São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

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MÔNICA BERGAMO
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A NOVA CLASSE C

Os pet shops viram hit na periferia: com mais dinheiro, a classe média também começa a encher seus bichos de mimos

Letícia Moreira/Folhapress
Jhessey faz chapinha na maltês Meg no pet de sua mãe, em Vila Matilde

A mania por pet shops pegou na periferia de SP. Depois de melhorar de vida, a chamada nova classe média passou a dar aos cachorros mimos pelos quais antes não podia pagar. O resultado é a proliferação de lojas do ramo. Em três anos, o número quase quadruplicou no Estado -saltou de 373 para 1.763, relata a repórter Thais Bilenky. Na capital, são hoje 572.
 

"Qualquer coisinha, sujou a pata, os clientes mandam o cão para tomar banho na loja", conta Glauber Alves, 29, dono do Lar do Dog, na Vila Nova Sílvia, na zona leste. "Antigamente, não era assim. As pessoas estão gastando mais com os bichos." Ele abriu sua primeira loja há sete anos. O negócio cresceu no ritmo da economia. Há cinco meses, inaugurou filial na Penha. Até o fim do ano, quer lançar a terceira unidade, nas redondezas da matriz.
 

Glauber estudou só até a 6ª série. Filho de um cozinheiro da Varig e de uma manicure, começou a trabalhar aos sete anos, como empacotador do supermercado Heloisa, em Cidade Patriarca, onde morava. Com 18, vendia ração de cachorro. Ganhava R$ 5.000 por mês. Em quatro anos, juntou R$ 10 mil. E resolveu abrir um pet shop. Hoje, numa casa alugada de três cômodos, atende até 200 bichos por dia e fatura R$ 25 mil por mês. Fica com o lucro, de R$ 10 mil. Busca cães, gatos e pássaros em suas casas, numa van -o táxi dog. "Melhor do que a vida está hoje, é difícil."
 

A analista de sistemas Priscila Ribeiro, 36, se casou há 15 anos. Não viajou de lua de mel porque tinha dívidas. Nos últimos anos, quitou os débitos, mobiliou a casa e realizou seu sonho: passear. Conheceu todo o Nordeste e a região Sul. Só então, há três anos, comprou Pipoca, seu maltês. "Esperei ter um pouco mais de dinheiro", diz.
 

Hoje, pode dar a ele tudo do bom e do melhor. Aos sábados, leva Pipoca para tomar banho e tosar o pelo no pet shop Twin, em Ermelino Matarazzo, onde mora com o marido (eles não têm filhos). Gasta R$ 150 por mês. Os cachorros que teve na infância não gozaram da mesma sorte. Tomavam banho de esguicho no quintal. Seu pai, bancário, e a mãe, dona de casa, "não tinham dinheiro. A vida era bem mais apertada".
 

A dona do pet Twin, Mônica de Oliveira, 38, pediu empréstimo de R$ 95 mil a uma amiga, há cinco anos, para comprar um imóvel e abrir o negócio. "Ainda estou pagando, mas hoje eu tenho mais confiança."
Apesar da concorrência de outros cinco pets que abriram na vizinhança, ela diz que vê "o resultado do que investi. O Brasil é um dos países que mais crescem no ramo pet."
 

Carlos Alberto Santos, diretor do Sebrae, afirma que "o serviço se expande nas regiões de menor renda na medida em que aumenta o dinheiro da população". Andrea Matarazzo reparou nos pets quando foi secretário das Subprefeituras, de 2006 a 2009. "Eles estão ocupando o lugar dos cabeleireiros na periferia."
 

A corretora de imóveis Benê Gonçalves, 59, leva Juju, sua lhasa apso, todo sábado ao Twin. A cadela passa até quatro horas lá. Toma banho, tosa o pelo, faz hidratação, escova os dentes, "tudo o que tem direito", diz a dona, que gasta R$ 350 por mês no "salão" -e mais R$ 64 por 2,5 quilos de ração importada.
 

O pastor alemão de Benê, que morreu há sete anos, tomava banho em casa e secava no quintal. "A gente gastava o básico."
 

Um dos programas de Benê é levar Juju para passear no Pet Center Marginal para ver as novidades. E só. "Lá, uma coleira custa R$ 70. Não compro, é muito dinheiro. Minha filha outro dia comprou uma almofada de R$ 114. Ela é louca!"
 

Há dois anos, Fabiana Farabotti vendeu o carro, um New Civic, e um apartamento para abrir o Meu Pet É Um Show, na Vila Matilde, e uma unidade em Taubaté (SP). Fatura R$ 70 mil por mês e faz retirada mensal de R$ 15 mil. Antes, era vendedora de carro e ganhava um salário de R$ 10 mil.
 

"Sou ousada, confio em mim", diz. "Eu pensava alto." Está "muito mais feliz". "Posso chegar tarde, coordeno os funcionários, faço as compras. Não gosto de miséria, de loja pobre. Gosto de tudo farto. E das melhores marcas."
 

"Aqui, a clientela é fiel, não dá calote, todos se conhecem pelo nome", diz a veterinária Jose Pereira. Alguns animais, às vezes, chegam "embolados, há meses sem tomar banho, com micose, sarna e alergia. Nos Jardins, se tiver pulga, nem entra. Aqui, se quiser, o dono pode até participar do banho".
 

A demanda é alta, os preços sobem. "Banho e tosa custavam R$ 5. Agora, R$ 25", diz Jhessey, 16, filha de Fabiana (no Au Pet Store, nos Jardins, banho e tosa custam R$ 115). O tingimento custa R$ 25. Jhessey pinta Meg, sua maltês branca, de rosa-choque. E ainda faz hidratação e chapinha.


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