O escritor norte-americano é uma das figuras famosas que aparecem no romance político "Cuerpos Divinos"

Viúva do autor e organizadora de suas obras, Miriam Cabrera Infante prefere não falar mais sobre Cuba

DA EDITORA DA ILUSTRADA

Uma das passagens mais interessantes de "Cuerpos Divinos" é a que narra um dos encontros do autor com Ernest Hemingway ("O Sol Também se Levanta"), que viveu na ilha nesse período.
Escalado para fazer uma reportagem sobre as filmagens de um dos livros mais famosos do norte-americano, "O Velho e o Mar", Cabrera Infante relata o dia em que saiu com Hemingway e a equipe de filmagem para o alto-mar, na tentativa de fazer uma pesca.
Hemingway é retratado de forma quase folclórica, como um beberrão, sempre com uma garrafa de vodca debaixo do braço, mal acostumado com o sol (vivia muito vermelho) e que falava espanhol bastante mal. Isso, inclusive, levou o cubano a desconfiar de seus famosos relatos da Espanha: "Deduzi que todo seu conhecimento de touros e de touradas era de segunda mão".

NO BRASIL
Com Fidel já empossado, Cabrera Infante faz algumas viagens acompanhando a equipe do governo. E uma delas é justamente ao Brasil, em 1959, onde o líder cubano encontra o então presidente brasileiro Juscelino Kubitschek.
Ainda nessa passagem, Cabrera Infante encontra Oscar Niemeyer, que o assusta dizendo que ainda era preciso matar cobras em Brasília antes de habitá-la. Já no Rio, conta ter visto um show de Maysa, e saído com amigos para procurar prostitutas em um bordel na periferia da cidade.

MULHERES
Miriam Cabrera Infante diz que encarou bem a tarefa de editar um livro em que o marido contava tantas aventuras sexuais. "Quando Guillermo me deu a pilha de papéis, pensei "como vou enfrentar isso? Como vão aparecer as outras? Como vou aparecer eu?" Mas Guillermo era um homem de muitas mulheres e eu sempre soube disso. Tenho 70 anos, já não há nada que possa me impressionar."
Miriam ainda vive na casa em que os dois moraram em Londres e que foi por muito tempo uma espécie de ponto de encontro de artistas e intelectuais cubanos no exílio. Ainda que o casal tivesse alimentado a esperança de voltar à Cuba depois da morte de Fidel, Miriam evita falar da ilha hoje. "Eu prefiro mudar de assunto, tudo o que ouço ou leio sobre Cuba me deixa horrorizada." (SYLVIA COLOMBO)