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Depois da mulata, negro vira 'homem-objeto'
da Reportagem Local
Depois da Globeleza, símbolo da
forma como são apresentadas as
mulatas e negras na TV, chegou a
vez de os negros serem mostrados
como objetos de desejo.
Um dos aspectos que mais chamou a atenção dos pesquisadores
da USP foi o novo tratamento dado a jovens atores negros.
Construiu-se o estereótipo do
negro "homem-objeto" -bonito, sensual, cuja beleza é explorada da mesma forma como são exploradas a beleza e a sensualidade
das mulheres negras ou mulatas.
Um exemplo disso foi o papel vivido por Norton Nascimento na
novela "A Próxima Vítima" (95),
de Silvio Abreu. Na trama, ele namora uma mulher branca, mais
velha (Mila Moreira), que não
quer ter um relacionamento estável com ele, só namorá-lo.
"As novelas em geral, ao retratarem mulatas, reforçam a visão
estereotipada de mulheres boazudas e sensuais. Agora, isso também passou a valer para os homens negros", diz Solange Couceiro de Lima, professora da ECA.
Nem sempre uma manifestação
racista é resultado da criação do
autor da novela. Às vezes, aparece
como consequência do trabalho
de outros profissionais.
Na novela "Fera Ferida", de
Aguinaldo Silva, por exemplo, a
personagem Clara era uma adolescente criada com muitos cuidados
pela família para ser a líder de uma
irmandade de mulheres negras.
A música que servia como tema
para ela -e que não foi escolhida
pelo autor da história- era "Da
Cor de Pecado", um samba-choro
de Bororó, de 1939, cujos primeiros versos dizem: "Esse corpo
moreno, cheiroso e gostoso que
você tem é um corpo delgado, da
cor do pecado, que faz tão bem".
"É um preconceito mostrado de
forma muito sutil. A personagem
não era sensual, era uma adolescente virgem -por que essa música, então?", pergunta Solange.
Outro indicador interessante das
manifestações de preconceito é a
frequência com que se muda a trama no que se refere a um personagem negro. A história parece caminhar para um determinado desfecho, mas de repente ela muda de
rumo -e o negro ou a negra desaparece da novela ou não se cumpre o que tinha sido antecipado
pelos próprios personagens.
Um exemplo recente aconteceu
na novela "Por Amor", em que
havia um casal com um branco
(Paulo César Grande) e uma negra
(Maria Ceiça). Ela queria ter um
filho; ele, não, exatamente pelo
medo de ter um filho que não fosse
branco. Depois de muitas brigas e
de abortos provocados, acabam
tendo uma filha, que nasce loira.
Em várias ocasiões, eles conversam sobre ter outro filho -que
nunca nasceu-, que seria mulato
como deixou entender o autor.
Solange está terminando de escrever um relatório sobre seus estudos para a Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo), que financiou parcialmente a pesquisa. O estudo faz
parte dos projetos do Núcleo de
Pesquisas de Telenovela da ECA.
(CGF)
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