer daquilo tudo
uma ironia com algumas imagens clichê, principalmente de
matriz publicitária.
Enquanto persiste essa dúvida, há no filme um saudável incômodo. Infelizmente, a partir
do momento em que migra para o ambiente da floresta onde
passa maior parte da sua duração, a sensação que domina
"Anticristo" é mesmo a de um
constrangimento palpável.
Marcado acima de tudo por
um tom autoimportante em cada um dos seus planos, "Anticristo" parece tristemente inconsciente de quão rasa é sua
força simbólica, da obviedade
extrema de suas implicações
existenciais e filosóficas ou do
quanto leva a sério alguns dos
diálogos mais constrangedoramente patéticos do cinema recente -isso sem entrarmos no
já mais que batido assunto de
descarada e inegável misoginia
ou da presença de uma certa raposa falante.
Embora o diretor aspire a um
diálogo direto com o cinema de
horror, "Anticristo" padece sobretudo da incapacidade em
criar uma sensação palpável de
real perigo ou tensão, apelando
sempre que possível para imagens pretensamente chocantes
(mas, no fundo, simplesmente
moralistas) e frases de efeito.
Se consegue uma entrega
bastante completa de seu casal
de atores, o filme não chega a
permitir que os mesmos construam seus personagens para
além de arquétipos bastante
simplórios com os quais se pretende discutir os papéis do
masculino e do feminino.
Para os muito pudicos, o filme certamente é garantia de
polêmica e choque, mas de fato
a triste constatação com que ele
nos deixa é a da perda de relevância de um cineasta que já foi
capaz de criar incômodo verdadeiro a partir da manipulação
da matéria cinematográfica
(em filmes como "Dançando no
Escuro", "Ondas do Destino"
ou "Os Idiotas").
Famoso pela personalidade
confrontadora e polêmica,
sempre capaz de mobilizar a
mídia, Lars von Trier parece ter
se tornado, tal e qual o prólogo
deste seu novo filme, um inconsciente pastiche de si mesmo. Restam agora apenas os
elementos do marketing e da
polêmica fácil, sem nenhuma
substância artística.
Pretenso "anticristo" do cinema mundial, o realizador dinamarquês passa aqui a sensação de ser pouco mais do que
um menino malcriado tentando desesperadamente chamar
a atenção com gritos ofensivos
num almoço de família. Pode
até conseguir atenção por alguns momentos, mas no fundo
não há nada de revolucionário.
Avaliação: péssimo
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