São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Doente sente obrigação imperativa de guardar coisas

JAIRO BOUER
COLUNISTA DA FOLHA

Acumuladores não são simples colecionadores. Guardam quase tudo o que cair em suas mãos. Nada em comum com o processo criterioso e seletivo de quem adquire objetos para uma coleção.
À distância, podem parecer pessoas sistemáticas, peculiares, que transformam seus lares em depósitos.
O espaço da casa vai sendo ocupado por uma enxurrada de pertences dos quais não conseguem se desfazer.
E é justamente essa sensação de "não poder se desfazer de nada" que caracteriza um transtorno.
Acumuladores têm uma doença ou distúrbio que se aloja no vasto guarda-chuva dos transtornos obsessivo-compulsivos e de controle do impulso.
Na profundidade dos conflitos emocionais, não guardam porque querem; acumulam porque não podem se livrar de nada. É uma sensação de obrigação, imperativa.
Nos casos mais extremos, há dificuldade até em se locomover na casa, cuidar da saúde e da higiene e viver com um mínimo de conforto.
Muitas vezes, o "acumulador patológico" tem outros sintomas, como transtornos de ansiedade e depressão.
A ideia ou o desejo de jogar algo fora gera medo, insegurança, ansiedade; como se a ordem natural das coisas dependesse da manutenção de tudo o que os cerca.
Temor de doença, ruína, perda do controle, catástrofe: tudo isso pode se associar à possibilidade de ficar longe de um objeto que guarde.
E não é necessário que esse objeto tenha valor. Embalagens, caixas velhas, papéis usados, canetas que não funcionam, peças de carro, tudo isso pode ocupar metros e mais metros quadrados da área útil de suas casas.
Raramente chegam ao consultório de psiquiatras e psicólogos, porque não se consideram anormais. Na pior das hipóteses, um pouco diferentes. Há alguns anos, gravando o quadro "Quem É Normal?", para o "Fantástico", tive a oportunidade de conhecer acumuladores.
Na análise de suas emoções, apareciam conflitos como receio de se frustrar, medo de rejeição, abandono na infância, entre outros. Alguns traços obsessivos também ficavam evidentes.
"Acumuladores" parece retratar essa intimidade com mais detalhes, "invadir" a casa dos acumuladores e planejar uma "faxina". Pode ser uma boa oportunidade de entender como funciona a cabeça dessas pessoas e que caminhos existem para tentar lidar com a doença.


Texto Anterior: Programa de maluco
Próximo Texto: 'TV não é lugar para diagnóstico', diz médico
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.